Sem estudo e sem trabalho, jovens merecem olhar especial dos governantes

Eles têm a obrigação de buscar saídas para inserir a geração nem-nem em uma vida digna, com trabalho e oportunidades, não somente com ajudas emergenciais

Publicado em 23/10/2020 às 06h00
Governo lançou edital para contratar empresas que darão cursos para reinserir 800 jovens no mercado de trabalho
Jovens e a busca por um espaço no mercado de trabalho. Crédito: (Arquivo/Wilson Dias/Agência Brasil

A desolação social provocada por jovens que nem trabalham nem estudam é também reflexo de um país de oportunidades escassas. A falta de perspectivas ajuda a consolidar uma geração de desmotivados que, distantes do mercado de trabalho e da qualificação, abrem um hiato perigoso de desocupação que interfere no próprio desenvolvimento da nação. Não se trata de um problema setorizado, os desolados juvenis não se preparam para a vida profissional e tampouco produzem riquezas, o que tem um impacto social e econômico considerável demais para ser tratado como um mero desvio geracional. 

Os dados mais recentes do IBGE, anteriores à pandemia, mostram que o Brasil possui 10,9 milhões de jovens entre 15 e 29 anos  na situação que se denominou nem-nem, sem estudar e trabalhar. Eles representam 23% da população nesta faixa etária. O temor é que esse número cresça como consequência da crise da Covid-19. Com um ano letivo praticamente riscado do mapa, a evasão escolar deve ser ainda mais representativa do que já costumava ser, sobretudo no ensino médio. Não necessariamente havendo uma transição da escola para o trabalho, diante da escassez de vagas.

apelo da ociosidade também corre o risco de se fortalecer com a prorrogação do auxílio emergencial ou a criação de programas de distribuição de renda que não se preocupem com uma contrapartida sólida de seus beneficiários. Por motivos óbvios, é preciso ter cuidado com essa associação entre uma ajuda que, em uma situação de calamidade como a atual, pode salvar vidas e uma possível acomodação decorrente dela. O que se espera é uma distribuição racional e com estratégia, para impedir que se torne um empecilho à produtividade no médio e longo prazos.

O problema é que o Brasil é pródigo em programas sociais sem porta de saída, por quase sempre esbarrarem no populismo.   As políticas públicas são criadas e recriadas de olho nos dividendos eleitorais. Assim, sobram direitos e escasseiam deveres. É a própria educação que pode contribuir para uma noção de cidadania que impeça a perpetuação desse sentido nefasto da ajuda governamental.

O governo federal deve ter um diagnóstico dos jovens nesta situação, baseado em estatísticas sérias que acompanhem essa faixa etária em situação de tamanha vulnerabilidade social. Não é o caso de apontar o dedo, já que a acomodação desses jovens não necessariamente é confortável. Voltar aos estudos e ao mercado de trabalho pode ser uma vontade derrotada pela descrença da possibilidade de sucesso, sobretudo em um país que não consegue firmar compromissos para melhorar as condições de vida da população.

Educação de qualidade é ainda um privilégio, e é impossível dissociá-la do trabalho remunerado. Quanto mais qualificado, mais portas se abrem. A questão é que a crise econômica deixa essa porta entreaberta, quase fechada, deixando o Brasil em uma situação ainda mais crítica: atualmente, nem quem tem formação acadêmica escapa do desemprego. Mas esse revés não pode desestimular a busca por conhecimento entre os mais jovens: a dedicação ao estudo continua sendo o maior diferencial para uma boa colocação profissional. 

Qualquer ajuda governamental precisa, portanto, ser encarada com seriedade, é uma solução para a calamidade da fome e da miséria, mas os governantes têm a obrigação de buscar saídas para inserir esses beneficiários em uma vida digna, com trabalho e oportunidades. E as providências são urgentes para evitar que a geração nem-nem acabe sendo uma geração perdida.

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