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Filme 'Cargo' usa zumbis para falar das obrigações da paternidade

Filme "Cargo" usa zumbis para falar das obrigações da paternidade

Longa estrelado por Martin Freeman está disponível na Netflix

Publicado em 17 de junho de 2018 às 01:00

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Filme Cargo. (Netflix/Divulgação)

Não é de hoje que o cinema hollywoodiano tira diversas influências da cultura oriental. “Star Wars”, por exemplo, não só busca diversas referências do folclore japonês (samurais, ronins etc.), como também pega emprestado diversos aspectos de filmes orientais como o clássico “A Fortaleza Escondida” (1958), de Akira Kurosawa. Algo que George Lucas, criador da saga, nunca escondeu.

As referências ao cinema oriental também podem ser encontradas em filmes como “Vida de Inseto” (1998), baseado no filme “Sete Homens e Um Destino” (1960), também de Akira Kurosawa. Mas uma obra que tem influenciado diversas outras é o mangá “O Lobo Solitário”, que influencia, em seu âmago, a recém-lançada produção da Netflix, “Cargo”.

Baseado no sensacional curta homônimo de 2013, o longa conta a história de um pai que, após ser contaminado por um vírus zumbi, passa suas últimas horas buscando um abrigo seguro para sua filha.

O filme até se sai muito bem, mas sofre por esticar o material fonte – o que fica evidenciado com a adição de uma trama paralela envolvendo elementos místicos que acabam deixando o filme lento e quase maçante durante seu segundo ato.

Apesar disso, a trama central é muito bem trabalhada. Toda a transformação do pai em zumbi e seu desespero e medo em relação à filha são bem desenvolvidos, mérito da atuação consistente do Martin Freeman – o roteiro, porém carece da consistência da atuação do ator britânico.

O texto “emburrece” o personagem ao máximo para fazê-lo tomar uma série de decisões estúpidas ao longo da trama. Assim, todo o dilema do protagonista acaba se tornando mais interessante que o mesmo.

A direção de Ben Howling e Yolanda Ramk não traz nada de novo ou autoral à produção – uma pena, visto que a premissa permite diversas abordagens inventivas como, por exemplo, fez David Michôd em “The Rover: A Caçada” (2014), ou, mais recentemente, James Mangold, em “Logan” (2017), outro filme com referências de “O Lobo Solitário”.

TÉCNICA

Mas o filme também tem acertos que envolvem design de produção, figurino e maquiagem. A transformação gradativa rende boas cenas e até um certo gore. A fotografia, muitas vezes abusando no contraluz, realça o calor do deserto.

“Cargo”, ao fim, é um longa que traz uma nova visão ao gênero zumbi, dando uma abordagem intimista ao dilema central, falando sobre temas como racismo e, principalmente, paternidade. Cada acerto da obra, porém, é infelizmente acompanhado de um equívoco, tornando-o um filme mediano.

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Apesar disso, o conflito do protagonista, o cerne do filme, segura, no mínimo, o interesse do público que não achar que perdeu cerca de duas preciosas horas de sua vida.

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