Publicado em 16 de junho de 2018 às 23:43
Sítio, fazenda, apartamentos, carros de luxo, avião e até iates. Um patrimônio milionário foi construído pelos sócios e colaboradores da Telexfree com recursos obtidos de maneira ilícita, segundo processos criminais contra eles.>
De acordo com as autoridades, além de usar recursos ocultos para fazer esses investimentos, os suspeitos registraram o patrimônio em nome de laranjas para evitar apreensões.>
Cinco anos após o bloqueio das atividades da empresa no Brasil pela Justiça do Acre numa ação civil pública, vítimas da empresa ainda não receberam o que investiram no negócio, algo que só poderá acontecer ao final dos processos penais e de execução fiscal que tramitam na Justiça Federal do Espírito Santo.>
Embora esteja bloqueada, parte dos bens continua em posse dos envolvidos à espera de um desfecho para o emblemático caso, apontado como a maior esquema de pirâmide da história.>
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O Ministério Público Federal chegou a solicitar a alienação antecipada de parte do patrimônio, como a fazenda Portobelo, localizada no município de Lajedão, na Bahia, uma área que vale mais de R$ 8,8 milhões. Porém, esse pedido não foi aceito pelo Judiciário.>
Carros e um avião apreendidos na Operação Orion, deflagrada em julho de 2014 pela Polícia Federal, devido à depreciação voltaram para as mãos dos donos da Telexfree e de líderes da empresa até que a Justiça decida pela condenação ou absolvição dos citados.>
De acordo com as ações penais, um dos sócios da Telexfree, Carlos Roberto Costa é dono de um sítio de R$ 1,5 milhão em Xuri, em Vila Velha, além de apartamentos no mesmo município e também no exterior.>
Já Carlos Wanzeler, outro sócio da empresa, é acusado de ocultar 24 imóveis comprados nos Estados Unidos.>
Ações penais>
São ao menos 19 ações penais, 16 por conta de lavagem de dinheiro e evasão de divisas, um por crime contra a ordem tributária, outro pela venda de valores mobiliários. O maior processo, que apura a formação de uma instituição financeira sem autorização do Banco Central, está em fase de julgamento. Duas audiências foram realizadas em maio. Testemunhas devem ser escutadas ainda em julho e em agosto.>
JULGAMENTO TERÁ MAIS DE 70 TESTEMUNHAS>
Entre todos os processos que tramitam na 1ª Vara Federal Criminal de Vitória, o caso da Telexfree é o maior. Somente o processo principal contra Carlos Costa, Carlos Wanzeler e Lyvia Wanzeler em fase de julgamento terá mais de 70 testemunhas de defesa e acusação.>
Outras ações penais sobre o esquema, que pode ter deixado mais de 4 milhões de vítimas em todo o mundo, tem se desmembrado em outros processos menores por envolver pessoas que vivem no Estados Unidos, como é o caso da ex-mulher de Wanzeler, uma das filhas de Costa e de Sanderley Rodrigues.>
Os réus que moram em outros países têm sido encontrados pela Justiça por meio de um acordo de cooperação internacional>
Essa separação tem o objetivo de evitar que os processos penais fiquem parados ou que andem lentamente.>
O advogado da Telexfree Rafael Lima foi procurado, mas até o fechamento desta edição não respondeu à reportagem.>
PATRIMÔNIO DOS DONOS DA TELEXFREE>
Bens comprados em operações de lavagem de dinheiro, segundo as autoridades>
Telexfree>
- Prédio na Rua Coronel Sodré, em Vila Velha, que servia de ambiente físico e sede de diversas empresas relacionadas à Telexfree;>
- Duas salas no Edifício Infinity, na Praia da Costa, em Vila Velha;>
- Fazenda Portobelo, localizada no município de Lajedão, cujo valor aproximado é de R$ 8,8 milhões.>
Família Costa>
- Sítio Xuri, em Vila Velha, localizado em Xuri, no valor de R$ 1,5 milhão;>
- Edifício Pietro, em Vila Velha, com três apartamentos e um ponto comercial. Foi construído em terreno comprado por Carlos Costa dos sogros por R$ 105 mil;>
- Apartamento no Edifício Émile Zpçá, na Avenida Hugo Musso, em Vila Velha, no valor de R$ 200 mil;>
- Apartamento no Edifício Marlim, na Rua Gil Veloso, em Vila Velha;>
- Apartamento no Edifício Iemanja, em Itapoã, no valor de R$ 168 mil;>
- 10 apartamentos em Pompano Beach, Flórida.>
Família Wanzeler>
- 24 imóveis nos Estados Unidos, no valor total de R$ 21,5 milhões;>
- Apartamento no condomínio Victoria Bay, na Enseada do Suá, em Vitória;>
- A SEC, a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos, acusa Wanzeler de ter comprado sete carros e três iates, além de 34 imóveis;>
- Segundo o órgão, ele pagou US$ 192 mil (R$ 441 mil) por duas Ferraris F340, em março de 2013, e US$ 56 mil (R$ 128 mil) por um Porsche, em fevereiro de 2013. Também comprou três BMWs e um Toyota Highlander;>
- Entre os barcos, um investimento que chamou a atenção foi de um iate de 40 pés pelo qual pagou US$ 273 mil (R$ 627 mil), em dinheiro, em outubro do ano passado.>
Denúncias>
- Lavagem de dinheiro e evasão de divisas>
- São 16 denúncias somente de lavagem de dinheiro e evasão de divisas, que contabilizam R$ 268 milhões;>
- Uma das denúncias envolve envio de remessas para o exterior pelo sistema chamado dólar-cabo, quando o cliente entrega o dinheiro em reais no Brasil e recebe dólares no exterior. Foram 259 operações que movimentaram R$ 5,04 bilhões;>
- Transações ocultas também foram realizadas, segundo as autoridades, para a compra de uma BMW, um Toyota Corolla e um Toyota Prius.>
Crime contra o sistema financeiro>
- Uma das ações penais julga supostos crimes de venda de valores mobiliários e crime contra a economia popular;>
- Outra ação analisa indícios de que a Telexfree realizava operações autorizadas apenas para as instituições bancárias, com a emissão de moeda eletrônica.>
Operação Orion>
Carros de luxo e outros bens como avião chegaram a ser apreendidos na Operação Orion, mas a posse voltou para os investigados.>
ENTENDA>
O início de tudo>
A Telexfree começou a operar em fevereiro de 2012. Em 2013, seu crescimento chamou a atenção, e a empresa passou a ser investigada pela Promotoria de Defesa do Consumidor do Acre e pela Polícia Federal no Espírito Santo.>
Bloqueio da empresa>
Em 18 de junho de 2013, o Ministério Público do Acre (MPAC) consegue, por meio de uma medida cautelar, bloquear a Telexfree. Um mês depois, a entidade entrega à Justiça a ação civil pública final contra a empresa, pedindo a liquidação da Telexfree.>
Acusações nos EUA>
Em abril de 2014, a Divisão de Valores Mobiliários de Massachusetts anuncia que processou administrativamente a Telexfree por formação de pirâmide. No mesmo dia, a sede da empresa é invadida por agentes do FBI.>
Operação Orion>
Em 24 de julho de 2014, a Polícia Federal no Espírito Santo deflagra a Operação Orion para suspender as atividades da Telexfree que continuam a ocorrer apesar da decisão da Justiça do Acre. A partir daí, a empresa é oficialmente investigada por crimes contra o sistema financeiro.>
Sentença>
Em setembro de 2015, a Justiça do Acre mandou a Telexfree devolver o dinheiro aos divulgadores, o que não foi feito porque os bens continuam sequestrados pela Justiça Federal no Espírito Santo.>
Novas denúncias>
Em 2017, o MPF apresentou à Justiça Federal no Espírito Santo 19 denúncias contra 37 pessoas que estão envolvidas com a Telexfree.>
Liberação do dinheiro para as vítimas>
Só deve ocorrer após o fim dos processos criminais e de execução fiscal que correm na Justiça Federal do Espírito Santo.>
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