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Qualidade de vida deve pesar mais do que boa remuneração

Qualidade de vida deve pesar mais do que boa remuneração

Hora de abrir mão do alto salário para realizar um sonho precisa ser planejada

Publicado em 24 de dezembro de 2018 às 01:42

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Rafaela Sá trocou cargo de gerência para ter seu salão para cabelos naturais. (Vitor Jubini)

Se um emprego paga bem, mas está desgastante, faz mal ou mesmo parece ser pouco útil, talvez seja a hora de abrir mão do salário e dar um giro de carreira, segundo especialistas. Para muitos, é nesse momento também que chega a oportunidade de realizar um sonho de vida, como ser dono do próprio negócio, por exemplo, ou partir para outra área de atuação.

Foi exatamente o que aconteceu com Rafaela Sá Carraretto, 29 anos, que trabalhou por quase quatro anos numa rede de lojas de roupas de grife de atuação internacional em Vitória. Ela chegou a fazer um curso pela empresa na Espanha, viajou o Brasil dando treinamento para funcionários, e quando retornou, prestes a assumir uma função de gerência na loja, decidiu largar tudo.

“Eu comecei a me questionar se aquilo realmente era para mim, e vi que não era. Apesar de ter um bom local de trabalho, eu me sentia infeliz naquela rotina louca. Eu não queria subir mais degraus naquela carreira, queria ser feliz e cuidar de mim”, diz Rafaela, que conta ainda como começou o seu negócio:

“Um amigo tinha me dado uma sugestão de montar um blog dando dicas sobre cabelos naturais. Aí me veio a ideia de ser hairstylist, porque eu via que tinha demanda para isso. E comecei a me especializar profissionalmente nisso, e estou há mais de um ano com o salão TinaCurly Hair, que começou na sala do apartamento do meu pai. No primeiro mês, já percebi a diferença na qualidade de vida e, apesar de ainda ganhar menos do que recebia lá, estou feliz e o negócio está crescendo”, comenta.

Mudança

Segundo a psicóloga especialista em pessoas e carreira Gisélia Freitas, jovens como Rafaela estão deixando de buscar uma profissão apenas pela remuneração. “Estamos em um momento diferente no mercado de trabalho. Antes, as pessoas buscavam profissão por obrigação, por desejo da família ou um anseio da sociedade. Hoje, esses jovens querem algo que os completem, porque profissão é um casamento”.

Gisélia ainda pondera: “Será que uma pessoa de 17 anos tem consciência para poder escolher sua profissão? A maioria escolhe algo que dê segurança e dinheiro. Já hoje em dia há uma busca incessante pela felicidade”, diz.

Projetos

Trocar um bom emprego para empreender, porém, exige planejamento. Segundo Gisélia, é preciso ser sensato, não colocar o carro na frente dos bois e até mesmo reavaliar projetos.

Foi o que fez o profissional de Tecnologia da Informação Thomas Souza Silva, 32 anos. Ele teve que mudar o estilo de vida e precisou até adiar o casamento com a noiva para mudar o rumo da carreira e tirar do papel o projeto de ter a sua empresa de suporte de TI. A troca foi difícil, faltaram clientes e a renda despencou no início, já que ele vinha de um cargo de gerência.

“Deixei o cargo e o salário bom pela minha saúde e felicidade. Eu ganhava bem, mas começou a ficar desgastante em função dos plantões, e tive até problemas de saúde. Mas abrir uma empresa do zero, sem nenhum cliente, é complicado. Quando comecei, eu namorava há pelo menos quatro anos e conversei com a minha namorada que teríamos que adiar o casamento. Ela entendeu, apoiou, e, depois das dificuldades, o negócio se estabilizou e vamos nos casar em 2019. Estou de bem com a vida”, afirma.

Planejamento de vida

O momento certo para mudar de carreira é definido individualmente, de acordo com os limites e sonhos de cada profissional. Os motivos que levam uma pessoa a optar pela mudança são diversos, mas para todos os que decidem fazê-lo, o ideal é que seja feito de forma segura e estratégica. Isso quer dizer que quem tem um plano, está mudando de carreira com um objetivo claro, sobretudo a respeito da carreira que pretende seguir, tem mais chances de ter sucesso. Pesquisar qual será a formação necessária, os salários e ocupações da área para a qual deseja migrar é fundamental.

Muitas vezes, o profissional já está estabilizado na profissão atual, mas o desejo de mudança é tão grande que ele opta por recomeçar, até ganhando menos. Isso não significa um retrocesso e pode representar muito mais felicidade, mas é preciso ter planejamento financeiro para passar por esse período e avaliar bem o caminho que deseja seguir.

Martha Zouain psicóloga e diretora da Psico Store

Sua profissão lhe faz bem?

Todo momento é tempo de se revisitar e fazer uma avaliação, sobretudo nessa época de final de ano, se aquele trabalho em que você se dedica oito horas por dia, cerca de 320 dias no ano, está lhe fazendo feliz e se você está sendo útil. E, se não, refletir: ‘Não estou feliz por quê? Por que fantasiei coisas que meu emprego não me dá? Qual o motivador que me faz hoje acordar de manhã, deixar filho em casa, em prol de um trabalho?’. Quanto antes se consegue identificar que está sendo ativada a necessidade de uma mudança, é melhor.

É preciso que o profissional entenda seu propósito. Assim, fica muito mais claro para pesar o que de fato vai ser importante num emprego. Quando alguém não tem um propósito claro, normalmente ele vai só pela grana, que é muito linda no início, mas que na verdade não vai pagar pela ausência na família, pela falta de brilho no olho e pelos problemas que a pessoa vai ter que enfrentar no dia a dia.

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Jaciara Pinheiro é diretora técnica da Rhopen e consultora de RH

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