Publicado em 29 de abril de 2019 às 23:47
É entre o nada e o tudo, entre o profundo e o superficial, entre o passado e o futuro. O novo álbum da banda paulista O Terno,
Depois de lançar o meu álbum solo Recomeçar, saí do estúdio aflito pelo baú vazio de composições e por estar ali lançando um disco sem a banda e sem meus amigos. Também estava saindo da casa dos meus pais, saindo de um relacionamento. E aí comecei a olhar para esse vazio, e o que eu poderia construir a partir dele, para onde ir. E as canções surgiram, revela Tim, que assina a composição de todas as canções do álbum. Em dois ou três meses fiz a maioria das músicas, eu estava com esse assunto em um primeiro plano na minha cabeça. Repara que uma música tem a ver com a outra, mas tem muitos ângulos para ver as coisas, completa.
O quarto disco do trio formado por Tim, Guilherme dAlmeida e Biel Basile deixa em evidência arranjos orquestrais e a mistura de diferentes influências, anunciados por eles como um som universal, repleto de possibilidades.
Pela primeira vez O Terno contou com convidados em uma gravação autoral. Dois nomes de peso, aliás. O músico norte-americano Devendra Banhart e o compositor e multi-instrumentista japonês Shintaro Sakamoto participam da faixa Volta e Meia.
Já éramos fã dos dois, mas a junção se deu porque participamos de um festival na Alemanha e eles estavam no line-up. Aí deu match. Todo mundo curtiu o show um do outro, trocamos ideias, e foi um gosto sincero sem ninguém vender o peixe pra ninguém. Mandamos a música e embora pareça algo distante, foi tranquilo porque tinha uma admiração mútua real. Foi muito legal juntar os dois, conta o vocalista.
COMPOSIÇÕES
A faixa que dá nome ao álbum traduz todo o conceito também estampado na capa do disco, com arte desenvolvida por Tim. A música ainda nem tinha esse título, mas falava de um tempo nostálgico, e também da beleza do que está por vir. O desenho que fiz para a capa, de alguma forma juntando essas duas palavras com acento, com a barra, estava tudo muito encaixado e o disco tinha esse clima de estar nesse branco entre o nostálgico e o esperançoso, essa mistura toda, explica.
Em Pegando Leve, primeira canção a ganhar um clipe, a letra diz Quero descansar, mas também quero sair.../Quero começar, mas quero chegar no fim. Apesar de toda a dualidade, retrato de uma geração a qual os integrantes pertencem, a ideia é aproveitar o caminho. Essa composição vem muito de um esgotamento que gera esse tempo frenético de hoje, acelerado pelo tempo da informação e nem sempre você como ser humano consegue alcançar esse ritmo. É um pouco dessa angústia e desta saturação, da mente saturada por ter tantos caminhos. Muitas vezes o jovem hoje fica paralisado não pela escassez, mas por estar tudo ali na mão, meio banalizado. Mas tem essa busca de quer saber? vamos relaxar, reflete.
PRODUÇÃO
Nesse intervalo desde o último álbum da banda, além da boa repercussão do seu disco solo Recomeçar, o jovem compositor de 27 anos teve sua canção Realmente Lindo gravada por Gal Costa e tocou ao lado de Jards Macalé o samba-canção Buraco da Consolação. Em
Na prática foi semelhante, porque sempre liderei de alguma forma as coisas e por ser compositor eu era o filtro no fim. Mas depois do meu álbum solo, no qual eu assinei a produção, senti que precisava assumir o que eu já estava fazendo, dá uma liberdade legal. Depois da gente ficar três meses gravando, eu fiquei no estúdio sozinho fazendo arranjos, deu para me dedicar bem a fundo, diz Tim, que é visto com um dos melhores compositores da sua geração. E o novo álbum de O Terno confirma isso.
O Terno. Risco, 12 faixas. Disponível nas principais plataformas de streaming.
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