Sem agenda econômica do Planalto, não há juros baixos que nos salvem

As taxas altíssimas de anos atrás eram vexatórias. Mas o Brasil passa por outras vergonhas no contexto internacional ao não conseguir se apresentar como um ambiente saudável para o capital externo

Publicado em 22/06/2020 às 06h00
Atualizado em 22/06/2020 às 06h00
Taxa Selic
Taxa Selic chegou a 2,25%. Crédito: Reprodução | Internet

Selic bateu na última semana a mínima histórica de 2,25% ao ano,  o oitavo corte consecutivo da taxa básica no atual ciclo. Como a alta ou a queda dos juros influencia o consumo das famílias e a tomada de crédito no país, a Selic é mecanismo de controle inflacionário: em alta, os juros servem para reduzir o consumo e forçar uma queda nos preços. Com a inflação muito baixa, o Banco Central a reduz  para estimular o consumo. E o desaceleramento econômico provocado pela pandemia foi o responsável por mais esse corte.

Pela sua natureza, a redução tende a afastar o investimento estrangeiro do país, mas incentiva o gasto do setor produtivo. É, portanto, cobertor curto. E por mais que a queda dos juros altos tenha sido uma reivindicação por muito tempo no país, esse já não é o maior problema do Brasil.

Mesmo com uma política monetária mais racionalizada, não se consegue uma economia pujante sem confiança externa. O ambiente de negócios já era ruim com o apego à burocracia e a falta de produtividade arraigados ao país; com as sucessivas crises políticas e econômicas que se acentuaram a partir de 2014, ele se tornou inóspito.  E assim se mantém, mesmo que alguns passos tenham sido dados para melhorar a imagem fiscal do país, com a reforma da Previdência. Paramos por aí. As crises políticas, ao contrário, reproduzem-se em escala industrial.

A pandemia veio para deixar a ferida da incompetência brasileira ainda mais aberta. A retomada da atividade econômica ainda carece de um plano de ação efetivo para quando a crise sanitária arrefecer, algo com potencial de sair dos discursos e ser implementado. O mais perto de um programa de governo foi o Pró-Brasil, que sem uma amarração dentro do próprio Palácio do Planalto acabou se tornando uma colcha de retalhos feita em alinhavo. Atrair investimentos será primordial, e para isso é preciso uma agenda estruturante.

Não vai ser uma taxa de juros de 2,25% que vai resolver os problemas do país. A redução é uma política coerente, seguindo a linha da economia global. As taxas altíssimas de anos atrás eram vexatórias. Mas o Brasil passa por outras vergonhas no contexto internacional ao não conseguir se apresentar como um ambiente saudável para o capital externo por conta de tanta desarmonia institucional.

Não é só a incerteza do futuro pós-coronavírus, algo da natureza do imponderável, que provoca incerteza por aqui, mas também a incapacidade de se pensar em um projeto conjunto de país em tempos de menos instabilidade.

As reformas que já poderiam ter sido feitas, como a administrativa, neste momento de crise acentuada provam por si só porque já deveriam ter sido implementadas. O ajuste fiscal também se apresenta essencial. Com situações tão emergenciais quanto uma pandemia, um Estado bem organizado, com contas equilibradas, pode se movimentar para ajudar empresas e pessoas e, posteriormente, se reorganizar.  Se o governo federal não superar essa inaptidão propositiva, não há juros baixos que nos salvem.

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