Publicado em 7 de fevereiro de 2019 às 00:01
O diretor grego Yorgos Lanthimos é um daqueles que gostam de incomodar. Seus trabalhos anteriores mais recentes, os ótimos Dente Canino (2009), O Lagosta (2015) e O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017), são filmes que normalmente acabam restritos àquele circuito comercial com um pé fincado no cinema de arte. A razão disso é que Lanthimos tem apreço pelo estranho e gosta de provocar o espectador, que, por sua vez, às vezes prefere o conforto de tramas formulaicas e cheias de clichês.>
Para esse espectador, uma boa notícia: A Favorita, que estreia hoje no Estado, é o trabalho mais convencional do cineasta grego. Indicado a 10 Oscar, o filme se passa no início do século 18, durante a Guerra de Sucessão Espanhola, quando os ingleses ficaram preocupados com o crescente poder dos franceses, uma vez que um então príncipe francês, Felipe de Ajnou, assumira o trono da Espanha, e se envolveram em um custoso conflito.>
O roteiro situa a trama dentro da realeza britânica da época, cheia de condes, duques, duquesas e, claro, uma rainha. Após a morte do marido, a rainha Anne (Olivia Colman) passa cada vez mais tempo ao lado de seu braço direito, Sarah (Rachel Weisz), a duquesa de Marlborough, que tem papel fundamental em todas as decisões tomadas pela regente.>
Eis que um dia chega à corte a jovem Abigail (Emma Stone), uma ex-nobre que perdeu tudo o que tinha e parece disposta a qualquer coisa para recuperar seu antigo status. Em pouco tempo, Abigail cai nas graças da rainha e passa a dividir a atenção e o carinho da governante com Sarah.>
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ESTÉTICA>
Lanthimos faz opção por ridicularizar os integrantes masculinos da corte, todos retratados como desastrados bonachões, com suas perucas e maquiagens ridículas; as mulheres, por sua vez, são fortes e decididas. A própria rainha, convivendo com graves problemas de saúde, nunca é tratada com a mesma pompa que seus súditos.>
Tecnicamente o filme é impecável. Fotografia, design de produção e figurino ajudam na ambientação. Lanthimos brinca com o escopo das câmeras, pulando de sequências mais fechadas para outras realizadas com uma grande angular se o roteiro é convencional, o comando do cineasta trata de colocar a esquisitice em seu devido lugar, mas sempre em função da narrativa, o grande trunfo de A Favorita.>
A condução do filme leva o espectador de um lado para o outro. Em um primeiro momento simpatizamos com Abigail e vilanizamos Sarah apenas para instantes depois nos pegarmos torcendo pela última.>
No meio da guerra entre as duas, a rainha faz seus jogos de maneira quase sádica e tira proveito de toda a atenção que lhe é dispensada. A Anne de Olivia Colman é petulante, o que contrasta com sua condição de saúde sempre delicada.>
Com três atuações magistrais (as três estão indicadas ao Oscar) e um bom elenco de coadjuvantes, A Favorita é uma obra completa e capaz de agradar tanto amantes do cinema de arte quanto quem entra nas salas em busca de um produto pop. A assinatura do diretor está presente o tempo todo, mas o já citado apreço ao estranho parece domado, ou mais ou menos... A conclusão mostra que apesar de arrancar algumas risadas, o filme é, na verdade, um drama sobre o preço a ser pago pelo que se deseja.>
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