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Antologia 'Histórias Estranhas' realça a modernidade do horror

Antologia "Histórias Estranhas" realça a modernidade do horror

Com oito curtas, produção faz parte da iniciativa "Projeta Às 7" e estreia nesta quinta-feira (23), no Cinemark Vitória

Publicado em 21 de maio de 2019 às 19:43

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Segmento "Mulher Ltda", curta do filme "Histórias Estranhas". (Divulgação/ Rafael Duarte)

Adepto das comédias, o audiovisual brasileiro ainda vê o cinema de gênero com certa estranheza, mesmo com o número de produções tendo aumentando nos últimos anos. Temos exemplos de qualidade, como "Trabalhar Cansa" (2011), de Marco Dutra e Juliana Rojas, ou mesmo a pequena obra-prima "Sinfonia da Necrópole" (2014), de Juliana Rojas. Por sua vez, podemos citar filmes que caem no mau gosto e no horror gore (que beira o grotesco), como "Condado Macabro" (2015), de André de Campos Mello e Marcos DeBrito. Este último só indicado para estômagos fortes e "amantes de sangue fresco".

"Histórias Estranhas", que chega nesta quinta (23) ao Cinemark Vitória, no programa "Projeta Às 7", com sessão às 19h, embarca no realismo fantástico ao apostar em oito curtas que exploram o sobrenatural, apresentando tramas que envolvem assassinos, bruxas, demônios, mutantes e um homem invisível, entre outros seres que assombram os nossos pesadelos.

"O projeto veio evoluindo e sofrendo várias 'metamorfoses' durante estes anos", adianta Ricardo Ghiorzi, um dos idealizadores de "Histórias Estranhas" e diretor do curta "Sete Minutos Para a Meia-Noite", que integra o filme. "Para a seleção das histórias, tivemos como base curtas que contassem com ótima qualidade técnica e artística e tivessem, claro, a temática do horror", complementa.

A saga de "Histórias Estranhas" começou no inicio dos anos 2000. Inicialmente, a ideia era fazer uma coletânea de curtas de lobisomens. O plano ficou em hibernação devido à grande dificuldade de produção. Mas a ideia de um longa-antologia não saía da cabeça dos realizadores. "Então, em 2014, tomei coragem, convidei alguns amigos diretores e realizamos, de modo independente, o filme '13 Histórias Estranhas', cujo a temática que unia os contos era a utilização dos numerais e temas sobrenaturais", explica o diretor.

BOAS SACADAS

Segmento "Invisível", curta do filme "Histórias Estranhas". (Divulgação/ Luciano Paim)

A ideia deu supercerto, tanto que Ghiorzi convidou novos diretores, de vários estados brasileiros, e em 2017 tentou concluir o novo filme, espécie de nova compilação das ideias de "13 Histórias Estranhas". "O longa ficou incompleto, faltando um segmento. Decidimos, depois de várias mudanças, permanecer com apenas oito curtas. Apesar de todos estes percalços, o filme ficou harmônico, dinâmico e deu o seu recado", avalia o realizador.

Os contos de "Histórias Estranhas", aparentemente, não possuem nenhuma ligação e cada um têm cerca de 15 minutos. Há tramas bem interessantes, como "Mulher Ltda.", de Taísa Ennes Marques (premiadíssima com o curta "Caçador", de 2014), uma homenagem ao cinema de monstro, especialmente "Frankenstein", clássico de Mary Shelley. Também chama a atenção "Invisível", de Filipe Ferreira, que já disse a que veio com "13 Histórias Estranhas". A narrativa aposta no drama e no requinte estético para contar os dilemas de um homem invisível e suas dificuldades do cotidiano.

Marcos DeBrito, do citado em "Condado Macabro", reaparece com uma história bem mais envolvente, "Apóstolos". Na trama, referências bíblicas, a Santa Ceia, um homem sem cabeça, Judas e várias citações messiânicas (que podem deixar os mais religiosos de cabelo em pé). Contar mais seria estragar a surpresa do melhor curta de "Histórias Estranhas".

ÁRDUA TAREFA

Sobre investir em cinema de gênero no Brasil, Ricardo Ghiorzi afirma que, tanto no terror quanto em qualquer outro tipo de filme, fazer audiovisual no País é sempre uma jornada árdua. "Tenho duas certezas quando me envolvo em uma produção de horror: muita diversão nos sets de filmagens e muitas dificuldades para levantar financiamento. Ainda existe o preconceito do público de que filme brasileiro de terror é mal produzido", alfineta, dizendo que, na questão de financiamentos e editais, a situação não é diferente. "Temos que provar que nossos projetos têm viabilidade de público e de distribuição. Ou seja, é quase uma encruzilhada. Atualmente, parece que começamos a virada deste jogo. Vejo uma luz no fim do túnel", comemora.

Como estética narrativa, de acordo com Ghiorzi, os cineasta nacionais costumam apostar em temáticas que exploram a brasilidade. "Nossos realizadores deixaram de lado um pouco a "pegada" de Hollywood e apostam mais nas histórias "pé no chão", regionais e até mesmo folclóricas. Algo que pode confirmar um pouco isso é a aposta em efeitos especiais práticos, utilizando-se do digital em pouquíssimas produções", avalia.

CONHEÇA OS OITO CURTAS DE "HISTÓRIAS ESTRANHAS"

Segmento "Ninguém", do filme "Histórias Estranhas". (Kiko Barbosa/Divulgação)

"Ninguém", de Rodrigo Brandão. Cercado de solidão, um andarilho vaga por entre ruas e construções abandonadas, vasculhando escombros para sobreviver. Porém, o que mais teme é ser encontrado.

"Mulher Ltda.", de Taísa Ennes. Dois funcionários de um necrotério resolvem testar uma droga miraculosa que promete acabar com seus problemas.

"No Trovão, Na Chuva Ou Na Tempestade", de Paulo Biscaia Filho. Um homem faz um pacto silencioso com três bruxas milenares, mas o preço a ser cobrado pode ser alto demais.

Segmento "A Mão", do filme "Histórias Estranhas". (Divulgação/André Sigwalt)

"A Mão", de Kapel Furman. Ninguém escapa da Mão...

"Os Enamorados", de Claudio Ellovitch. Tarô, Magia do Caos e os arquétipos universais do Inconsciente Coletivo atuam sobre o palco conturbado da mente de um dramaturgo com problemas em seu relacionamento amoroso.

"Invisível", de Filipe Ferreira. Um homem invisível conta a sua trajetória de vida e os motivos que o levaram a se afastar de sua família.

"Sete Minutos Para A Meia-Noite", de Ricardo Ghiorzi. Prestes a ter um filho, um casal aguarda ansioso por uma visita noturna.

Foto do segmento "Apóstolos", do filme "Histórias Estranhas". (Lucas Loureiro/Divulgação)

"Apóstolos", de Marcos DeBrito. Um homem sem cabeça prepara com cuidado uma grande ceia em frente a uma câmera fotográfica. Para conseguir encenar o retrato tétrico que tem em mente, precisa conseguir a cabeça de Judas antes da chegada da lua cheia.

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