Publicado em 13 de dezembro de 2019 às 21:25
O ex-secretário municipal de Cultura de São Paulo, André Sturm, será o novo secretário do Audiovisual do governo Bolsonaro. O convite foi feito pelo secretário especial da Cultura, Roberto Alvim, num almoço com representantes do setor cultural, realizado nesta quinta (12), na sede da Fiesp, em São Paulo. O encontro foi promovido pelo presidente da entidade e do Sesi-SP, Paulo Skaf.>
Sturm entra no lugar de Katiane Gouvêa, exonerada na quarta (11). Ele é o quarto no cargo no governo Bolsonaro . "André Sturm é um nome de conciliação, que marca o início de um novo momento de construção conjunta entre a Secretaria Especial da Cultura e o mercado audiovisual brasileiro", afirmou Alvim.>
Sturm, que é dono e programador do cinema Petra Belas Artes, na capital paulista, foi exonerado da secretaria municipal no começo deste ano. Na ocasião, afirmou ter se sentido "perseguido" durante sua gestão. O cargo ficou com Alê Youssef.>
Segundo Sturm, o convite para assumir o novo posto veio de surpresa durante o almoço na Fiesp. Ele diz que o principal desafio será estabelecer um diálogo com o setor audiovisual, cujo principal órgão fomentador, a Ancine, a Agência Nacional do Cinema, passou por uma crise sem precedentes neste ano.>
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Além disso, a própria classe cinematográfica, à que Sturm pertence, tem criticado as recentes declarações de Bolsonaro e as suas sucessivas tentativas de intervir no setor.>
"Todo mundo tem que ter voz", diz Sturm à reportagem. Ele acrescenta que "a democracia não é ditadura da maioria". "Tenho disposição para contribuir. Trabalho há 30 anos no audiovisual, acho que tenho um conhecimento que poucas pessoas têm.">
Sturm acrescenta que os problemas enfrentados pela Ancine não têm relação com o atual presidente da República. "A discussão ideológica se misturou", diz. "Uma das minhas primeiras reuniões será com ele [o atual presidente da Ancine] para construirmos uma agenda positiva.">
A nomeação de Sturm foi recebida positivamente por produtores e diretores ouvidos pela reportagem, que disseram ver nele alguém afastado do núcleo ideológico do bolsonarismo e capaz de criar políticas públicas no audiovisual.>
"É uma esperança em um momento tão conturbado ter uma pessoa ligada ao setor", diz o diretor Cao Hamburger. "Espero que consiga trabalhar." Para a produtora Mariza Leão, Sturm conhece as engrenagens do audiovisual. "Ele é do setor, tem experiência internacional em distribuição e sabe como funciona a política pública", acrescenta.>
No mesmo almoço na Fiesp, Roberto Alvim disse que o teto de captação da Lei Rouanet subirá de R$ 1 milhão para R$ 10 milhões, apenas no caso de projetos de teatro musical.>
"Pela experiência que tenho, de mais de 30 anos na área teatral, sei que o teto de R$ 1 milhão inviabiliza produção, mesmo as mais simples", disse Alvim, sobre os musicais.>
No início do ano, o governo reduziu o teto, que era de R$ 60 milhões, para R$ 1 milhão --há exceções para projetos como planos anuais de museus.>
A redução feita pelo governo Bolsonaro foi considerada prejudicial especialmente para os produtores de teatro musical, que inscrevem projetos de altos orçamentos e dizem depender de incentivos.>
Ainda segundo o secretário, essa é "uma mudança fundamental para o segmento, que tem crescido a passos largos e gerado emprego e renda".>
As últimas horas também foram marcadas por outra mudança na área da política cultural. A arquiteta Luciana Rocha Féres, que havia sido anunciada para assumir o Iphan, o órgão que zela pelo patrimônio histórico e artístico do país, teve a sua nomeação suspensa. A suspensão expõe um racha entre o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, e o secretário Roberto Alvim.>
Féres contava com o apoio do ministro. Mas o nome favorito de Alvim, segundo pessoas ouvidas pela reportagem, é Olav Schrader, formado em relações internacionais, ligado à Associação de Moradores de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, e associado a movimentos pró-monarquia.>
Segundo servidores do Iphan, a nomeação de Féres foi bem avaliada no órgão. Ela tem currículo que, julgam, a capacitava para a presidência. Arquiteta e urbanista, ela foi diretora do Conjunto Moderno da Pampulha, em Belo Horizonte, de 2013 a 2016, e gerente de cultura do Sesc-MG.>
Alvim tem proposto nomeações controversas, como a do presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, que deu declarações consideradas racistas pelo movimento negro. Também escolheu para a Funarte o músico Dante Mantovani, que já afirmou que o fascismo é de esquerda e que chama a Unesco de "máquina de propaganda em favor da pedofilia".>
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