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Crítica: terror 'Nós' é tenso e envolvente na medida certa

Crítica: terror "Nós" é tenso e envolvente na medida certa

Filme do diretor Jordan Peele ("Corra!") acompanha família às voltas com violentos doppelgängers

Publicado em 20 de março de 2019 às 21:16

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Filme "Nós". (Universal Pictures/Divulgação)

Ninguém dava nada por Jordan Peele quando “Corra!” foi lançado, em 2017. Misturando terror e crítica social, o filme fez uma carreira surpreendente até ser indicado a quatro Oscar no ano seguinte – Peele levou para casa a estatueta de Melhor Roteiro Original e se transformou em um dos nomes a ser acompanhado de perto na indústria; o que ele faria em seguida?

“Nós”, que estreia hoje nos cinemas, chega cercado de mistério. Após as primeiras prévias, ficou claro que se tratava de algo no mínimo estranho. O filme acompanha a família Wilson – Adelaide (Lupita Nyong’o), Gabe (Winston Duke), Zora (Shahadi Wright Joseph) e Jason (Evan Alex) – quando eles deixam a rotina na cidade grande para curtir uns dias de folga no balneário de Santa Cruz, na Califórnia, com os amigos Kitty e Josh Tyler (Elizabeth Moss e Tim Heidecker).

Um dia, após um incidente na praia, a família volta para casa e encontra quatro doppelgängers, duplos, ou seja, pessoas quase idênticas a eles, mas bem mais macabros e com uma grande sede de violência. Tem início, então, uma trama de horror de sobrevivência cheia de estilo e reviravoltas.

ESTRANHEZA

Filme "Nós". (Universal Pictures/Divulgação)

Jordan Peele tem grande apreço pelo estranho e utiliza isso a favor de seu filme. Assim como em “Corra!”, em “Nós” o espectador é capaz de entender, desde o início, que há algo errado, fora do lugar, naquele ambiente. O prólogo, que segue a jovem Adelaide pelo calçadão, alternando entre o olhar da jovem e uma câmera subjetiva, já dá dicas.

Peele filma inspirado por grandes nomes, mas sem copiá-los. Existe influência da fotografia de Kubrick em alguns momentos, da narrativa de John Carpenter e Michael Haneke, em outros, e de nomes como Stephen King, no roteiro.

Um dos principais méritos de “Nós” é a crescente da narrativa, que explode em tensão, terror e violência. O diretor não entrega tudo de cara e, assim, quando as sequências mais violentas, assustadoras e graficamente impressionantes ganham as telas, o impacto é real.

Filme "Nós". (Universal Pictures/Divulgação)

Peele, dessa forma, mostra ter realmente abraçado a carreira de diretor de terror/fantasia. Após anos como ator de comédias no máximo razoáveis, o cineasta se encontrou no gênero – será produtor executivo e narrador da vindoura série “Além da Imaginação”, repaginação da clássica “Twilight Zone”.

HUMOR

O fato de ter abraçado o terror, porém, não faz com que Peele tenha esquecido da comédia. Aqui, o alívio cômico fica com Winston Duke, que vive Gabe, marido de Adelaide. Cabe a ele aliviar o peso da narrativa e, em uma inversão de papéis, fazer piada com o papel do homem na sociedade – mesmo que Winston seja um sujeito grande, é a diminuta Lupita Nyong’o que protagoniza as maiores sequências de ação e o filme como um todo.

As atuações são outro ponto forte, com cada ator tendo que interpretar dois personagens. Os duplos são “iguais, mas diferentes”; são as mesmas figuras, mas não se comportam como tal, caracterizando uma construção de personagem complexa.

Enquanto “Corra!” tinha um discurso social sobre o papel do negro na sociedade, “Nós” é um retrato maior da sociedade americana como um todo. O título original, “Us”, tanto pode falar sobre os óbvios demônios interiores quanto sobre os Estados Unidos (United States).

De qualquer forma, com ou sem significados ocultos, “Nós” é um filmaço de terror, com boas doses de humor e estranheza. Um olhar para a família comum e seus receios, mas tudo realizado com muito sangue, violência e tensão.

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