Não houve um planejamento prévio e muito menos uma superprodução. Bastou a combinação de uma veia poética ainda pulsante e um olhar mais atento para a simplicidade da vida para que Sérgio Blank decidisse dividir com o público suas anotações despretensiosas. Depois de um hiato de 23 anos desde a última obra inédita, Vírgula (1996), Blank brinda os leitores com Blue Sutil, seu sétimo livro. O lançamento acontece às 19h da próxima segunda-feira (11), na Cafeteria Carnielli do Hortomercado da Praia do Suá, em Vitória.
Durante as mais de duas décadas em que ficou sem publicar, Blank dizia que não voltaria à ativa. Pelo menos não nesse sentido. Apesar de seguir trabalhando com a literatura em outra direção na produção de oficinas, por exemplo lançar novos poemas estava fora de cogitação.
Meu discurso era de não voltar a escrever. Por que esse hiato? é uma pergunta que tenho recebido esses anos todos e que não sei responder. A resposta que dou é que simplesmente não aconteceu, descreve.
Mas o destino o contrariou ao dar a ele uma espécie de aposentadoria forçada e precoce. Há seis anos enfrentando problemas de saúde decorrentes de uma cirrose hepática, o escritor precisou dedicar grande parte do tempo à sua cura.
O período em que ficou sem trabalhar e viveu como um ermitão como ele descreve acabou fazendo com que Sérgio enxergasse no dia a dia e na simplicidade da vida a inspiração.
Esse isolamento me trouxe um novo olhar para as coisas, para as pessoas. De dois anos para cá, comecei a fazer alguma anotações despretensiosas. Chegou um momento em que percebi que tinha um livro. Blue Sutil é fruto disso. É a busca de suavidade, serenidade, afetividade. Afeto é a melhor palavra para defini-lo, explicou.
O termômetro para a nova obra veio de um universo não tão comum ao escritor: a internet. Os poemas que compõem o livro foram antes publicados nas redes sociais e a repercussão deu a ele o empurrãozinho necessário para encerrar o hiato.
Na internet tive a oportunidade de ter uma resposta imediata, muito sincera. O leque de pessoas que leu é muito grande, e a receptividade foi muito boa. Isso me estimulou a publicá-lo, lembra.
Apesar dos mais de 20 anos de espera, Blank prefere que Blue Sutil seja lembrado por uma outra data: este ano o autor comemora 35 anos dedicados à literatura. Seu primeiro livro, Estilo de Ser Assim, Tampouco, foi publicado em 1984.
É um brinde que estou dando aos meus leitores se eles ainda existem e aos meus amigos, brinca.
PRODUTO CASEIRO
Com 67 páginas de poemas em prosa que expressam algumas memórias de Blank, Blue Sutil carrega a marca de um produto caseiro, produzido com calma, cuidado e afeto, com a edição do próprio autor. Foi uma coisa despretensiosa, todo o projeto. Eu não quis procurar editora, não quis me submeter a nenhum concurso. Achei que eu poderia fazer por conta própria, por ter certa experiência como editor, disse.
Até a diagramação das páginas e a idealização capa toda em azul, contendo apenas o nome do autor e o título foram pensadas para proporcionar um ar de simplicidade e de retorno às origens, conta o autor.
O poeta conta que depois de dois anos inteiramente dedicados aos cuidados com a saúde, há quatro ele conseguiu voltar a pensar no mundo dos livros.
Entre 2017 e 2018, ele organizou o projeto Por que você escreve?, uma série de encontros literários com artistas que respondiam à pergunta.
Agora, o escritor tem um novo projeto em mente, A Máquina de Escrever. O objetivo é organizar novos encontros literários, mas abrangendo a presença de outros personagens ligados a esse universo, como livreiros, bibliotecários, donos de gráfica, escritores e leitores.
LIVROS
Ao todo, Sérgio Blank tem seis obras publicadas antes de Blue Sutil: a infantil Safira (1989) e também Poesia: Estilo de ser assim, tampouco (1984); Pus (1987); Um, (1988); A Tabela Periódica (1993) e Vírgula (1996). Os dias ímpares toda poesia (2011), reúne os cinco títulos anteriores.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta