Publicado em 26 de fevereiro de 2018 às 23:26
Como um fato ocorrido em apenas sete segundos pode mudar completamente a vida de várias pessoas, sem conexão nenhuma, ao mesmo tempo? Assim começa Seven Seconds, nova série original da Netflix que estreou na última sexta-feira (23) e é baseada no filme russo The Major (2013).
No drama pesadíssimo criado por Veena Sud, nome por trás da excelente The Killing (2011-2014) também disponível na plataforma de streaming , o jovem policial da divisão de narcóticos Peter Jablonski (Beau Knapp) atropela, acidentalmente um adolescente em uma bicicleta ao passar por um parque coberto pela neve em Nova Jersey (pano de fundo da trama). Após ver o que realmente tinha atingido com sua SUV, o agente toma uma decisão que muda toda a sua vida: em vez de ligar para a polícia, ele chama seu chefe, Mike DiAngelo (David Lyons), que vai até ao local junto a outros agentes de sua enxuta equipe.
Ao olhar o corpo do jovem na vala, DiAngelo e os demais chegam a duas conclusões: ele está morto e, por ser negro e possuir uma bicicleta cara, supostamente fazia parte de uma gangue. Resolvem, então, que Jablonski deve abandonar o local e acobertam o crime cometido pelo policial.
Outro lado
Nos primeiros 40 minutos do episódio piloto, somos apresentados ainda a outros personagens, como os pais da vítima, Latrice e Isaiah Butler (Regina King e Russell Hornsby, respectivamente) e à assistente de promotoria KJ Harper (Clare-Hope Ashitey), que assume o caso ao lado do detetive Fish Rinaldi (Michael Mosley).
A série, aliás, já tem seu primeiro acerto na apresentação desses personagens: o espectador conhece, pouco a pouco e de forma surpreendente, o papel de cada um na trama. Nem todo seriado consegue uma introdução inteligente como a que vemos em Seven Seconds.
Temas
O fato de um policial branco atropelar um jovem negro já expõe o primeiro tema tratado na produção: a questão racial e a tensão entre negros e brancos nos Estados Unidos. Já vimos isso de forma mais aprofundada em outras séries, como na obra-prima The Wire (exibida entre 2002 e 2008 pela HBO), fonte da qual Veena Sud e companhia podem ter bebido perfeitamente.
Criminalidade, corrupção na polícia, justiça, impunidade e a maldade do ser humano: tudo tem seu espaço em Seven Seconds, que a partir do terceiro episódio explora ainda mais as histórias individuais de cada personagens, suas vidas e seus problemas. A trama tem momentos por vezes chocantes quem se lembra de Peekaboo, sexto episódio da segunda temporada de Breaking Bad, em que Jesse encontra uma criança abandonada numa casa de viciados? Quem assistiu vai entender a referência em Seven Seconds.
Além disso, o roteiro, com reviravoltas dentro do limite aceitável, brinca o tempo todo com o espectador a respeito da natureza dos personagens: quem é bom realmente é bom? Será que ele é tão mau assim?
Outro ponto positivo da série é que, diferentemente do que acontece em The Killing a comparação mais óbvia , a trama é aos poucos solucionada e a série apresenta uma conclusão ao término de seus 10 episódios. Pode não ser o final esperado pelos espectadores, mas é algo que condiz com a realidade que a história tenta representar. Há quem torça para uma segunda temporada, mas talvez seja melhor que não tenha. Afinal, Seven Seconds não é sobre heróis nem finais felizes.
O que assistir após Seven Seconds
Uma dica para maratonar após Seven Seconds é a série The Killing, que também está na Netflix ambas são da mesma criadora, Veena Sud. Vale a pena também conferir duas produções das quais Regina King, uma das atrizes de Seven Seconds, faz parte: The Leftovers (veja na HBO GO) e American Crime (primeira temporada na Netflix). A última, aliás, rendeu dois Emmy a King.
Confira abaixo o trailer de "Seven Seconds":
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