Publicado em 13 de março de 2018 às 22:15
Não acredito e nem gosto muito da realidade física, palpável. Sempre tive problemas para aceitar a realidade que o mundo nos traz, diz Roque Ferreira, logo no início da entrevista por telefone ao C2. Talvez por isso desde muito jovem Roque dedicou-se à escrita, tornando-se um dos mais importantes compositores da música popular brasileira.>
O também escritor se prepara para lançar seu segundo livro, Puçangas Uma história natural do amor enquanto pássaro. O evento de lançamento será nesta quinta-feira (15), em dois momentos: às 18h, vai rolar o Café com Roque, na Cousa Bar e Café; e às 20h, o Samba pra Roque, na Casa de Bamba, com os músicos Cecitônio Coelho, Rodrigo Nogueira e Fabíola Santos.>
A publicação, que chega às ruas pela Editora Cousa, reúne contos curtos, ambientados na amazônia maranhense, com a presença de caboclos, orixás, pajelanças e outros elementos que reforçam a brasilidade da obra de Roque.>
Acima de tudo, sou um admirador de Machado de Assis, mas tenho uma grande influência do realismo fantástico. Quando pensei em escrever este livro, que está pronto há praticamente dez anos, pensei movido por isso. O realismo fantástico sempre foi um estilo que me despertou interesse, conta Roque.>
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Nascido na Bahia, o compositor e escritor de 71 anos diz acreditar na literatura como uma fuga, uma forma de viver e conviver com o que é posto em nosso cotidiano, um túnel para atravessar para um outro lado.>
Ele conta que, quando deixou de acreditar em Deus, ainda na adolescência, ficou sem saber o que fazer, por causa da descrença. Não tinha com quem conversar, nem amigo, nem parentes, diz. Logo em seguida, se apegou ao conhecimento, e foi buscar o entendimento da vida em uma livraria localizada em Salvador.>
Ali, diz ter encontrado o rio para nadar. Lembro que o vendedor me mostrou duas estantes, composta por obras de autores alemães ou gregos, nem sabia pronunciar os nomes. Primeiro, li Nietzsche, depois Schopenhauer, e me identifiquei profundamente com os pessimistas. Nunca mais parei de ler, destaca Roque, que já tem Terreiros de Samba-chula publicado, além de quase 700 músicas gravadas por cantores brasileiros.>
O escritor diz que sua teoria é pautada pela simplicidade. Por isso, faz questão de priorizar uma linguagem simples e de fácil entendimento mas nem por isso pobre.>
Leio muito física quântica, por isso gosto de simplicidade. A linguagem sofisticada quase ninguém entende. Por exemplo, ninguém escrevia mais simples que Machado de Assis. Ele escrevia bonito e simples. Essa é a grande chave da boa arte, sentencia.>
Muito lúcido e seguro em cada frase proferida, Roque reafirma sua grandeza ao mostrar-se consciente do compromisso que tem com sua arte. Tanto com a música, quanto com a literatura, tem um compromisso de luta, conforme fez questão de ressaltar.>
Um disco ou um livro são instrumentos de difusão cultural. São postos na prateleira pra vender, mas quando você toca, quando lê, vai influenciar as pessoas. O artista tem que ter esse compromisso. Eu comprei essa briga para mim. Sou uma pessoa com posições muito fortes, não faço concessões. Tive uma série de problemas políticos por isso, até, finaliza Roque, também exímio fã de Dorival Caymmi.>
LANÇAMENTO>
Será nesta quinta, em dois momentos. Às 18h, será o Café com Roque, na Cousa Bar Café, na Rua Sete, 154, Centro. Às 20h, Cecitônio Coelho, Rodrigo Nogueira e Fabíola Santos fazem uma homenagem ao compositor com o show Samba pra Roque, na Casa de Bamba, na Rua Gama Rosa, 154. Informações: (27) 99956-0277.>
CONFIRA>
Puçangas Uma História Natural do Amor Enquanto Pássaro. Roque Ferreira. Editora Cousa, 128 páginas. Quanto: R$ 35.>
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