Trocar de posição e se colocar no lugar do outro através da dança e levar isso para a vida real. Esse é o objetivo de Anagrama Sentido e Destino, criado pelas coreógrafas Carol Mattedi e Eliane Fezter. O espetáculo de dança que será apresentado neste sábado e domingo, dias 24 e 25, no Teatro Sesc Glória, em Vitória, aponta para os conflitos gerados pela falta de habilidade ou de vontade de reconhecer e respeitar o outro.
A ideia surgiu a partir de momentos vividos pela própria Carol. Eu vivenciei durante anos algumas experiências que me colocaram na situação de me questionar sobre o nosso comportamento. Me senti vítima e depois me senti culpada após sofrer um assalto, isso me colocou em uma situação de preconceituosa. Eu, amedrontada, saía na rua, achava meio assustador e olhava para as pessoas com preconceito. Isso me feriu como pessoa e decidi usar isso nas minhas composições da dança, explica a bailarina e coreógrafa da Soul Jazz Cia. de Dança.
Anagrama traz sete bailarinos no palco interagindo durante 50 minutos com elásticos presos ao teto, elementos cênicos que significam a linha da vida e compõem a movimentação dos bailarinos, que se enroscam e trocam de posição durante o espetáculo.
Cada bailarino tem essa linha que representa a linha da vida, a linha do raciocínio, e cada um defende essa linha como se fosse sua verdade. Com ela, eles constroem informações diferentes, figuras e até prisões. Depois os bailarinos trocam de lugar, o que é o principal: a troca, o olhar para o outro e se colocar no lugar dele, adianta Carol.
Eliane Fezter, que conta com mais de 180 prêmios em festivais nacionais de dança, foi convidada para co-construir o espetáculo. Ela trouxe o olhar dela, que somou muito. Ela montou parte de um terço do espetáculo, revela Carol.
O nome do espetáculo foi escolhido pelo significado: anagrama é a palavra ou frase construída pela mudança da posição das letras alterando todo o seu sentido, ou seja, uma simples troca de lugar cria novos sentidos, novos contextos.
Carol e Eliane sugerem outras formas de olhar as diferenças, no desejo de viver num mundo onde as pluralidades sejam vistas como um valor positivo e não como uma ameaça, tudo sob a ótica do jazz contemporâneo. Aliás, outro paradigma que Carol pretende quebrar é o preconceito contra o jazz, que, segundo ela, ainda sofre por estar muito conectado ao estilo dos anos 1980.
Comecei a trabalhar nesse projeto em maio do ano passado. É uma obra atemporal, que vai tocar a plateia, e minha esperança é que seja algo forte. A gente utiliza o jazz dance, e até nisso existe um preconceito. As pessoas veem o jazz como uma dança que não tem nada a dizer. Anagrama também vem mostrar que se pode dizer muito com o jazz, existem muitas possibilidades para ele. Eu também sofri intolerância ao meu trabalho com o jazz. A dança contemporânea e o balé clássico têm um espaço muito bom, mas as pessoas ainda ligam o jazz aos anos 80, mas hoje é muito diferente, afirma.
Ao fim, Anagrama não vem como história, mas como uma realidade. Acho que é fácil atingir a plateia porque as pessoas vão se conectar com isso. É um trabalho que conta a história real da gente, experiências reais, nem todo mundo passou por isso, mas pode passar, explica a coreógrafa.
ANAGRAMA Sentido e Destino
Soul Jazz Cia. de Dança
Quando: Sábado (24), às 19h30, e domingo (25), às 19h.
Onde: Centro Cultural Sesc Gloria. Av. Jerônimo Monteiro, 428, Centro, Vitória
Ingressos:R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia entrada e comerciários)
Informações: (27) 99953-6888
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