Força da mulher na política do ES ainda se limita a destaques pontuais

Jaqueline Moraes é a primeira vice-governadora do Estado, um exemplo de atuação política feminina que ainda não se encontra disseminado em todas as esferas

Publicado em 25/08/2020 às 05h59
Atualizado em 25/08/2020 às 08h37
Vice-governadora do ES, Jaqueline Moraes
Vice-governadora do ES, Jaqueline Moraes. Crédito: Vice-governadoria/Leandro Braga

Quando Rita Camata foi candidata a vice-presidente na chapa com o tucano José Serra em 2002, a então parlamentar, que em sua carreira teve cinco mandatos  na Câmara Federal, esteve perto do que seria o posto mais alto já alcançado por uma mulher capixaba na política nacional. Dezesseis anos depois, foi o próprio Espírito Santo que fez história com a eleição de sua primeira vice-governadora, Jaqueline Moraes, atualmente no cargo.

Sem desmerecer esses destaques femininos, inquestionáveis marcos para a representatividade de gênero no Estado, a verdade é que na estrutura os avanços têm sido mais lentos do que parecem, e a política local continua sendo majoritariamente masculina. Em um nível que chega a causar surpresa quando se olha o cenário das últimas décadas de perto.

Por isso o levantamento feito por este jornal em sua edição de fim de semana é tão revelador. Em quase meio século, a participação feminina na política ainda é ínfima quando se analisam os números. Em ano de eleições para o Executivo e Legislativo municipais, chama atenção a informação de que, nos últimos 48 anos, dos 771 vereadores eleitos nas cidades de Vitória, Serra, Vila Velha e Cariacica, apenas 29 foram mulheres.

Até na esfera em que a atuação política é mais próxima da população, com necessário comprometimento com as demandas comunitárias, as mulheres, muitas vezes as que mais sofrem com as carências em suas ruas e bairros, ainda não conseguem consolidar uma liderança. Atualmente, dos 74 edis que compõem o Legislativo nas principais cidades da Grande Vitória, apenas sete são mulheres. E isso em um Estado em que elas são aproximadamente 51% da população, de acordo com o IBGE.

Nos anos 1990, foi instituída a cota de gênero, obrigando as siglas a distribuir suas candidaturas para ocupar os Legislativos com um máximo de 70% de candidatos de um gênero. Obviamente coube às mulheres os 30% restantes. Foi uma regra importante, mas com impacto limitado nas urnas e, principalmente, na mentalidade masculina que ainda impera na política. 

Na eleição municipal deste ano, os partidos terão que aplicar a mesma proporção na divisão dos recursos do fundo eleitoral, para as campanhas, esperando assim mais competitividade das candidaturas femininas. É importante que a Justiça Eleitoral esteja tão atenta à necessidade de ampliação da diversidade, estimulando o protagonismo feminino. Mas não se pode negar que há percalços na própria sociedade que acabam se refletindo na dificuldade de ampliar essa participação política.

Mulheres ainda seguem acumulando funções no trabalho e na família e ainda sofrem o preconceito por serem simplesmente mulheres. A elas fica relegado o papel de coadjuvante mesmo quando são eleitas. É como se a atuação política não estivesse no espectro das possibilidades para uma mulher, o que exige uma sistemática desconstrução cultural.

Nos níveis estadual e federal, não tem sido diferente. Também nos últimos 48 anos, somente 13 mulheres foram eleitas deputadas estaduais no Espírito Santo e nove conseguiram um lugar ao sol em Brasília. E, nesses casos, há pouca renovação, permanecendo nomes já estabelecidos. Não que seja um problema como um aspecto da própria consolidação da carreira política, mas um dos grandes desafios é também o estímulo a novas personagens.

Com as siglas sendo obrigadas a terem mais lideranças partidárias, terão que investir mais na capacitação de suas filiadas, o que tem um potencial de qualificar a participação política. Uma chance de fazer valer as vozes femininas também fora dos guetos identitários dos partidos.

Não é fácil. As superações dos estigmas, principalmente diante de caciques políticos estabelecidos, continuam sendo intrínsecas às próprias decisões de ingressar nesse terreno minado, dominado por homens. Temas como assédio, maternidade e carreira estão cada vez mais presentes no debate público nacional e dependem de mulheres que os priorizem, mas o papel delas está muito além dessas urgências. No nível municipal, estão prontas para lutar por infraestrutura nos bairros, educação de qualidade e saúde. Mas, acima de tudo, as mulheres estão aptas a encabeçar as decisões que definirão os rumos da nação.

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