O preço de venda da saca de café conilon capixaba está indo ladeira abaixo. O valor do saco de 60 quilos do grão caiu tanto que chegou a US$ 91,55 em outubro do ano passado, o menor preço médio mensal em quase dez anos. No ano, o valor também fechou em queda, a US$ 104,75, em média, o menor em oito anos.
Em meio a esse cenário, os produtores do Estado já estão preocupados que o valor de venda não cubra o custo de produção do grão.
Depois das chuvas de 2013 e da longa estiagem, de 2014 a 2017, os agricultores esperavam que o clima se estabilizasse e que o preço do café se mantivesse em alta para compensar as perdas dos anos anteriores.
Confirmando a expectativa dos cafeicultores, 2018 veio com chuvas mais regulares e uma safra com alta produtividade. Porém, como a produção foi além da expectativa, resultado de uma supersafra de 61,57 milhões de sacas no país, o mercado pressionou os preços para baixo.
Segundo o levantamento de preços médios da saca de conilon, realizado por A GAZETA, com base nos dados do CCCV, 2018 teve o pior preço médio anual dos últimos oito anos. Em 2010, a saca de café, saía em média a US$ 104,09. Já no ano passado, foi comercializada por US$ 104,75, em média.
O preços começaram a cair em fevereiro de 2017. Naquele mês, o valor médio da saca do conilon estava em US$ 176,98. Os valores vinham em queda, mas após o anúncio feito em fevereiro de 2018 de uma possível supersafra no ano, a retração foi ainda mais acentuada, chegando a US$ 91,55 em outubro do ano passado. Esse foi o pior preço médio comercializado desde de junho de 2010 (US$ 90,82).
Já no caso do arábica, 2018 teve o pior preço médio (US$ 138,74) dos últimos nove anos. Apenas 2009 teve um preço inferior (US$ 122,13).
Somado à supersafra nacional, de acordo com o presidente do Centro de Comércio de Café de Vitória (CCCV), Jorge Luiz Nicchio, também houve a alta na produção do Vietnã e da Colômbia, principais concorrentes no mercado internacional, fazendo os preços caírem.
O mundo todo produziu 174 milhões de sacas de café arábica e conilon. Porém, o problema deste número está no fato de a capacidade de consumo mundial em 2018 ter sido de 164 milhões de saca, ou seja, foram produzidos dez milhões de sacas a mais do que o mercado conseguia consumir, fazendo com que houvesse um inchaço de produto à venda, explica.
O Estado é o segundo maior produtor de conilon e o terceiro de arábica do país. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em 2018, o Espírito Santo produziu 13,74 milhões de sacas, sendo 8,98 milhões de conilon e 4,75 milhões de arábica.
Como ainda há um excedente de café da safra de 2018, os preços para a safra de 2019 devem permanecer em baixa por mais um tempo. Apenas por volta do terceiro trimestre de 2019 os preços devem voltar a subir, pontua Nicchio.
Com o valor da saca despencando, cobrir o custo de produção com o que vendem fica cada vez mais difícil. O cafeicultor José Carlos Velten, de Marechal Floriano, explica que na safra passada comprava adubo a R$ 51 o saco. Nesta, paga R$ 84. Se o produtor não tiver uma reserva de dinheiro ele é obrigado a vender o café no preço que está, baixo, e quase não lucra, desabafa.
O presidente da Federação da Agricultura do Estado (Faes), Júlio Rocha, enfatiza que o cenário atual, com o dólar um pouco mais baixo, deveria refletir no valor dos insumos comprados, mas não ocorre. O preço do café cai, mas o custo de produção não, afirma.
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