Publicado em 7 de maio de 2021 às 16:15
A menos de dois meses do leilão do 5G no Brasil, as teles questionam a precificação das licenças de operação do novo serviço que deverão custar R$ 35 bilhões. >
As operadoras enviarão ao TCU (Tribunal de Contas da União) um levantamento mostrando que as frequências no país estão valendo proporcionalmente mais do que na França, Alemanha e Itália, perdendo somente para os Estados Unidos.>
As frequências são como avenidas no ar por onde as teles fazem trafegar seus sinais. Fora delas ocorrem interferências.>
O cálculo do valor das frequências para a quinta geração foram feitos pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). Agora, o TCU avalia se houve ilegalidades ou se alguma das regras do edital contraria o interesse público.>
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Os auditores do tribunal já começaram a esmiuçar o edital e fizeram questionamentos ao governo Jair Bolsonaro (sem partido) e à agência.>
Nesta quinta-feira (6), em uma reunião virtual promovida pela Conexis (a associação das operadoras), o ministro Fábio Faria (Comunicações) afirmou que o processo deve atrasar o leilão do 5G para meados de julho deste ano, e não mais junho.>
Duas propostas foram contestadas: a criação de uma rede privativa para a administração pública federal e o Pais (Programa Amazônia Integrada Sustentável). Juntos, eles deverão consumir ao menos R$ 2,5 bilhões.>
Pelas regras do edital, os investimentos obrigatórios serão calculados pela Anatel e abatidos do preço das licenças. A expectativa é que sejam praticamente equivalentes.>
Este é o centro das controvérsias dentro do setor. Antes mesmo de Faria ser nomeado para o cargo, as regras em discussão na Anatel para o edital do 5G (não muito diferentes das atuais) sinalizavam para algo em torno de R$ 20 bilhões pelo preço das licenças.>
Naquele momento, no entanto, não havia uma solução para o possível banimento da chinesa Huawei na construção das novas redes 5G.>
Alinhado ao ex-presidente dos EUA Donald Trump, Bolsonaro cogitou barrar a gigante chinesa. Isso levaria à troca em massa dos equipamentos 4G e 3G hoje instalados porque não conversam com a tecnologia 5G de outros fabricantes.>
As operadoras levantam suspeitas de que a agência estaria agora forçando o preço das licenças para poder contemplar todas as contrapartidas exigidas pelo governo.>
Com a chegada de Faria, a saída para o impasse foi a construção de uma rede privada para o governo. A medida, segundo o ministro, afastou o banimento da companhia chinesa.>
No entanto, auditores do TCU consideram que pode haver ilegalidade na exigência. Avaliam que, ao delegar à iniciativa privada a construção da rede, o governo pode estar tentando escapar de um processo licitatório.>
Também questionam o alinhamento desse projeto com os preceitos definidos pela Lei Geral de Telecomunicações. Segundo eles, a rede não contribui com o desenvolvimento das telecomunicações e, assim, prejudica o interesse público.>
No caso do projeto de conectividade na Amazônia, as teles afirmam que será uma perda de recursos porque os rios da região têm muitos sedimentos e as fibras ópticas, que serão depositadas nos leitos, poderão ser facilmente danificadas.>
Para as operadoras, o melhor seria delegar a obrigação de conexão por meio da melhor tecnologia em cada região –satélites ou rádios. O projeto do edital, no entanto, é defendido pelo Exército.>
Os auditores do TCU avaliam que, neste caso, pode haver mau uso do dinheiro público.>
Mas, para as teles, o maior questionamento ainda reside na precificação das licenças. O cálculo do valor das frequências 5G leva em consideração o possível faturamento pelas teles ao longo de duas décadas.>
Essa previsão sempre foi feita com base em receitas geradas pelo consumidor final, pessoas físicas e empresas. Com o 5G, essa lógica foi quebrada porque poderá haver outros negócios como a automação industrial e a internet das coisas.>
Embora a Anatel tenha levado esses novos tipos de receita em conta, as operadoras ainda não tiveram acesso aos cálculos. Mesmo assim, elas já contestam os valores.>
Nos EUA, por exemplo, as três operadoras (Verizon, AT&T e T-Mobile) pagaram US$ 85 bilhões por 350 MHz de frequências, uma média de US$ 245 milhões por MHz –pouco mais que o faturamento anual conjunto das três operadoras no ano passado (US$ 210 bilhões). A receita média por cliente nos EUA foi de US$ 37.>
Na Alemanha, Telekom Deutschland, Vodafone Germany e Telefónica Germany faturaram US$ 23,2 bilhões no mesmo período e desembolsaram, em média, US$ 18,7 milhões por MHz.>
Na Itália, as receitas das quatro operadoras (Iliad, Telecom Italia, Vodafone Italia e Wind Tree) totalizaram US$ 15,7 bilhões e, em média, cada MHz no 5G saiu por US$ 6 milhões. Na Alemanha e na Itália, o gasto médio de cada cliente girou em torno de US$ 14.>
No Brasil, o gasto médio por cliente nas cinco operadoras (Vivo, Claro, Tim, Oi e Algar) foi de US$ 4 e a receita conjunta ficou em US$ 12,4 bilhões. O preço estimado das licenças será de US$ 6,4 bilhões –quase metade da receita anual do setor.>
Nesse patamar, o MHz sairia por US$ 1,7 milhão considerando a faixa 26 GHz.>
Nos outros países essa faixa não se mostrou comercialmente viável. Caso não haja interessados nessa frequência no Brasil, o preço médio do MHz no leilão passsaria para US$ 12,5 milhões, segundo as teles.>
Embora o preço seja razoável diante da média verificada em outros leilões 5G, as teles afirmam que o tempo que levarão para amortizar será muito maior, considerando o gasto médio por cliente –algo que repetirá o que chamam de "erro do passado" cometido pela agência no cálculo das frequências 4G, menos rentável do que se previa.>
Consultado, o Ministério das Comunicações disse que vai esperar os questionamentos oficiais do TCU para se pronunciar. O TCU disse que não comenaria porque o processo está em sua fase inicial e corre sob sigilo neste momento.>
A Anatel não respondeu até a conclusão desta reportagem.>
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