Publicado em 11 de maio de 2022 às 20:03
- Atualizado há 4 anos
O presidente Jair Bolsonaro (PL) nomeou o economista Adolfo Sachsida como novo ministro de Minas e Energia, no lugar do almirante Bento Albuquerque, que foi exonerado a pedido, segundo consta na edição do Diário Oficial da União desta quarta-feira (11).>
A substituição ocorre após mais uma queda de braço entre o presidente e Bento pelo controle de preços de combustíveis da Petrobras. >
A estatal anunciou na segunda-feira um reajuste de 8,87% do diesel, o que irritou Bolsonaro, segundo relatos de assessores, e deflagrou nova onda de pressões sobre o governo para o lançamento de medidas para conter o preço dos combustíveis em ano eleitoral.>
Esta é a terceira vez em que há demissão no governo após um aumento no preço dos combustíveis. Nas outras duas oportunidades, a troca ocorreu no comando da Petrobras.>
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De acordo com assessores, o presidente conversou com o ministro nesta terça, e Bento resistiu a qualquer tipo de intervenção na política de preços da Petrobras.>
Em nota, o almirante afirmou que a decisão de deixar o Ministério de Minas e Energia foi de "caráter pessoal e tomada em reunião entre ele e o presidente de forma consensual". Ele ocupava a pasta desde o início do governo, em 2019.>
Sachsida, que assume a pasta, foi um dos primeiros aliados do presidente no início de sua campanha, em 2018, e ocupava o cargo de secretário especial do Ministério da Economia.>
Para Bolsonaro, a sinalização de um controle de preço será fundamental em sua campanha pela reeleição. Assessores políticos detectaram que será preciso bater na Petrobras e sinalizar que o presidente está do lado do consumidor.>
Pesquisa Datafolha mostrou que 68% dos brasileiros consideram que o presidente é o responsável pela alta da inflação, que vem sendo alimentada basicamente pelo aumento dos combustíveis e pela energia.>
O instituto Ipespe também mostrou em uma pesquisa recente, encomendada pela XP, que 83% dos brasileiros preferem votar em um candidato mais intervencionista na Petrobras.>
Nos últimos dias, técnicos do governo voltaram a discutir possíveis soluções para segurar a alta de preços, entre elas o uso de dividendos pagos pela Petrobras à União para atenuar a alta dos preços nas bombas, mas não há ainda uma definição.>
O governo, porém, enfrenta uma série de restrições orçamentárias para conseguir tirar qualquer medida do papel. De um lado, não há espaço dentro do teto de gastos para mais essa despesa, a não ser que haja cortes em outras áreas. De outro, técnicos não veem justificativas para abrir um crédito extraordinário, que permitiria gastos fora do teto.>
A equipe econômica também tem se posicionado contra um subsídio direto ao preço dos combustíveis por avaliar que a medida custaria caro e teria pouco efeito nas bombas.>
Além do conflito em relação ao último reajuste, a relação de Bento com Bolsonaro já vinha estressada há mais tempo, quando o ministro - para atender ao presidente - aceitou, em março, retirar do comando da Petrobras o general Joaquim Silva e Luna.>
Para o lugar dele, Bento indicou o economista Adriano Pires, consultor do setor de óleo e gás cujo nome acabou sendo barrado pela política de recrutamento da petroleira.>
O presidente responsabilizou Bento não somente pela indicação fracassada, como também pela proposta de adiamento da assembleia que, posteriormente, mudou a composição da diretoria da empresa.>
O desgaste foi parar na conta do ministro que, segundo Bolsonaro, não poderia ter dado aval para a indicação de Adriano Pires - um nome próximo aos políticos do centrão, base de apoio do governo no Congresso, e que atende empresas em conflito de interesses com a Petrobras.>
Bento sugeriu então o nome de José Mauro Coelho, que presidia o Conselho de Administração da estatal PPSA (Pré-Sal Petróleo S.A.). A solução caseira deu certo. No entanto, Zé Mauro, como ele é conhecido no mercado, assumiu reforçando o compromisso com a política de preços da companhia, indicando que não cederia à pressão do Planalto pelo controle dos reajustes.>
O primeiro ataque de Bolsonaro contra ele surgiu logo após o anúncio do resultado da empresa no primeiro trimestre deste ano: um lucro de R$ 44,5 bilhões, recorde para o período.>
Pouco antes da divulgação do resultado, na última quinta (5), Bolsonaro disse em sua live semanal que os elevados lucros da Petrobras são um "estupro" e que um novo reajuste nos preços dos combustíveis poderia quebrar o país.>
"A gente apela para a Petrobras: 'Não reajuste o preço dos combustíveis'. Vocês estão tendo um lucro absurdo. Se continuar tendo lucro dessa forma e aumentando o preço dos combustíveis, vai quebrar o Brasil", disse o presidente.>
Os elevados lucros da estatal são alvo de críticas tanto no governo quanto na oposição, diante da alta dos preços dos combustíveis no país. Na outra ponta está o setor de combustíveis, que reclama que a elevada defasagem entre os preços praticados pela Petrobras e os internacionais gera risco de desabastecimento do mercado.>
Adolfo Sachsida, que assumirá o comando da pasta, foi um dos primeiros apoiadores de Bolsonaro, quando ele ainda era um candidato inexpressivo.>
Coube a ele arregimentar quadros para o time. Sachsida, então no Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), saiu consultando especialistas para montar um plano de governo. Os militares chegaram depois.>
Ele se tornou um dos principais auxiliares do ministro da Economia, Paulo Guedes, e participa das discussões econômicas desde a equipe de transição. Defensor do ajuste fiscal, ele já foi secretário de Política Econômica e, mais recentemente, ocupava a chefia da Assessoria Especial de Estudos Econômicos.>
O novo ministro usou as redes sociais para agradecer Bolsonaro "pela confiança", Paulo Guedes "pelo apoio" e Albuquerque "pelo trabalho em prol do país".>
"Com muito trabalho e dedicação espero estar a altura desse que é o maior desafio profissional de minha carreira. Com a graça de Deus vamos ajudar o Brasil", escreveu.>
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