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Memórias da imigração síria marcam a exposição 'Distâncias do Sentir'

Memórias da imigração síria marcam a exposição "Distâncias do Sentir"

Coletânea terá abertura na próxima terça (10) e segue na Galeria Homero Massena, em Vitória, até 9 de novembro, com entrada franca.

Publicado em 9 de setembro de 2019 às 17:10

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Exposição "Distâncias do Sentir". Frame do vídeo "O Mascate". . (Tati Hauer/Divulgação)

Buscar um sentido de pertencimento - seja na dor da partida e na reconstrução da identidade em uma nova pátria - são valores que permeiam os milhares de imigrantes que chegam ao Brasil em busca de um recomeço.

Com a família do artista Khalil Rodor não foi diferente. Eles vieram da Síria para o Espírito Santo na década de 1910, assustados com a luta pela independência do país com o então Império Turco-Otomano (hoje, região que compreende a Turquia e a Armênia).

Essa viagem, a adaptação à nova terra e a construção de uma identificação brasileira (e, por que não, capixaba?) pontuam a exposição "Distâncias do Sentir", primeiro trabalho individual de Khalil, que tem vernissage nesta terça (10), às 19h, na Galeria Homero Massena, em Vitória. A visitação segue de 11 de setembro a 9 de novembro.

O trabalho é dividido em quatro instalações e um vídeo em curta-metragem, "O Mascate". A mostra surgiu a partir da uma pesquisa que teve como base as lembranças de familiares do artista - sua avó e mãe - sobre a emigração do país do Oriente Médio.

"Essa investigação surgiu da ansiedade em entender como a memória modificou a nossa história e, mais metaforicamente, como conseguiu criar novos lugares de pertencimento", adianta Rodor.

PASSAGEM

Exposição "Distâncias do Sentir". Frame do vídeo "O Mascate". . (Tati Hauer/Divulgação)

Entre as instalações que serão apresentadas, o artista destaca uma porta - retirada de sua casa, em Jacaraípe, na Serra - que está presente na história do clã por várias gerações. "Todos os parentes que estiveram no Brasil passaram por ela. Vejo um significado muito forte com isso. Esse objeto remete ao sentimento de separação que a diáspora traz a todos os imigrantes”, filosofa.

Outros pontos altos de "Distâncias do Sentir" consistem em trabalhos com a areia retirada da Praia de Jacaraípe, montagens com tecidos circulares e uma árvore genealógica da família, composta por esferas de cristais.

"Essa pesquisa teve início há dois anos, quando a minha avó me confidenciou que uma prima estava investigando a história da nossa família. Era uma freira que morava no Chile. Fui juntando os pontos, pois tinha poucas informações. Só sabia que o meu pai veio de Zambrim, uma vila ao norte de Damasco, mas não consegui achar no novo mapa do país", relembra, afirmando que pensa, no futuro, procurar por ONGs que prestam trabalhos humanitários na Síria para ter informações sobre seus familiares.

"Por conta da guerra, é impossível entrar na região. Não sei nem se eles ainda estão vivos. Tenho o sonho de conhecer a terra dos meus ancestrais e conviver com eles. A Síria para mim ainda é uma reminiscência familiar".

VÍDEO

O vídeo "O Mascate" também integra a coletânea. O curta é marcado pela elegante fotografia em preto-e-branco, narrativa poética e um rigor estético pouco visto nas produções locais. Tanto esmero é fruto da experiência de Khalil Rodor com o audiovisual. Atualmente, ele está trabalhando como figurinista no longa-metragem "Os Primeiros Soldados", de Rodrigo Oliveira. Como diretor, finaliza o seu primeiro filme, "Emigro", um documentário sobre a emigração síria no país.

"O Mascate" remete ao passado do avô do artista, um vendedor de tecidos finos, em sua chegada ao Estado. Na trama, ele é interpretado pelo ator Soly Rodrigues da Silva.

"Conto a sua vinda e o sonho (ficcional) de uma volta. Ele sempre teve o desejo de partir, mas optou por construir uma história aqui. Como voltar para um território destruído pela guerra?", indaga, em tom de protesto.

Preocupado com a onda de xenofobia que está assolando o Brasil (que culminou com um ataque por grupos extremistas ao Restaurante árabe Al Janiah, em São Paulo, na segunda-feira), Khalil teme que atos de violência possam se tornar frequentes no Brasil.

"Acho que é fruto do discurso de ódio proposto por Jair Bolsonaro. Todo tipo de preconceito contra o estrangeiro é um ‘choque’ sobre quem chega para ensinar novos costumes e culturas. O presidente, com o seu poder, acaba dando voz para que pessoas ultranacionalistas vejam com normalidade esse tipo de atitude. É uma influência muito ruim e precisamos ficar atentos a isso", alerta.

Serviço

"Distâncias do Sentir"

Exposição de De Khalil Rodor

Abertura: Terça-feira (10), às 19 horas.

Visitação: de quarta (11) até 09 de novembro de 2019. De segunda a sexta-feira, das 9h às 18h. Sábado, das 13h às 17h. Entrada franca.

Onde: Galeria Homero Massena. Rua Pedro Palácios, 99, Cidade Alta, Centro, Vitória.

Informações: (27) 3132-8395.

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