> >
Regulação de preço pela ANP pode ajudar venda de refinarias

Regulação de preço pela ANP pode ajudar venda de refinarias

Para especialistas, medida atrai investidores. Presidente da Petrobras defende autonomia

Publicado em 7 de junho de 2018 às 10:37

ANP Crédito: Reprodução

A decisão do governo de repassar para a Agência Nacional do Petróleo (ANP) a definição de uma periodicidade mínima no reajuste dos combustíveis pode ajudar a Petrobras a vender parte de suas refinarias. Segundo uma fonte do governo envolvida nas negociações, a greve dos caminhoneiros — motivada pela insatisfação com os ajustes quase diários nos valores do diesel — reforçou a necessidade de aumentar a concorrência no setor. A regulamentação dos reajustes via ANP funcionaria como um anteparo técnico à ação do governo, mantendo a confiança dos investidores para avaliar unidades de refino que a Petrobras colocou à venda. Isso porque a regulação seria menos suscetível a mudanças em caso de troca de governo. Por outro lado, a iniciativa contraria interesses de importadores e desafia a Petrobras a resguardar sua autonomia para evitar prejuízos.

O novo presidente da estatal, Ivan Monteiro, reafirmou nesta quarta-feira, em seu primeiro comunicado aos funcionários, a defesa da política de preços, que repassa as oscilações da cotação internacional do petróleo e do câmbio para preservar suas finanças: “A capacidade de estabelecer nossos preços como um reflexo das variações do preço do petróleo, sem perdas para companhia, e competir de igual para igual neste mercado são condições essenciais para que a Petrobras seja capaz de cumprir seu papel de empresa que gera riqueza e desenvolvimento. Não vejo nenhuma contradição entre esses objetivos”, afirmou o executivo na mensagem interna. Para o executivo, a empresa deve contribuir com uma solução para a atual crise provocada pela greve dos caminhoneiros, mas fez questão de renovar seu compromisso com “os princípios que consideramos essenciais para esse equilíbrio e para que a Petrobras consolide a recuperação que já começamos.”

Praticamente monopolista no refino, a estatal colocou à venda, em abril, uma participação majoritária de 60% em quatro refinarias em dois blocos regionais: Nordeste (Abreu e Lima e Landulpho Alves) e Sul (Alberto Pasqualini e Presidente Getúlio Vargas). O plano é ficar com o controle da operação no Sudeste, onde está a maioria das unidades de refino da companhia, o que manteria 75% do mercado brasileiro. Atualmente, tem mais de 95%.

FALTA DE COMPETIÇÃO

Na terça-feira, o diretor-geral da ANP, Décio Oddone, defendeu a importância da venda de refinarias da Petrobras para estimular a competição nesse segmento. Nesta quarta, a ANP realizou a primeira reunião com representantes do setor de refino, distribuição e revenda de combustíveis para discutir sobre a consulta pública que a agência vai realizar de 11 de junho a 2 de julho para buscar contribuições a uma resolução sobre periodicidade do repasse dos reajustes de combustíveis.

- O reajuste periódico é razoável — avalia Mauricio Tolmasquim, professor de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ e ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). — Fazer política energética não é interferir na empresa, mas manter regras claras aos investidores.

Giovani Loss, advogado do escritório Mattos Filho, explica que vários países adotam medidas para amortecer a variação internacional do preço do petróleo no mercado de combustíveis, como uso de impostos como colchão “amortecedor” ou adoção de uma periodicidade de reajuste. Apesar de considerar a política de preços da Petrobras correta, avalia que os incômodos aparecem pela falta de competição:

- Um mercado de preços livres, com uma empresa monopolista não é ideal. Por isso é preciso incentivar a concorrência no refino.

Para Luis Semeghini de Souza, do escritório Souza, Mello e Torres, a perspectiva de alta da demanda por combustível com a recuperação da economia é um fator de atração de investidores para refinarias no Brasil que não muda. Ele lembra que uma eventual política de reajustes periódicos pode afetar os importadores de diesel e gasolina:

- Para os importadores é mais complicado, pois comprarão combustível de fornecedores cujo preço acompanha o mercado internacional e seu concorrente (a Petrobras) não estará repassando as oscilações (das cotações internacionais).

24% DO ABASTECIMENTO

Sérgio Araújo, presidente da Abicom, que reúne empresas responsáveis por 60% das importações de diesel e gasolina, diz que, se houver mudança na política de preços no refino, as importadoras vão se adaptar, mas defende o modelo de precificação adotado por Pedro Parente na Petrobras. Segundo ele, a política contribuiu para a descentralização no segmento de distribuição, pois muitas distribuidoras regionais com restrições de acesso à Petrobras passaram a comprar combustível das importadoras. As importações de diesel e gasolina responderam por 24% do abastecimento este ano, na média mensal.

A poucos meses do fim do mandato do presidente Michel Temer, integrantes do Executivo afirmam que não há tempo suficiente para mexer de forma significativa no mercado. Nesse momento, a principal aposta é na parceria que a ANP fez com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). De forma reservada, integrantes do Executivo criticam a postura do Cade, que vetou recentemente a venda da subsidiária Liquigás pela Petrobras para o grupo Ultra, mas não recomendou à estatal a venda de ativos. Em nota, o Cade informo que “somente pode determinar a venda de ativos a uma empresa no âmbito de atos de concentração econômica e processos administrativos para investigação de conduta anticompetitiva”.

Ainda nesta semana, deverá ser editada uma portaria conjunta criando um grupo de trabalho para discutir a implementação de medidas para melhorar o mercado brasileiro de combustíveis. Os técnicos terão como referência um estudo recente do Cade que apresenta um conjunto de nove propostas, entre as quais a instalação de postos de autosserviço — ou seja, sem frentistas —, o fim da proibição de importação pelas distribuidoras, a permissão para que os produtores de álcool vendam diretamente aos revendedores, a presença de postos de gasolina em hipermercados e outros espaços urbanos, além de mudanças na forma de tributação.

Este vídeo pode te interessar

  • Viu algum erro?
  • Fale com a redação

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais