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Obra do Racionais MCs entra em lista de leituras para vestibular

Obra do Racionais MCs entra em lista de leituras para vestibular

Cultura periférica pode e deve fazer parte do mundo acadêmico. Confira outras obras que se pode aprender curtindo

Publicado em 1 de julho de 2018 às 12:44

Racionais MCs: do Capão Redondo para a Unicamp Crédito: Divulgação/Racionais

A década de 1990 é lembrada no Brasil por diversos fatores históricos. Um dos mais relevantes é o alto índice de violência urbana. E foi no final da década, em 1997, que os paulistanos do Racionais MCs lançaram o álbum “Sobrevivendo no Inferno”, um clássico da música brasileira contemporânea, anunciado recentemente como uma das leituras obrigatórias da lista do vestibular 2020 da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em São Paulo, na categoria Poesia ao lado de sonetos de Camões e de “A Teus Pés”, livro de Ana Cristina César.

A escolha do disco dos rappers do Capão Redondo, uma das regiões mais perigosas da capital paulista, gerou um debate, e a comissão organizadora do vestibular da universidade saiu em defesa com a alegação de que as músicas do álbum permitem uma abordagem da literatura que sintoniza com a atual fase do país. Músicas como “Diário de um Detento” e “Capítulo 4, Versículo 3” mostram fielmente a vida do jovem negro de periferia no Brasil à época.

Traçando um paralelo, é importante lembrar que em 2016, o músico Bob Dylan foi o ganhador do Nobel de Literatura. Ressalta-se também que foi agraciado recentemente com o Prêmio Pulitzer, um dos mais importantes do mundo.

PLURALIDADE

 

Doutora em Letras com estudo específico sobre rap, a professora universitária Andressa Zoi Nathanailidis lembra que existe uma tradição conservadora enraizada no meio acadêmico, o que eventualmente causa questionamentos diante de fatos como a escolha do “Sobrevivendo no Inferno” pela Unicamp.

"Ouvir essas vozes é necessário, sobretudo em um país com tanta segregação. Eles precisam chegar à universidade e quebrar essa centralidade do conhecimento baseado apenas em autores canônicos. Não que estes não sejam importantes, mas quanto mais vozes puderem ser ouvidas, melhor", pondera.

Andressa diz que observa uma mudança gradual na academia, com a promoção de mais pesquisas que estimulem a inserção de movimentos populares. "É a inclusão de uma arte politizada, que denuncia e busca transformar a conjuntura social. São produções geralmente expostas injustamente em condição de marginalidade. Eu acho que a academia se abre cada vez mais, e a inclusão do Racionais na lista da Unicamp é extremamente positiva. Isso garante um bom futuro no sentido acadêmico".

Ao lado, listamos outras obras que também se destacam pelo discurso alinhado com a sociedade e que poderiam muito bem fazer parte de uma lista de leituras nas mais importantes universidades do país.

 

Ouça Sobrevivendo ao Inferno

PARA LER OUVIR E APRENDER

Literatura

Elizandra Souza

No livro "Águas da Cabaça", a poetisa reúne textos de sete mulheres negras em diferentes protagonismos, desafiando a centralidade masculina presente nas obras sobre as periferias.

Paulo Lins

Autor do livro "Cidade de Deus", lançado em 1997 com histórias das favelas cariocas, o escritor também escreveu "Desde que o Samba é Samba", onde resgata momentos da formação da cultura brasileira como conhecemos hoje.

Conceição Evaristo

 

Em "Olhos D'água", a escritora – agora candidata a uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL) foca seu interesse na população afro-brasileira, abordando a pobreza e a violência urbana com uma sensibilidade ímpar.

Ferréz

O escritor é um dos maiores expoentes da literatura marginal brasileira. No romance “Capão Pecado”, por exemplo, conta a história de Rael, um jovem morador do Capão Redondo, um dos bairros mais violentos da periferia paulistana. Ferréz reúne todos os elementos presentes na comunidade por meio de uma linguagem marcada até mesmo por códigos próprios do Capão.

Sérgio Vaz

Poeta e morador da periferia, Sérgio Vaz revela a alma das ruas em “Flores de Alvenaria”, composto por textos em verso e em prosa. Na publicação, aborda temas como educação, negritude, liberdade e empatia.

Música

Karol Conka

O trabalho da cantora curitibana é uma boa fonte de reflexão sobre a relação da mulher na sociedade atual.

Dead Fish

Um dos maiores discos do hardcore nacional, "Sonho Médio", do Dead Fish, traz "Modificar", uma aula da história da redemocratização do Brasil. A canção título também aborda valores da sociedade capitalista dos anos 1990. Antes, no disco de estreia, a banda já havia "apresentado" o MST para muitos jovens.

Sabotage

Morto tragicamente em 2003, o rapper lançou "Rap É Compromisso" três anos antes. No disco, um clássico, além de marcar uma geração, Sabotage mostrou que estava à frente de seu tempo, reunindo críticas sociais com um tom alcançado somente por quem viveu as mazelas na pele.

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