Repórter do Divirta-se / [email protected]
Publicado em 7 de junho de 2021 às 08:00
Judith Leão Castello Ribeiro, Maria Stella de Novaes, Lídia Besouchet, Haydée Nicolussi, Carmélia Maria de Souza e Maria Veronica da Pas. Você deve estar se perguntando o que essas mulheres têm em comum? A resposta é simples... A sua maneira, venceram o machismo, a falta de oportunidades e a desigualdade de gênero para marcar seus nomes na história do Espírito Santo em áreas multifacetadas, como cultura, política, educação e ciências. >
Refletindo, podemos ir mais além, afirmando que as essas personalidades femininas se equipararam - ou mesmo superaram - em talento, genialidade e perseverança, muitos homens que, ao contrário delas, tiveram reconhecimento.>
Para resgatar a trajetória dessas personagens, ao mesmo tempo debater a importância da força feminina do ES nos dias de hoje, está acontecendo o projeto "Diálogos no Tempo: Histórias de Mulheres Capixabas", com transmissões pelo YouTube, Facebook e Instagram. O encontro tem com uma das idealizadoras a historiadora Lívia Rangel. >
A iniciativa, que teve início em 11 de maio, recebeu a epidemiologista Ethel Maciel, a vereadora Camila Valadão, a escritora Bernadette Lyra, a artista visual Kika Carvalho e a psicóloga Sônia Rodrigues, para debater a importância desses personagens femininos para o cotidiano local. Na próxima terça-feira (8), a partir das 19h30, a convidada será a fundadora da Associação Gold, que atua como apoio para membros da comunidade LGBTQIA+, Deborah Sabará. >
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Deborah vai debater (e relembrar) a vida da escritora, jornalista e feminista Lídia Besouchet (1908-1997), conhecida por sua luta pela valorização da mulher em uma sociedade marcada pelo machismo, pela ditadura militar e violência, especialmente a partir da década de 1950. >
Perseguida pelos militares, e exilada em alguns países (especialmente a Argentina), Lídia - em seus livros e textos analíticos - escreveu frases e pensamentos emblemáticos, como “A luta pela libertação feminina é luta de duas frentes – luta pelos direitos econômicos iguais ao homem e luta contra todos os preconceitos e sobrevivências feudais e escravocratas”. >
Em conversa com o "Divirta-se", Deborah Sabará adianta que pretende fazer uma analogia da perseguição política sofrida por Lídia, mostrando a realidade de muitas travestis capixabas que passaram por torturas durante a ditadura militar. >
"Algumas eram arremessadas na baia de Vitória e muitas não sabiam nadar", relembra, afirmando outras humilhações as que as vítimas eram submetidas.>
"Outras eram recolhidas na rua e levadas para lavar os corpos no DML de pessoas que morreram sendo torturadas. A maioria, porém, era levada para o lixão do bairro São Pedro (que era isolado na década de 1950 e 1960), em Vitória. Eram torturadas, apanhavam e abandonadas à própria sorte", explica, dizendo que Lídia Besouchet foi um exemplo a ser seguido, especialmente por conta de sua luta para ressaltar a força social da mulher. >
Primeira mulher negra eleita vereadora de Vitória, em mais de 70 anos de Câmara Municipal, Camila Valadão (PSOL) também participou da série "Diálogos no Tempo". >
Camila esteve no debate que resgatou a trajetória de Judith Leão Castello Ribeiro (1898-1982), política visionária e primeira mulher eleita deputada estadual no Espírito Santo, em 1947, com cerca de 4,25% dos votos do colégio eleitoral, que somava 27.528 eleitores na época. Judith foi uma ferrenha defensora do voto feminino. >
"São duas mulheres ocupando o parlamento, sem dúvidas, este é o nosso maior ponto de encontro, uma vez que somos ainda poucas em cargos legislativos. Mas são duas mulheres com conteúdos programáticos bem diferentes", pontua Valadão, fazendo uma comparação de sua trajetória com a de Castello.>
"Sou uma mulher de esquerda, que defende pautas próprias deste movimento. A Judith Castello esteve mais alinhada com pautas conservadoras. Certamente, somos de correntes bastante distintas do feminismo. Me alinho a uma proposta marxista de feminismo, de emancipação real da mulher, mas entendo a importância que o sufrágio e a luta pelo voto das mulheres teve naquela época", pontua. >
"Sinto pela invisibilidade da mulher negra nessa luta e, como mulher negra, demarco que essa é uma grande diferença entre nós também. A gente sabe que as impressões combinadas - gênero, raça e classe - limitam ainda mais nossa participação nos espaços de poder.">
Cineasta, escritora e professora universitária, Bernadette Lyra, no projeto, relembrou a trajetória de Haydée Nicolussi (1905-1970). Chamada por Carlos Drummond de Andrade de “revolucionária romântica”, por seu amor pelo marxismo e modernismo literário, a poetisa capixaba foi perseguida e presa pela ditadura militar, chegando a ser mencionada na obra de Graciliano Ramos, "Memórias do Cárcere" (1976), como também na biografia de Olga Benário, publicada por Fernando Morais, em 1985. Seu texto era leve, contemplativo e, quase sempre, retratava a vida da mulher de sua época. >
Bernadette afirma que iniciativas como o "Diálogos no Tempo" servem valorizar as lutas feministas. "Participar do projeto foi como estar dentro de um círculo de luz aceso sobre mulheres capixabas que integram o cenário das mais diversas áreas, no passado e no presente, iluminando suas experiências e histórias de vida", enfatiza.>
"Vejo como um resgate necessário e mais que bem-vindo da presença feminina na política, na sociedade, na cultura e nas artes, tal como o século XXI vem proporcionando, a partir das lutas feministas da segunda metade do século XX. Acredito ser este um projeto que merece e deve ter continuidade, como uma contribuição preciosa ao caminho para a valorização, recuperação e reconstrução da identidade das mulheres no palco da História do Espírito Santo", complementa.>
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