Publicado em 9 de julho de 2018 às 01:44
Jornalista, crítico, professor e escritor, Celso Sabadin é um dos rostos que representam a pesquisa cinematográfica no Brasil. Além de sócio-fundador da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine), ele é autor do recém-lançado A História do Cinema Para Quem Tem Pressa (editora Valentina).>
O livro tem a difícil proposta de resumir a história do cinema em poucas páginas, desde sua invenção no fim do século 19, passando pelos grandes movimentos cinematográficos como a Nouvelle Vague, o Expressionismo Alemão, as vertentes do cinema nacional, até grandes sucessos recentes como a franquia Vingadores, da Marvel. Em entrevista ao Gazeta Online, Sabadin falou sobre seu livro e o cinema. Confira o bate-papo:>
Como surgiu a ideia de escrever o livro?>
Eu estava no aeroporto e estava olhando a livraria, e aí eu vi lá esse selo História Para Quem Tem Pressa. Achei a ideia legal e interessante e, como eu dou aula de cinema, acabei entrando em contato com a Editora Valentina e eles acabaram aceitando.>
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Como foi o processo para resumir a história do cinema em poucas páginas?>
Foi um desafio bem interessante, eu sabia que o foco do texto não poderia ser em filmes ou em diretores, então eu preferi priorizar o processo histórico do cinema e o desenvolvimento das correntes do pensamento cinematográfico com a proposta de contextualizar esses pensamentos. Mostrando o que acontecia com o mundo na época dos movimentos apresentados, vou contando a história do mundo no século 20 pelo ponto de vista do cinema. Claro que, para cada capítulo e cada movimento, eu registro os principais cineastas e principais filmes, mas sem a pretensão de fazer um inventário completo disso, que seria impossível.>
Alguns filmes tiveram que ficar de fora do livro. Foi difícil?>
Sabe quando você vai dar uma festa e não pode convidar todo mundo porque sabe que não vai dar na sua casa? Foi assim que eu me senti. Você tem que fazer a festa e tem que chamar muitas pessoas, mas mesmo assim você tem que deixar algumas de fora. Então eu deixei alguns filmes de fora, mas sem nunca perder a linha do raciocínio histórico. Mas colocar todo mundo, acho que nem em uma enciclopédia daria.>
O livro fala sobre a história do cinema, filmes feitos há 50, 60, até 100 anos atrás, considerados antigos. O senhor acha que hoje há um preconceito com esse tipo de filme?>
As pessoas tendem a identificar o antigo como mal feito, o que não é verdade. Nós vivemos em uma época muito tecnológica, muito conectada, muito interligada. Então o filme mudo, o filme preto e branco e o filme antigo passam a ser pré-conceitualizados como algo tosco, o que não é verdade.>
O senhor acha que esse preconceito se aplica também ao cinema nacional?>
Esse preconceito também se aplica aos filmes nacionais, porém acho que de forma ainda maior. Isso se deve a uma época ruim para os filmes brasileiros, que foi o período da Ditadura Militar, principalmente depois de 1969, quando surgiu o movimento das pornochanchadas. Então ficamos anos e anos sem fazer filmes realmente bons, pois a ditadura não permitia a discussão de temas mais importantes e a criação de filmes políticos. Foi uma época que ficou na cabeça dos brasileiros, acabou há muito tempo mas o preconceito ficou.>
O senhor tem um movimento cinematográfico preferido? Algum que mais gostou de escrever no livro?>
Eu sou um grande fã dos filmes noir, até hoje quando eu posso eu assisto, e assisto por lazer, não só por estudo. Na verdade não há um gênero que eu não goste, cada um tem seu momento, mas de todos, acho que o noir é o meu preferido.>
Há algum filme citado no livro que marcou a sua vida?>
É muito difícil responder isso, porque tem tanto filme... Mas um que marcou a minha infância foi 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), a que eu assisti no cinema com 10 anos de idade. Não entendi nada na época, mas achei fantástico. Acho que foi aí que eu percebi que o cinema e a arte de forma geral não precisa ser compreendida unidimensionalmente, às vezes a gente pode ver uma obra, sentir, não entender e se apaixonar.>
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