Publicado em 14 de maio de 2018 às 18:59
Após uma trama tensa e regada a vingança e reviravoltas deixada por "O Outro Lado do Paraíso", João Emanuel Carneiro tem uma batata quente na mão. O autor estreia "Segundo Sol", nesta segunda-feira, com a responsabilidade de manter a audiência ou repetir o sucesso de "Avenida Brasil" (2012), algo que não conseguiu com "A Regra do Jogo" (2015).>
A novela é um "sucesso", pelo menos nas redes sociais. Tudo porque antes de estrear, a produção causou burburinho e discussões que seguem há, pelo menos, um ano - desde quando os atores foram anunciados. O motivo: o branqueamento do elenco.>
As primeiras chamadas para promover "Segundo Sol" não tiveram o efeito desejado, uma vez que os internautas estranharam que uma trama que terá a Bahia como cenário conte com um elenco formado majoritariamente por atores brancos. Apenas um ator negro, Fabrício Boliveira, apareceu com algum destaque nas cenas exibidas.>
Antes disso, um grupo de atores baianos reclamou que os protagonistas - Giovanna Antonelli (Luzia) e Emílio Dantas (Beto Falcão) - para a trama, que se passa em Salvador e no interior da Bahia, eram brancos, ficando apenas papeis de figurantes aos atores locais. A situação ficou tão feia que, segundo o colunista Leo Dias, a Globo reuniu o elenco no início do mês para falar sobre o assunto. A emissora negou o fato.>
>
Até o Ministério Público do Trabalho do Rio de Janeiro (MPT-RJ) notificou a Rede Globo, na última sexta-feira (11), pela falta de representação racial em novela. A notificação, de teor recomendatório, aponta 14 exigências que devem ser cumpridas pela Rede Globo nos próximos dias.>
Em relação à novela, a emissora deverá realizar mudanças no roteiro para "assegurar a participação de atores e atrizes negros e negras" e promover a "representação étnico-racial da sociedade brasileira, especialmente em cenários de população predominantemente negra'. Outras recomendações feitas pelo MPT-RJ incluem a elaboração de um Plano de Ação para inclusão e igualdade de oportunidades para a população negra, a realização de um censo entre trabalhadores com recorte de raça/cor e gênero e também um levantamento do número de artistas, jornalistas e comentaristas negros que atuam na emissora. >
O Ministério Público concedeu prazo de dez dias para a comprovação de mudanças no caso relativo à novela e 45 dias para as demais recomendações. Caso a Rede Globo não cumpra, o órgão alerta que poderá ajuizar ação judicial.>
OUTRO LADO>
Por meio de nota, a Comunicação da Globo afirma que recebeu a nota do Ministério Público e que respeita a diversidade e repudia qualquer tipo de preconceito. "Recebemos na data de ontem (sexta-feira, 11) a Nota Recomendatória do Ministério Público do Trabalho, mas reafirmamos que a Globo respeita a diversidade e repudia qualquer tipo de preconceito e discriminação, inclusive o racial", escreveu a assessoria da emissora.>
O chamado whitewashing, que significa substituir personagens fictícios ou históricos, de etnia estrangeira, não é algo novo. Por sinal, essa é a segunda vez que a Globo passa por uma onda forte que luta contra esse movimento.>
Em "Sol Nascente" (2016), a mesma polêmica aconteceu pois a família Tanaka, de imigrantes japoneses, não era interpretada por atores de ascendência japonesa, mas sim por brancos, o que incomodou o público. O episódio se enquandrou no "yellowface", episódio similar ao dos negros, porém se trocou asiáticos por brancos.>
A principal revolta - e mais clara - estava na figura do patriarca, vivido por Luís Melo, que mal tem os olhos puxados. Na época, a justificativa emitida pela emissora foi a suposta falta de atores japoneses de peso, o que desagradou a comunidade nipônica e motivou até boicotes à novela, acusada de racista.>
Hoje, a emissora parece não ligar tanto para as críticas - afinal, não faltam atores negros no Brasil. Prova está na nota enviada pela comunicação da Globo para o colunista Maurício Stycer: "Os critérios de escalação de uma novela são técnicos e artísticos. A Globo não pauta as escalações de suas obras por cor de pele, mas pela adequação ao perfil do personagem, talento e disponibilidade do elenco. E acredita que esta é a forma mais correta de fazer isso", diz o texto.>
Já o diretor da trama, Dennis Carvalho, resolveu colocar panos quentes na polêmica, durante entrevista no lançamento de "Segundo Sol". "A escalação é um processo que me interessa muito porque amo dirigir atores. Para essa novela, há gente de diversos cantos do país, com destaque para os baianos. Fizemos uma longa pesquisa na Bahia. Além dos talentos já conhecidos do grande público, como Fabrício Boliveira e Vladimir Brichta, trouxemos - só para citar um nome, há outros - uma grande dama do teatro baiano, a Claudia Di Moura, no papel da Zefa, bem importante na história. Também conto com uma turma com que já trabalhei outras vezes e outros que estão estreando comigo", disse.>
Mas o branqueamento de elenco, infelizmente, é uma coisa comum em Hollywood desde a época de Carmem Miranda - sendo uma portuguesa fazendo o papel de uma baiana - e do famoso "blackface", quando atores brancos pintavam a cara para viverem negros. Mesmo com tantos embates, outras obras seguem fazendo o mesmo. Confira algumas obras que não passaram em branco aos olhos do público, que fez cobranças e gerou muito textão na internet.>
Sol Nascente (2016)>
A escolha do elenco de "Sol Nascente" incomodou o público desde o anúncio do elenco. O motivo estava na família Tanaka. O núcleo protagonista da trama era retratado como imigrantes japoneses, porém não foi interpretado por atores de ascendência japonesa, mas sim por brancos. O mais criticado foi Luís Melo, que é filho de uma índia com um italiano e que tem mal tem os olhos puxados, escalado para ser o patriarca da família vindo do Japão.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta