Publicado em 19 de fevereiro de 2019 às 22:19
A cineasta Eliza Capai fez bonito em um dos festivais de cinema mais importantes do mundo, o Festival de Berlim, ou Berlinale. Seu documentário Espero Tua (re)Volta venceu o Prêmio da Anistia Internacional e o Prêmio da Paz no dia 16 de fevereiro. >
Eliza nasceu no Rio de Janeiro, mas morou em Vitória até os 19 anos. Sou um tanto capixaba, um tanto paulista, mas nasci no Rio, conta a cineasta, filha do fotógrafo capixaba Humberto Capai. Ao longo de sua carreira, Eliza já assinou direção e roteiro de 15 curtas-metragens, quatro séries para TV, três séries para web, além de três médias e dois longas-metragens documentais.>
O premiado Espero tua (re)volta, que traz luz para a luta estudantil, é narrado por três jovens ex-secundaristas Lucas Koka, Marcela Jesus e Nayara Souza que participaram das ocupações de escolas paulistas em 2015. Em entrevista por telefone direto de Berlim, Eliza fala sobre a importância do prêmio e a relevância social de seu filme. Confira.>
Por que decidiu fazer esse documentário?>
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Acompanhei pelas notícias as ocupações em 2015. Cheguei a entrar em uma ocupação e fiquei impressionada com a pauta e a organização dos estudantes. Mas o momento em que a pulga me mordeu foi em 2016, quando eu e a produtora Mariana Genesc estávamos na Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo) para pesquisar personagens para uma série e não conseguimos sair de lá. Dormimos lá dentro, nos olhamos e pensamos: precisamos fazer um filme sobre essa geração.>
Como esses três jovens chamaram sua atenção?>
Cada personagem veio de um lado diferente. O Lucas eu conheci assistindo aos vídeos dele que viralizaram. Ele é ator, rapper e tem uma capacidade enorme de comunicação e empatia. Quando peguei o material de arquivo com o documentarista Henrique Cartaxo, ele me falou da Marcela. Quando a conheci, em 2017, ela estava completamente diferente e essas mudanças começaram a partir das ocupações. A Nayara eu já tinha conhecido na ocupação da Alesp, e quando fui gravar a ocupação da Câmara, já bem no final do filme, ela despontou como uma liderança muito forte.>
E o que representa ganhar esse prêmio?>
Ir pra Berlinale já era um prêmio. Esses são prêmios muito especiais, a Anistia Nacional é uma organização que admiro muito. E recebemos o Prêmio da Paz, que é muito simbólico porque esses meninos muitas vezes são tratados como vândalos, como se estivessem destruindo a ordem pública, e aí esse prêmio me vem como uma lembrança de que contra as leis injustas, >
, nesse caso o direito à educação. Esses prêmios dão a certeza de que o filme se comunica inclusive com o público fora do Brasil. A maioria nem sabia o que tinha acontecido nas escolas de São Paulo. O filme não tem o objetivo de ser uma verdade, até por isso a escolha de três narradores que têm ponto de vistas diferentes da história.>
O que te impulsiona a ir atrás de histórias de luta?>
Nunca consegui entender porque em um país com tantas riquezas existem situações de miséria, de violência, de injustiça... Então é uma forma de entender como isso acontece e o que é possível fazer para não acontecer mais. Cresci em uma família que preza muito pela justiça, meus pais foram militantes do movimento estudantil, eles sempre foram atentos a essas questões e pontuaram isso desde que sou pequena. É como eu vejo o mundo... É questão de não aceitar e não conseguir achar que está tudo bem o mundo ser assim.>
O filme estreia quando no Brasil?>
O nosso plano é aguardar o resultado dos festivais brasileiros e, seis meses depois, fazer uma estreia em sala de cinema e buscar uma distribuição social. Quem quiser organizar sessões públicas deve entrar na plataforma e preencher os dados da sessão. Aí, 72 horas antes da sessão, a pessoa consegue baixar o filme. A única coisa que a gente exige é que não seja cobrado ingresso e que tenha debate. É uma forma de chegar a locais a que o filme não chegaria e colocar pessoas juntas para tentar entender o passado, o presente e sonhar o futuro coletivamente.>
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