Brasil precisa passar da contemplação à ação para voltar a crescer

Esperam-se respostas governamentais, com a escolha de prioridades para o país neste momento de tantas fragilidades econômicas e sociais. São atitudes concretas que vão provocar a esperada recuperação econômica, não a inércia

Publicado em 03/09/2021 às 02h00
Ministro da Economia
O ministro da Economia, Paulo Guedes, durante entrevista coletiva. Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Há quanto tempo o brasileiro aguarda ansiosamente a tal retomada, essa palavrinha com tanto significado econômico e social? O país atravessou a segunda metade da década passada na expectativa de crescimento econômico robusto e da redução substancial do desemprego, após decisões macroeconômicas equivocadas, com foco no descontrole dos gastos públicos, que colocaram tudo a perder.

O mandato-tampão de Michel Temer conseguiu começar a organizar a casa, com um caráter reformista positivo para a credibilidade econômica do país, mas ainda naufragando em consecutivas crises políticas. A chegada de Jair Bolsonaro ao Planalto também teve a promessa de uma reformulação do papel do Estado, guiada por Paulo Guedes, que tampouco conseguiu deslanchar uma retomada. Mesmo que tenha encontrado uma crise sanitária planetária no seu caminho, está cada vez mais evidente que o governo Bolsonaro é o pior inimigo do governo Bolsonaro.

E é por isso que o recuo de 0,1% no PIB no segundo trimestre de 2021, em relação aos três meses anteriores, não chega a frustrar tanto as expectativas, porque elas não andam lá tão altas. Mesmo que a previsão para o período fosse de crescimento de 0,2%, os prognósticos ainda são positivos para o ano. Caso o otimismo com a produção de riquezas nacionais se confirme, há um quadro de desolação econômica ainda grave demais, com o desemprego ainda expressivo de 14 milhões de brasileiros, uma inflação em disparada que deve continuar tendo impacto na taxa de juros e no consumo das famílias e a perspectiva de piora na crise hídrica e energética. 

A assimetria da recuperação que se desenha para 2021 é resultado, obviamente, de conjunturas desfavoráveis ou não que têm impacto nos resultados de determinados setores. O ritmo da vacinação no país é  positivo para o setor de serviços, o que mais emprega no país, e o comércio, mas continua sob a sombra da variante Delta. Ao mesmo tempo que o agronegócio sofre com a estiagem ou é afetado pela sazonalidade. Mas o que se pode afirmar é que o país não se encontra estruturalmente preparado para essas oscilações por não conseguir deslanchar as reformas. Não é um caso de cobertor curto, o Brasil ainda está ao relento. 

Em 2021, a projeção é de que a economia brasileira cresça em torno de 5%, na comparação com o ano atípico de 2020. Para o próximo ano, a perspectiva é de um crescimento próximo de 2%, o que colocaria o Brasil no ritmo do final do governo Temer e início do Bolsonaro. Níveis pré-pandemia, portanto. O que achata esse índice previsto, que já foi maior, é a instabilidade política provocada pelo próprio governo, mais focado no populismo que garanta a reeleição do que em resultados concretos para o país. Os investimentos fogem de países que não inspiram confiança.

A década perdida do século 21 se arrasta para esta que se inicia, e não se pode culpar somente a pandemia por isso, certos de que os desequilíbrios econômicos provocados por ela não sumirão como mágica. Esperam-se respostas governamentais, com a escolha de prioridades para o país nesse momento de tantas fragilidades econômicas e sociais. São atitudes concretas que vão provocar a esperada recuperação econômica, não a inércia, à espera de mudanças de conjuntura. 

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