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Senado aprova projeto de reciprocidade econômica às vésperas das tarifas de Trump

Senado aprova projeto de reciprocidade econômica às vésperas das tarifas de Trump

Proposta estabelece critérios para que Brasil responda a ‘medidas unilaterais’ adotadas por países ou blocos econômicos que afetem a competitividade internacional do País; texto segue para a Câmara

Publicado em 1 de abril de 2025 às 19:01

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BRASÍLIA - Com 70 votos favoráveis e nenhum contrário, o Senado Federal aprovou, nesta terça-feira (1º), o "PL da Reciprocidade", projeto de lei que estabelece critérios para que o Brasil responda a "medidas unilaterais" adotadas por países ou blocos econômicos que afetem a competitividade internacional do País.

A matéria já havia sido aprovada mais cedo pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, em caráter terminativo, ou seja, sem a necessidade de que o texto fosse para a análise do plenário. No entanto, o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP), considerou de "bom tom" que a apreciação não se restringisse ao colegiado.

Plenário do Senado Federal durante sessão deliberativa ordinária.
"PL da Reciprocidade" foi aprovado com 70 votos favoráveis no Senado. (Andressa Anholete/Agência Senado)

A matéria segue, então, para a Câmara dos Deputados. Na expectativa de Randolfe, o ideal é que os deputados aprovem o texto até esta quarta-feira (2), como um gesto de resposta ao "tarifaço" do presidente dos Estados UnidosDonald Trump, a ser anunciado na data. O projeto permite que governo brasileiro possa aplicar contramedidas quando seus produtos sofrerem retaliações desmedidas de outros países.

O texto original, de autoria do senador Zequinha Marinho (PL-PA), tinha como proposta somente obrigar os demais países a cumprirem padrões ambientais compatíveis aos do Brasil, em caso de comercialização de bens. A relatora Tereza Cristina (PP-MS), porém, ampliou o escopo das regras e estabeleceu critérios para que o Poder Executivo suspenda concessões comerciais, investimentos e obrigações relativas a direitos de propriedade intelectual.

Segundo o substitutivo aprovado na CAE, a suspensão de caráter comercial serve como “resposta a ações, políticas ou práticas unilaterais de país ou bloco econômico que impactem negativamente a competitividade internacional brasileira”. A lei pode ser aplicada se um país ou bloco econômico adotar ações que representem:

Com a proposta, o Executivo fica autorizado a adotar, isolada ou cumulativamente, as seguintes medidas:

O projeto prevê que as contramedidas sejam, na medida do possível, proporcionais ao impacto econômico causado pelas ações dos países ou blocos internacionais. Também serão necessárias consultas diplomáticas para mitigar ou anular os efeitos das medidas e contramedidas. Além disso, ficam estabelecidas consultas públicas para a manifestação das partes interessadas.

O projeto diz ainda que o Executivo poderá estabelecer uma alíquota distinta para a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) e para a Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional (Condecine).

No relatório aprovado na CAE, Tereza Cristina acolheu uma proposta de emenda do senador Oriovisto Guimarães (PSDB-PR) para estabelecer que deve ser utilizada em caráter excepcional a contramedida de suspensão de concessões ou de outras obrigações do Brasil relativas a direitos de propriedade intelectual em ocasiões comerciais. A aplicação ocorreria quando as demais contramedidas forem consideradas inadequadas.

Além disso, Cristina decidiu substituir as referências à Câmara de Comércio Exterior (Camex) e ao Conselho Estratégico da Camex) e facultar ao Poder Executivo a adoção das contramedidas listadas.

O projeto ganhou repercussão no ano passado, quando o CEO do Carrefour na França, Alexandre Bompard, havia anunciado que deixaria de vender carnes oriundas do Mercosul. Com a decisão da relatora de ampliar o escopo do projeto, as contramedidas poderão alcançar o “tarifaço” a ser estabelecido por Trump.

“Esse é um projeto de proteção aos produtos brasileiros e não contra outros países”, declarou Tereza Cristina. “Se o Brasil tiver os seus produtos com retaliações desmedidas, hoje o governo passa a ter a possibilidade de fazer essas contramedidas na mesma base de que vem os outros países ou blocos econômicos”, continuou.

Durante a votação, Cristina lembrou que o Brasil tem hoje um “problema com a União Europeia, com uma lei antidesmatamento, que afeta diretamente os produtos brasileiros, principalmente a agropecuária brasileira”. “E são medidas que extrapolam a razoabilidade, porque ignoram a lei do Código Florestal brasileiro.”

A relatora também fez menção ao anúncio do “tarifaço” dos Estados Unidos. O lançamento das taxações americanas sobre os produtos estrangeiros está previsto para esta quarta-feira, 2. “Amanhã (quarta), nós devemos ter um pacotaço tarifário dos Estados Unidos, que vêm fazendo isso não só com o Brasil, mas com outros países”, lembrou a senadora. Ela prosseguiu: “E aí então o governo brasileiro tem ferramentas para contrapor quando essas medidas forem desarrazoadas contra o nosso mercado”.

Segundo o presidente da CAE, Renan Calheiros (MDB-AL), o colegiado vai pedir que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB) paute o projeto sob regime de urgência.

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