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Rapper da Serra, Alien MC prepara lançamento de EP no Youtube

Rapper da Serra, Alien MC prepara lançamento de EP no Youtube

São seis faixas em ritmo de trap. As músicas fazem denúncias contra a violência e o descaso público que passam os moradores das periferias das grandes cidades

Publicado em 25 de abril de 2019 às 20:52

Magno Maris, conhecido como Alien MC, lançará uma mixtape na primeira quinzena de maio Crédito: Marcelo Prest

Você sabe o que é trap? Espécie de "filho" do rap, o gênero musical nasceu na periferia americana no início dos anos 2000 e logo caiu nas graças de famosos como o DJ Baauer, autor do hit "Harlem Shake"; Diplo (que já trabalhou com Anitta e Pablo Vittar) e Tropkillaz. A ideia era inovar o ritmo jamaicano com arranjos eletrônicos e onomatopeias (figura de linguagem que reproduz palavras imitando sons da natureza), fazendo muito barulho na intenção de denunciar a criminalidade, os abusos políticos e a discriminação racial. No radar, muito som para exaltar estas e outras dificuldades de viver em áreas de risco social nas grandes cidades.

"O trap tem uma essência bem da periferia mesmo, até no nome. Há uma história norte-americana afirmando que a palavra significa local perigoso, ponto de fabricação e vendas de drogas”, explica o músico Alien MC (26), ex-funkeiro capixaba que abraçou o trap há um ano e prepara o lançamento de seu primeiro EP no Youtube. A estreia na rede social está prevista para a primeira quinzena de maio.

Em seis faixas, Alien abusa de sintetizadores e de melodias desalinhadas para falar da dureza de ser morador da periferia (ele vive em Jardim Tropical, na Serra) e fazer um alerta para a "menorzada" (como se refere aos adolescentes) ficar longe das drogas e da criminalidade.

“Tenho muitos conhecidos no tráfico, gente que anda em um caminho errado. Minha música faz um alerta: não vale a pena investir nessa parada”, aconselha, dizendo que, após rodar a cena underground do Estado cantando funk há nove anos, decidiu mudar de ritmo porque não concordava com algumas letras do antigo estilo.

“Estou cansado das músicas de hoje. Muitas trazem só louvação às drogas, ao crime e à ostentação. Meu trap traz novas ideias. Quero fazer um grito da favela, mostrar, por meio de mensagens pacíficas, gente que não tem voz, não tem direitos políticos e luta para sobreviver”, discursa.

DUREZA

É impossível falar com Alien sem resgatar a sua história de vida. Ele começou cantando como uma espécie de homenagem ao primo, o funkeiro Mc Diney, que foi assassinado em 2010. “Ele morreu por engano. Já teve envolvimento com drogas, mas estava fora disso há muito tempo. Um cara o matou durante um jogo de futebol”, relembra, afirmando que a tragédia - e a força da sua família - foi importante para a sua formação. “Nunca tive essa parada errada, mas a música só reforçou para eu não embarcar no mundo do crime”.

Voltando ao EP, o músico usa suas canções para disparar críticas para todos os lados, sempre de forma consciente. Em "Favelado que Venceu", uma das músicas que chama mais a atenção, ele resgata fatos que marcaram a sociedade recentemente, como o ataque à escola de Suzano (SP), em março deste ano, e a facada sofrida pelo presidente Jair Bolsonaro, às vésperas das eleições de 2018.

Por falar no presidente do Brasil, Alien acredita que o político, normalmente, não é bem-visto no mundo do rap e do trap. "Algumas posturas de Bolsonaro não são aprovadas por nós, principalmente a homofobia, o racismo e o fato de ele dizer que todo bandido merece ser morto, sem saber como é a história de vida dessa pessoa", reclama, afirmando que os criminosos mais perigosos que já conheceu são as pessoas que passaram por mais dificuldades na vida. "Ninguém entra no crime porque quer, tem todo um contexto social por trás disso".

Tendo como referências musicais nomes como o grupo paulistano Recayd Mob e o cantor americano Travis Scott, o capixaba não aposta só em denúncia social neste novo momento da sua carreira. Há espaço para o love song (músicas românticas), com "Cara de Santa", uma homenagem à esposa, Hingrid Pereira, e com "Som pra Você", uma balada gravada na praia.

A primeira faixa faz parte do EP, que conta com letras próprias e bits que ele encontra na internet, como batidas de J Grooves e The Bakery Music. Por sua vez, a segunda foi gravada para ser um videoclipe especial que vai apresentar o lançamento do trabalho. A produção é do designer gráfico Welker Pereira.

Sobre o futuro, Alien sonha alto. Quer continuar equipando o seu miniestúdio, a Gueto Produtora, e ajudar pessoas que estão começando na música a gravar o seu primeiro trabalho. "Tem muita gente boa sem espaço na cena capixaba. Quero ajudar esse pessoal a ser descoberto, seja de qualquer ritmo ou vertente musical".

Ah, sim: Alien, fora do mundo do som, é Magno Maris, 26, e trabalha como cabeleireiro há oito anos em um pequeno salão próprio em Jardim Tropical. “Nunca vou abandonar os meus clientes. Dá uma grana legal e, além disso, tem como conciliar a vida na música com o trabalho no salão. Dá para ser artista de qualquer maneira”, brinca.

Faixa a Faixa

“Cara de Santa”. “Fiz em homenagem a minha mulher, com quem estou junto há mais de um ano e me inspirou a embarcar no mundo do trap”.

“Melhor da City”. “Foi criada para alertar os mais jovens para conquistar os seus sonhos batalhando, sem cair na criminalidade ou no mundo das drogas. Quem luta sempre alcança”.

“Pela Família”. “É um pouco da minha história. O sofrimento, as idas e voltas dos moradores da favela. É também sobre governantes e autoridades que não estão nem ai para o povo. Então, é hora de priorizar a família para lutar juntos por uma vida melhor”.

“Sua Opinião”. “De maneira bem direta, quis mostrar que só julgar os outros não vai nos levar à lugar nenhum. Também continuei dando um alerta para a ‘menorzada’. Eles precisam sempre correr para o lado certo, fugindo do crime e das drogas”.

“Perdido em Plutão”. “Novamente, mostro um pouco de mim, como escolhi a música e não o crime.

“Favelado que Venceu”. “Nesta música, faço um panorama sobre o mundo atual. Ninguém tem mais saúde, educação e segurança. Também cito várias questões sociais e políticas que aconteceram recentemente, como o ataque de Suzano e a facada de Bolsonaro”.

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