Chuva no ES: quando tudo é desespero, solidariedade faz o recomeço ser possível

Além das perdas humanas e daqueles que escaparam por pouco, os prejuízos materiais nas cidades mais antigidas pelas fortes chuvas ficaram explícitos quando a água escoou

Publicado em 26/03/2024 às 01h00

Gilda Hastemreitez Leite, de 50 anos, era uma enfermeira aposentada que morava na Casa Reviver, para pessoas com deficiência. Durante o temporal que atingiu o Sul do Espírito Santo na madrugada de sábado (23), ela chegou a enviar uma mensagem de áudio para tranquilizar os familiares. Não sobreviveu à tragédia, em Mimoso do Sul.

Gilda é uma das pessoas que morreu na casa para pessoas com deficiência e mandou um áudio antes da chuva destruir o local onde morava.
Gilda é uma das pessoas que morreu na casa para pessoas com deficiência e mandou um áudio antes da chuva destruir o local onde morava. Crédito: Fernando Madeira

Em Apiacá, Marita Resende. de 87 anos, foi salva por vizinhos que conseguiram quebrar a janela e puxá-la para o telhado. "Achei que eu fosse morrer afogada", disse a sobrevivente, que correu o risco de ser arrastada pela correnteza.

Adair Antônia Fernandes, de 43, não sobreviveu ao deslizamento que provocou o desabamento da casa em que estava com o marido, que permanece internado, e os filhos de 6 e 3 anos. O mais novo teve ferimentos leves, enquanto o mais velho estava desaparecido até a noite desta segunda-feira (25).

Casa da família de Adair foi atingida por um deslizamento de terra e ficou totalmente destruída em Mimoso do Sul, Espírito Santo
Casa da família de Adair foi atingida por um deslizamento de terra e ficou totalmente destruída em Mimoso do Sul, Espírito Santo. Crédito: Reprodução | Redes Sociais

Além das perdas humanas e do trauma daqueles que escaparam por pouco, os prejuízos materiais nas cidades mais antigidas pelas fortes chuvas ficaram explícitos quando a água escoou. Um cenário de destruição tomou conta das ruas.

 Em Mimoso do Sul, a família de Maitê, que foi resgatada de um deslizamento, teve de encarar duas perdas: a da própria casa e a do negócio que garantia o seu sustento, uma farmácia. "A gente veio e levantou as coisas (na sexta) porque esperamos que choveria como sempre, quando sobe uns 30 centímetros, mas acabou tudo. Eu perdi minha casa, minha farmácia, foram 15 anos perdidos, é desesperador", lamentou a comerciante.

Esse é apenas um pequeno recorte da tragédia nos municípios do Sul do Estado afetados pela chuva. Muito mais gente sofre neste momento, pela perda de familiares e amigos. Até a noite desta segunda-feira (25), foram 19 mortes, duas em Apiacá e 17 em Mimoso do Sul. E mais de 7,7 mil pessoas fora de casa.

Como recomeçar? O caminho é difícil, principalmente para aqueles que só têm a roupa do corpo, mas a esperança vem dos milhares de desconhecidos que prontamente começaram a doar.

Desde sábado, uma onda de solidariedade tomou conta do Espírito Santo, repetindo mobilizações de outras tragédias provocadas pela chuva. Governo do Estado, prefeituras, entidades... tendo sempre como protagonista o cidadão comum, que nessas horas demonstra o seu melhor. Quase que imediatamente começaram a se formar montanhas formadas por caixas, sacolas, fardos de água, uma verdadeira representação do espírito solidário.

A tragédia poderia ser ainda maior sem essas mobilizações. As doações não resolvem todos os problemas – e nem tem como suprir as lacunas que cabem ao poder público –, mas são um belo exemplo de humanidade. Algo que deveria servir de inspiração em todos os aspectos da vida.

Samu foi acionado, mas quando chegaram o pequeno Adryan já havia nascido
Samu foi acionado, mas quando chegaram o pequeno Adryan já havia nascido. Crédito: Divulgação/ Samu

Os mortos em Mimoso do Sul e Apiacá não podem ser esquecidos. Mas o bebê que nasceu em meio ao caos, na noite de domingo (24), acaba nos lembrando  da força da vida diante das tragédias. E a solidariedade é também uma força que possibilita os recomeços.

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