A carreira da veterana Mariah Carey é repleta de surpresas. Mesmo quando estava às voltas do lançamento do novo disco de inéditas, Caution, a diva acompanhava incrédula a movimentação do fãs, que levaram outro álbum seu, Glitter, de 2001, ao topo do iTunes em diversos países, incluindo os EUA.
O movimento, batizado de #JusticeForGlitter, levou de volta aos holofotes o disco que é considerado um de seus maiores fracassos de críticas e vendas o material foi lançado na época dos atentados de 11 de setembro.
Justiça feita, o fato também serviu para jogar mais luz sobre a relevância que a diva ainda exerce na indústria da música, e o poder de sua legião de fãs (carinhoramente chamados de cordeiros), que a acompanham em todos os bons e maus momentos.
Com a chegada de Caution, sua importância ficou ainda mais evidente. Trocando em miúdos, o disco é uma atualização de seu repertório, sempre muito fincado no tradicional R&B, mas sem seguir padronizações sonoras apregoadas por muitas cantoras mais jovens.
O que se ouve no material, portanto, reforça que, mesmo consolidada na música, Mariah sempre pode oferecer mais.
Cautela
Com cautela, como canta na faixa-título do 15º disco de inéditas, e sem pensar demais, a artista entrega algumas músicas divertidas, outras até com bases em elementos eletrônicos, e mostra (talvez sem querer) que não precisa provar mais nada para ninguém (muito menos agradar a todos) a cada lançamento.
Livre de amarras ou do que a indústria cobra dos artistas atuais para bombar nas rádios e nos streamings, Caution funciona também como uma celebração a essa nova fase. Desde a produção, Mariah deixava bem claro que estava se divertindo e fazendo músicas para os fãs.
Essa liberdade produtiva grande parte devido à nova gravadora se refletiu no disco, que tem apenas dez faixas, pouco para alguns fãs, mas um número que deixa um gostinho de quero mais.
Aqui, Mariah Carey também reforça, entre uma canção e outra, seu lado compositora, com letras que ora fogem do convencional e vão fundo nos sentimentos ou em momentos da vida pessoal, ora soam simples na medida certa, do jeito que a batida pede, para grudar na cabeça.
Prova disso é que o material foi aclamado pela crítica internacional e pelos fãs, claro, graças à sonoridade e às letras, tendo recebido a maior pontuação entre os álbuns lançados nesta década, incluindo a maior nota entre todos os seus discos.
Portanto, não será nada surpreendente se a diva entrar para o seleto grupo de Songwriters Hall of Fame, que celebra compositores como David Bowie e Leonard Cohen. Ela é uma das indicadas deste ano e as letras presentes em Caution podem ajudá-la.
Faixas
O álbum continua bebendo nas fontes do R&B e do hip hop, a essência de seu repertório. O que chama a atenção de cara, no entanto, é a pouca presença de baladas arrebatadoras e cheias de firulas, figurinha carimbada em seus álbuns.
É bom reforçar que Caution tem uma pegada mais animada, apesar de ainda trazer algumas midtempos (meio termo entre baladas e agitação, e que a cantora sabe fazer como poucos). É o caso de With You, que faz os ouvintes lembrarem da Mariah Carey de sempre, numa versão baladinha romântica.
GTFO, que abre o material, causou estranheza e divergiu opiniões quando divulgada promocionalmente. Tem vocais mais contidos, mas parece estar deslocada do restante das faixas.
A música que dá nome ao disco segue a mesma pegada e é uma das melhores. A No No, por sua vez, abre a sequência mais animada. É divertida e traz samples de Crush on You, de Lil Kim. Um remix com a rapper pode sair em breve. O bacana é o apoio vocal na parte final, quase um coral, que casa muito com a música.
Fora essa animação, Mariah Carey também se junta a novos produtores e parcerias vocais, dando um frescor às músicas. É o caso de Ty Dolla $ing, em The Distance. Tirando a parte dos gritinhos de líderes de torcida no início, a música é muito boa. A produção de Skrillex fica evidente com toques mais eletrônicos.
Giving Me Life é disparada uma das melhores do álbum. Tem uma pegada meio R&B old school, lá dos anos 1990, com sintetizadores. É gostosa de ouvir. Antes dos seis minutos terminarem, há espaço para brincar com guitarras e agudos. 8th Grade é outra faixa estendida e segue a toada, com os agudinhos dando melodia à música.
Portrait, que fala de inseguranças, fecha lindamente a lista, praticamente com voz (mais aguda que o normal) e piano.
Com uma carreira que é sinônimo de superlativos e recordes, Mariah Carey prova mais uma vez que tomar as rédeas da situação como fez em Butterfly (1997) e The Emancipation of Mimi (2005), faz bem para o ego e para sua sonoridade. Mesmo que não seja inovador, o fato de fugir do convencional faz de Caution um trabalho antenado com o tempo.
OUÇA
Caution
Mariah Carey
10 faixas, Epic Music.
Disponível nas plataformas digitais.
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