Publicado em 11 de setembro de 2019 às 17:05
"Que a brisa do mar invente espumas/ e depois venham as chuvas frias/ o sol e depois no céu limpo suba, imensa, a lua/ Não pense que isto tenha a ver contigo/ Não existes/ Nada tem a ver contigo".>
Assim, em clima de elegia, Rubem Braga escrevia uma de suas últimas crônicas, em dezembro de 1990, após lutar contra um agressivo tumor na laringe.>
Quem não o conhecia na intimidade e sabe que o autor capixaba optou pela morte após decidir não fazer o tratamento contra o câncer desconhece o homem bem humorado, de textos ácidos, mas ao mesmo tempo simples e cheio de metáforas políticas para driblar a ditadura militar.>
Essa pessoa leve, caseira, de costumes igualmente simplórios tipo gente como a gente é a faceta do escritor que a peça Rubem Braga: a Vida em Voz Alta, de Leonardo Magalhães, deseja ressaltar.>
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A montagem estreia sexta (9) no teatro que leva o nome do autor, em Cachoeiro de Itapemirim. Após três apresentações na cidade, o espetáculo segue por Muqui (13 de agosto), Castelo (14 de agosto) e chega a Vitória em 13 de setembro, com temporada de duas semanas no Palácio Sônia Cabral, no Centro.>
MEMÓRIAS>
O escolhido para viver Braga nos palcos é o experiente Jose Augusto Loureiro. Com 46 anos de estrada e vários trabalhos no teatro (A Barca do Inferno e Os Coveitos) e no cinema (Lamarca), o ator capixaba diz que se preparou por um ano para ser o mais fiel possível à essência de Rubem Braga.>
Durante as pesquisas para compor o autor no teatro, descobri várias particularidades que o tornaram mais humano para mim. Rubem Braga, por exemplo, era muito observador. Gostava mais de sentir e pensar do que de falar. Sou meio assim, confessa Jose Augusto, revelando questões da intimidade caseira do escritor que soam curiosas.>
Fiz parte das pesquisas com Álvaro Abreu, sobrinho de Rubem Braga. Descobri coisas fantásticas, como, por exemplo, que o gênio da literatura era péssimo com trabalhos manuais. Uma de suas crônicas de que gosto bastante discorre sobre o fato de ele não saber trocar um espelho no banheiro. São passagens que o tornam mais humano, próximo do seu leitor, acredita.>
TRAMA>
Rubem Braga: a Vida em Voz Alta é uma montagem minimalista. O cenário remete ao apartamento do autor capixaba no Rio de Janeiro, com uma mesa e poucos móveis. Da sua escrivaninha, conhecemos recordações sobre velhos amigos (como Dorival Caymmi e Vinicius de Moraes); amores intensos; a infância no interior; a carreira jornalística e literária; e a luta contra o autoritarismo dos anos de chumbo da Ditadura Militar que assolou o país até os anos 1980.>
Com argumento proposto pelo historiador Duílio Kuster, uma das cabeças pensantes do grupo Folgazões, a história tenta fugir de esteriótipos para retratar os ideais políticos de Rubem Braga.>
Ele foi um libertário, com alta voltagem de humanismo. Ao mesmo tempo em que era casado com a militante comunista Zora Seljan, gostava de dialogar com os presidentes militares da década de 1970 e 1980, cobrando deles ações para ajudar os menos favorecidos, especialmente de sua cidade natal, Cachoeiro, relembra Loureiro.>
Por falar em apartidarismo, José Augusto diz que acredita em tempos melhores para a classe artística no Brasil, mesmo que o atual cenário não pareça animador. Prefiro esperar do que criticar. Sei que muitos colegas da classe artística podem me questionar ou mesmo não concordar comigo, mas acho que agora é hora da gente se unir, pensar em novos projetos e alternativas para sair da crise. A polarização acabou ganhando muita força no país. Precisamos de novas ideias e novos momentos, complementa.>
PROGRAMAÇÃO>
RUBEM BRAGA A VIDA EM VOZ ALTA>
Cachoeiro de Itapemirim>
Sexta (9) e sábado (10), às 21h, e domingo (11), às 18h. Teatro Rubem Braga (Av. Beira-Rio, 237, Guandú). Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia), à venda no site Blueticket.com e na bilheteria do teatro.>
Muqui>
Dia 13 de agosto, às 20h. Teatro Neném Paiva. Rua Cel. Marcondes, Cruzeiro. Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia), à venda no site Blueticket.com e na bilheteria do teatro.>
Castelo>
Dia 14 de agosto, às 20h. Teatro Municipal de Castelo. Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia), à venda no site Blueticket.com e na bilheteria do teatro.>
Vitória>
De 13 a 15 de setembro e 20 a 22 de setembro (sextas e sábados, às 20h, e domingos, às 18h). Palácio da Cultura Sônia Cabral. Praça João Clímaco, Centro. Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia), à venda no site Blueticket.com e na bilheteria do teatro.>
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