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Carnaval capixaba: os desfiles inesquecíveis dos anos 1980

Carnaval capixaba: os desfiles inesquecíveis dos anos 1980

A década de 1980 abre o especial que o "Divirta-se" preparou, resgatando antigos carnavais que marcaram a memória de foliões e de pesquisadores do samba capixaba

Publicado em 14 de fevereiro de 2021 às 08:00- Atualizado Data inválida

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Desfile campeão da Escola de Samba Unidos da Piedade, em 1986
Desfile campeão da Escola de Samba Unidos da Piedade, em 1986. (Ailton Lopes/Arquivo A Gazeta)
Gustavo Cheluje
Repórter do Divirta-se / [email protected]

Os "Deuses do Carnaval" não quiseram que a alegria do passista - e o luxo das fantasias e alegorias - encantasse o coração dos capixabas em 2021. Desta vez,  o Pierrô e a Colombina não trocarão juras de amor em plena passarela do samba. 

Lirismos à parte, por conta da pandemia do Novo Coronavírus, o Complexo Walmor Miranda, conhecido carinhosamente por Sambão do Povo, no Centro da Capital, não recebeu o tradicional desfile das escolas de samba de Vitória, que, por seu gigantismo e profissionalismo, é considerado o terceiro maior do país.

Para matar a saudade do "esquenta" da bateria, o "Divirta-se" preparou um especial resgatando antigos carnavais que marcaram a memória de foliões e de pesquisadores do samba capixaba. 

Serão três matérias com os desfiles inesquecíveis da década de 1980, 1990/2000 e 2010. Só para relembrar, nos anos 1990 houve uma paralisação de seis anos devido à falta de repasse de recursos da administração pública e a uma reestruturação das agremiações por isso resolvemos juntar com a retomada dos anos 2000.

RAIZ

Os anos 1980 são considerados a última década em que o "carnaval de raiz" - impulsionado pela força das comunidades e por enredos que dialogavam com os integrantes e a história das agremiações - foi crucial na hora de decidir um título. 

Aqui, chama a atenção a influência de sambas melodiosos, com ritmos mais cadenciados, e a preocupação das escolas em mostrar a força de seus componentes, o que os sambistas chamam de "chão". Novo Império, com cinco títulos (1980/1985/1987/1988/1989) e Independentes de São Torquato, com três triunfos (1981/1982/1983), são consideradas as campeãs da década, sendo que os anos 1980 também são conhecidos pelo último título da maior campeã do nosso carnaval, a Unidos da Piedade.

A taça é deles: Independentes de São Torquato comemora a conquista do carnaval de 1982
A taça é deles: Neuza Maria Alves, inesquecível porta-bandeira da Independentes de São Torquato, comemora a conquista do carnaval de 1982. (José A. Magnago/Arquivo A Gazeta)

A agremiação do bairro da Fonte Grande venceu em 1986, no único desfile realizado na Avenida Reta da Penha, área nobre da Capital. Até a inauguração do Sambão do Povo, em 1987, as apresentações eram organizadas nas Avenidas Jerônimo Monteiro e Princesa Isabel, no Centro de Vitória.

A década também marcou o "nascimento" de muitas agremiações do carnaval de Vitória, como Rosas de Ouro, Chega Mais e Mocidade Serrana. Supercampeã na atualidade, a Mocidade Unida da Glória, de Vila Velha, foi criada em 1980, partindo de uma fusão do bloco Calção Vermelho. Além disso, nesta época, Pega no Samba, Unidos de Jucutuquara e Unidos do Barreiros deixaram de ser blocos, virando escolas de samba. 

LUXO

Para a pesquisadora do carnaval capixaba Iamara Nascimento, o título da Independentes de São Torquato, em 1981, pode ser considerado um divisor de águas na história da agremiação. "A escola chamou a atenção pelo tom de vermelho usado em suas fantasias, com alegorias forradas com tecidos aveludados. Com o enredo “Festas e Folguedos populares do Brasil”, a agremiação mesclou irreverência e luxo, num desfile contagiante", elogia. 

Atual presidente da São Torquato, Nildemar Nolasco, que, nos anos 1980, era ritmista da vermelho e branco de Vila Velha, destaca que o tricampeonato conseguido na década foi pontuado por desfiles inesquecíveis. "Em 1983, a vitória teve um sabor especial. O enredo 'Brasil, Terra da Gente' trouxe uma bateria que inovou na avenida, com naipe de repique e tamborins que marcaram o carnaval", relembra. 

A Unidos da Piedade, escola que carregava o maior número títulos até então (com 13 conquistas entre as décadas de 1950 e 1970) não conseguia levantar um troféu desde 1979, para a tristeza de uma comunidade acostumada a tantas vitórias. 

Carro alegórico da Unidos da Piedade no Carnaval de 1986
Carro alegórico da Unidos da Piedade no Carnaval de 1986. (Nestor Muller/Arquivo A Gazeta)

Em 1986, com o único desfile realizado na Avenida Nossa Senhora da Penha, a verde, vermelho e branco da Fonte Grande entrou na avenida com "sangue nos olhos", visto que seus integrantes estavam inconformados com a derrota para a Novo Império, em 1985.

"Muitos consideravam que a escola foi 'garfada' pelos jurados. Em 1986, com o enredo 'Sua Majestade o Café!', a Piedade foi imbatível", considera a pesquisadora, confirmando que a agremiação fez um desfile com luxo e samba no pé. A apresentação terminou com o dia nascendo, o que levantou ainda mais a arquibancada.

Carminha Pascolar, hoje diretora da ala de passistas da Unidos da Piedade, esteve presente no desfile histórico. Com 20 anos na época, a coordenadora participou de uma ala de garçonetes que serviam cafés. "Me lembro como se fosse hoje (suspira). A fantasia era bem luxuosa, toda bordada a mão, com muitos paetês e miçangas", rememora, dizendo que a sensação de desfilar em um lugar "desconhecido" para o sambista, como a Reta da Penha, trouxe ainda mais adrenalina à apresentação.  

"Estávamos acostumados a (Avenida) Jerônimo Monteiro. O pessoal da Fonte Grande descia para a nossa concentração e ficava bem próximo à Gruta da Onça. A gente se sentia em casa com tanta energia positiva", suspira.

 CAMPEÃ DA DÉCADA

Em 1987, na gestão Hermes Laranja, o Sambão do Povo foi inaugurado em Caratoíra, sendo considerado o "quintal da Família Imperiana", pois a quadra da Novo Império fica a poucas ruas do complexo do samba. Sentindo-se (literalmente) em casa, a agremiação foi campeã de 1987 a 1989, ano de seu último título. 

Desfile da escola de samba Novo Império em 1989, ano do Tricampeonato no Sambão do Povo
Desfile da escola de samba Novo Império em 1989, ano do Tricampeonato no Sambão do Povo . (Nestor Muller / Arquivo A Gazeta)

"O grande desfile da Novo Império deu-se em 1989, quando a escola conquistou o tricampeonato. Os carros alegóricos eram gigantescos para a época, com esculturas imensas e muito bem acabadas. O enredo, 'Acorda Brasil', fazia uma crítica social à situação política do país na época. Foi um lindo e grandioso desfile", destaca Iamara Nascimento.

Suzana Bremenkamp, diretora de comunicação da Novo império, louva os desfiles de 1987 e 1989 como sendo emblemáticos na história da agremiação. 

Desfile da escola de samba Novo Império em 1989, ano do Tricampeonato no Sambão do Povo
Desfile da escola de samba Novo Império em 1989, ano do Tricampeonato no Sambão do Povo . (Nestor Muller/Acervo A Gazeta)

"Em 1987, o Sambão do Povo recebia o seu primeiro desfile, sendo erguido com apenas 112 dias de obras. Muitos sambistas da nossa comunidade ajudaram na finalização da construção, para que tudo ficasse pronto a tempo dos desfiles. Ter a Novo Império como a primeira campeã do complexo carnavalesco é muito significativo, pois marcou o início de uma nova era no Carnaval Capixaba", descreve, sem esconder a emoção.

"Em 1989, com 'Acorda Brasil', fizemos um desfile impecável, com grandes esculturas e alegorias, fechando o tricampeonato consecutivo, feito que só foi igualado por outra escola quase 20 anos depois", complementa, referindo-se aos feitos da Unidos de Jucutuquara na década de 2000. Mas isso é assunto para outra matéria! 

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