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Adriana Calcanhotto lança 'Margem' e conclui trilogia inspirada no mar

Adriana Calcanhotto lança "Margem" e conclui trilogia inspirada no mar

Disco encerra a trinca formada com "Maritmo" (1998) e "Maré (2008)

Publicado em 8 de junho de 2019 às 21:10

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Adriana Calcanhotto navegou por muitos mares até chegar a “Margem”, disco lançado na última sexta-feira (7) depois de cerca de sete anos sem um álbum de inéditas. O trabalho encerra a trilogia que começou 21 anos antes com “Maritmo”, e seguiu em 2008 com “Maré”.

Apesar dos longos intervalos, a cantora não mostrou-se à deriva, muito menos parada no porto: tocou vários projetos, saiu em turnês, rodou o mundo entre um álbum e outro. Não planejou, propriamente dizendo, a concepção de “Margem”, justamente para evitar expectativas que atravessam o trabalho do artista.

“O disco começou a brotar durante a finalização e lançamento do ‘Maré’, em 2008. Ao longo do tempo, fui trabalhando as canções com muita calma, sem pressão, em um momento que realmente tinha muito tempo pela frente. Mas como o conceito veio já no lançamento do segundo, não teve jeito. Quando se tem um nome, já se tem um disco”, conta uma simpática e atenciosa Adriana, em entrevista por telefone ao Gazeta Online.

“Margem” é coeso e também plural. Ao mesmo tempo que passa pelo sentido do mar literal, real, sem metáforas, transita pelas relações de Adriana com as canções praieiras, com os poemas de mar e com a obra literária portuguesa – Adriana dá aulas sobre como escrever canções na Universidade de Coimbra, em Portugal.

Para além do lirismo, a cantora reafirma a veia inventiva no novo disco, em que apresenta batidas eletrônicas (presentes em faixas como “Ogunté” e “Meu Bonde”) e convida o ouvinte a um mergulho profundo por uma bela obra lusófona.

“A diferença deste para os outros discos é que ele é mais urgente. Os oceanos não são mais os de vinte anos atrás e essa tragédia estava há muito anunciada”, frisa Adriana, que levanta a discussão (inclusive na própria capa do álbum) sobre a situação dos oceanos, mas também lança mão da poesia para questionar a própria existência por meio do tema marítimo.

O poema “Os Ilhéus”, de Antonio Cicero – musicado por José Miguel Wisnik –, ganhou versão na voz inconfundível de Adriana. “Tua” e “Era Pra Ser” são canções autorais que já haviam sido gravadas por Maria Bethânia e ganharam novos arranjos.

“Estas Bethânia gravou lindamente e aí eu só posso gravar mesmo porque são minhas, pois depois que Bethânia grava algo, já era! Minha desculpa para regravá-las era essa: pelo menos são canções minhas (risos).”

Em alguns minutos de uma conversa leve mas ao mesmo tempo profunda, é fácil entender por que a cantora continua relevante e ousada mesmo após cerca de três décadas de carreira. Aos poucos, Adriana revela que tem uma relação “quase“ microscópica” com cada canção, mas também não deixa de lado o conceito geral do que produz.

“Eu trabalho mesmo destas duas maneiras. Penso muito em cada canção, mas também no conjunto das canções. Gosto de álbum, de pensar o todo, o conceito, a ordem. Até mesmo por isso é impossível preferir uma faixa do disco”, pondera.

CONTEMPORÂNEA

Em constante movimento, assim como a inspiração maior da trilogia de discos, Adriana – que lançou o primeiro disco em 1990 – ressalta que acompanha também a evolução tecnológica que impacta diretamente no mercado fonográfico.

“Essa coisa da internet, da tecnologia, democratizou os meios de se produzir música. É muito diferente de quando entrei na indústria fonográfica, principalmente porque os estúdios eram só dos homens. Os engenheiros, assistentes, produtores, todos eram homens. Hoje em dia vejo mulheres fazendo suas coisas, donas de suas obras em qualquer canto”, diz.

De olho também nas novas gerações, a cantora credita ao rap a responsabilidade de produzir música de protesto atualmente. Fora disso, diz admirar o trabalho do músico carioca Rubel. “Me parece que ele faz a música que tem vontade, passa uma tranquilidade”, conclui a cantora, que sai em turnê a partir do dia 23 de agosto.

MARGEM

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Adriana Calcanhotto. Sony Music, 9 faixas. Disponível nas principais plataformas de streaming.

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