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Pé de galinha e pescoço de boi do ES para árabes

Pé de galinha e pescoço de boi do ES para árabes

Mercado do Oriente Médio vira opção para exportação capixaba

Publicado em 4 de março de 2019 às 00:36

Preparação de carnes em frigorífico, que exporta produtos para países árabes Crédito: Frisa/Divulgação

Produtos capixabas pouco valorizados no mercado nacional estão ganhando o mundo – principalmente o mercado do Oriente Médio. Produtores vendem de pés de galinha a pescoço de boi para países árabes e conseguem, com isso, lucrar com produtos que seriam descartados ou vendidos a preços muito baixos no mercado interno.

Para comercializar os itens para países árabes é preciso ter uma certificação Halal, uma espécie de selo que garante que os produtos têm qualidade e foram exportados seguindo as recomendações sanitárias e religiosas dos compradores.

O presidente e fundador do Frisa, Arthur Arpini Coutinho, destaca as partes dianteiras dos bois – que são pouco valorizadas no Brasil, e que são muito bem vendidas em países muçulmanos.

“Temos acém, pescoço, paleta, peito bovino e músculo. Evidentemente, considerando que os cortes dianteiros têm menor valor, se apresentam com um alcance mais abrangente do que os cortes do traseiro”, comentou o presidente da empresa que exporta há mais de 15 anos para diversos países muçulmanos.

“Também exportamos um volume expressivo de cortes traseiro. Os países árabes têm uma culinária muito rica. Então, quase todos os cortes são consumidos. Inclusive, nosso principal cliente isolado é um importador para o mercado muçulmano”, completou.

A empresa não revelou quanto lucra anualmente com as exportações para países do mundo árabe, mas informou que 15% do total de vendas correspondem à exportação para regiões como Emirados Árabes, Jordânia, Líbano, Palestina e outros.

A exportação de pés de galinha, e outras partes do frango, é feita pela Uniaves. A empresa vende para a Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Irã e outros que não possuem maioria islâmica, como Argentina e Japão.

Outra empresa que tem negócios com o mercado árabe é a Real Café Solúvel. O diretor Comercial, Bruno Giestas, pondera que a exportação para países do Oriente Médio e demais nações árabes tende a ser instável. “Geralmente os países estão envolvidos em conflitos internos, guerras, entraves culturais, mas ainda assim vale a pena.”

Sem citar os valores, Giestas informou que cerca de 40% das exportações seguem para países que cobram o certificado Halal.

CERTIFICAÇÃO

De acordo com o vice-presidente da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras Halal), Ali Zoghbi, o processo para a certificação das empresas para exportação não é complexo, mas requer uma série de critérios a serem seguidos.

“Você tem os certificadores que fazem esse serviço, e toda uma gama de especialistas para orientar os empresários. Não é um processo complexo, mas é bastante criterioso”, comenta Zoghbi.

Elaine Carvalho, que trabalha com a garantia da qualidade da certificadora Halal, destaca que o tempo para a conclusão do processo de certificação varia conforme a capacidade da empresa, mas que demora, em média, de um a seis meses.

“Todas as empresas que querem exportar passam pelo crivo de três pessoas: um responsável técnico, um religioso e um especialista na área. Sem isso não é possível enviar para o exterior”, explica Elaine.

Crédito: Genildo Ronchi

ESTADO TEM POTENCIAL PARA EXPORTAR MAIS

Representantes de três certificadoras acreditam no potencial dos capixabas para exportar para o mercado islâmico.

“Poucas empresas no Espírito Santo são certificadas, o que é surpreendente, visto que o Estado tem grande potencial para exportar”, comenta o vice-presidente da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras Halal), Ali Zoghbi.

Com ele concorda o gerente da Câmara Muçulmana de Comércio, Elias Hadi. “Temos nos esforçado para aumentar as exportações, mas ainda não conseguimos alcançar um bom patamar. Potencial tem, falta motivação e apoio político.”

Hadi também cita certa falta de interesse do produtor brasileiro no mercado externo. “O empresário brasileiro, de modo geral, ainda não tem a cultura da exportação. Ele é mais direcionado ao mercado interno e isso atrapalha um pouco as vendas”, conta.

Já o gerente comercial da Federação Islâmica do Brasil, Walid El Khatib, destaca que está à procura de empresas do Espírito Santo. “Estamos abertos para ouvir e ajudar as empresas capixabas.”

VENDAS EM 2018 SUPERAM R$ 4,5 BILHÕES

Produtos capixabas são exportados para países como Turquia e Egito Crédito: Carlos Alberto Silva

 

As empresas sediadas no Espírito Santo venderam mais de R$ 4,5 bilhões para os países árabes em 2018. A informação está no Comex Stat, do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. Nesses dados, além dos alimentos, também estão computadas a venda de produtos semimanufaturados de ferro ou aço, celulose e outros.

De acordo com dados do portal, o Egito é o maior comprador do Espírito Santo – em 2018, foram R$ 1,6 bilhão em vendas para o país. Em segundo lugar, aparece a Turquia, que comprou R$ 1,2 bilhão de empresas capixabas.

“Em todo o Brasil, a venda de produtos com selo Halal gera cerca de 500 mil empregos diretos e indiretos. Estamos falando de transporte, questões ligadas à agricultura, rações... É uma rede gigantesca”, comenta o vice-presidente da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil, Ali Zoghbi.

Segundo a Fambras Halal, atualmente, existem 1,8 bilhão de consumidores muçulmanos para os produtos Halal. Nesse contexto, o Brasil aparece como maior exportador de carne Halal do mundo. Anualmente, são exportadas 438 milhões de toneladas de carne bovina e 3,8 milhões de carne de frango.

Além da carne, o Brasil exporta mel, doces, queijos, café, açúcar, sucos, polpa de frutas, ovos e até açaí são certificados. Indústrias farmacêuticas, de cosméticos e produtos químicos para tratamento de água, também procuram pela certificação.

“No Brasil, esses segmentos são pouco explorados. Mas eles são muito lucrativos. É questão de tempo para que as empresas brasileiras despontem também em outros setores Halal”, prevê Zoghbi.

SAIBA MAIS

Halal

A palavra Halal quer dizer lícito ou permitido. Trata-se de um padrão ético e moral de ações no ambiente social.

Abate Halal

Uma das características que mais causa curiosidade é o abate Halal de animais. Ele é feito sempre por um muçulmano ou pessoa que conheça as práticas muçulmanas.

Faca afiada e oração

Para o abate, a faca deve ser afiada, a sangria deve ser feita apenas uma vez e a frase “Em nome de Deus, Deus é maior!” (Bismillah Deusu Akbar) tem de ser invocada imediatamente antes do abate.

Empregos

Em todo o Brasil, a exportação de produtos Halal gera cerca de 500 mil empregos diretos e indiretos.

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