Quando Paulo Guedes dá um tiro no pé, quem não anda é o país

Declaração infeliz sobre viagens de empregadas domésticas à Disney soma-se a discursos desastrosos do ministro da Economia e de outras figuras do governo Bolsonaro, que causam danos não apenas à reputação dos autores, mas ao avanço de políticas

Publicado em 14/02/2020 às 04h00
Atualizado em 14/02/2020 às 04h02
O ministro da Economia, Paulo Guedes, durante o seminário Declaração de Direitos de Liberdade Econômica, em 2019. Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasi
O ministro da Economia, Paulo Guedes, durante o seminário Declaração de Direitos de Liberdade Econômica, em 2019. Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasi

Nem bem havia se recuperado da gafe de comparar funcionários públicos a parasitasPaulo Guedes já está de volta ao ringue com mais uma declaração infeliz. Desta vez, o ministro da Economia demonstrou um elitismo mal-cheiroso ao dizer que até empregadas domésticas estavam indo para a Disneylândia. “Uma festa danada”, emendou, numa clara demonstração de preconceito social.

A declaração empilha-se sobre outras falas atravessadas de Guedes e de várias figuras do governo Jair Bolsonaro, incluindo o próprio presidente, que, de polêmica em polêmica, vão acumulando não apenas opiniões condenáveis como também reveses à governança. Os prejuízos não atingem apenas a reputação dos autores das bobagens, mas todo o país.

O mesmo ministro já havia recebido críticas por outras pérolas do mau gosto. Em abril de 2019, afirmou que não era para os brasileiros se assustarem com a volta do AI-5, referindo-se ao instrumento que recrudesceu a ditadura militar no Brasil em 1968 e fechou o Congresso, cassou mandatos e causou a morte de centenas de pessoas. No mês seguinte, enfiou o país em um incidente diplomático ao abraçar a misoginia e dizer que a primeira-dama francesa, Brigitte Macron, era “feia mesmo”.

Somadas à artilharia de parvoíces do clã Bolsonaro e de ministros como Ricardo Salles, Damares Alves e Abraham Weintraub, o governo federal tem sido pródigo em discursos desastrosos. As declarações polêmicas podem até ser endossadas pela ala mais radical do eleitorado, fiel até debaixo d’água, mas o desconforto é crescente, pelos efeitos práticos da falta de bom senso. Os danos não estão restritos à retórica.

Durante a complicada batalha no Congresso pela aprovação da reforma da Previdência, não foram poucas as vezes em que Bolsonaro foi acusado de ser o maior inimigo de seu governo, por atrapalhar o andamento das votações a cada polêmica. Se a reforma passou, foi graças ao protagonismo dos parlamentares.

Neste 2020, o Brasil está cara a cara com novos grandes desafios, especialmente na agenda econômica, para enfrentar os mais de 12 milhões de desempregados e os mais de 30 milhões de trabalhadores informais. E lá vem Guedes, em meio à espinhosa negociação em torno da PEC da Emergência Fiscal, pacote elaborado por ele com a nobre missão de equilibrar as contas públicas, gerar mais ruído no cenário político.

O desgaste em torno dos “parasitas” também foi tanto que o governo já pensa em não apresentar proposta própria para a reforma administrativa, outro conjunto de mudanças importantes que tende a ficar nas mãos do Legislativo. Não há nada de errado com o empenho de deputados e senadores em tocar projetos, pelo contrário. O problema é quando o governo joga areia em uma relação que deveria ser mais azeitada. Quando autoridades do quilate do ministro da Economia ou do próprio presidente dão um tiro no pé, quem não anda é o país.

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