Publicado em 1 de outubro de 2019 às 16:09
- Atualizado há 6 anos
Folha Press - A Polícia Federal do Paraná deflagrou na manhã desta terça-feira (1º) a 4ª fase da Operação Carne Fraca, denominada Romanos. Os mandados de busca e apreensão miram principalmente fiscais do Mapa (Ministério da Agricultura) que teriam recebido propina para atuar em favor de empresas.>
A investigação tem como base a colaboração da BRF, que indicou ao menos 60 auditores agropecuários que teriam recebido cerca de R$ 19 milhões.>
Os pagamentos ocorreram mesmo antes da fusão de Perdigão e Sadia, que originou o grupo, até 2017, segundo a PF. A BRF teria interrompido a prática em 2017. >
Os valores eram transferidos em espécie e até custeavam planos de saúde para alguns dos fiscais, de acordo com a investigação.>
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Em um caso citado pelo delegado da PF Maurício Boscardi Grillo uma auditora teria chantageado a empresa para contratar o marido dela em troca da atuação em benefício do grupo.>
Dos 60 fiscais alvos da operação, 39 ainda estavam na ativa, mas foram afastados das funções por ordem judicial expedida juntamente com os mandados desta fase. Segundo o delegado, o Mapa também vai apurar a conduta dos funcionários administrativamente.>
Empresas conveniadas à BRF seriam utilizadas para pagar e esconder a propina de forma que não prejudicasse a imagem do grupo. "Ela [BRF] não se expunha para os ficais, quem apareceria era outra empresa, mas [o grupo] fazia o acerto de contas depois com a empresa que fazia os pagamentos", explicou Boscardi.>
As evidências foram entregues à PF pela própria BRF, que resolveu colaborar espontaneamente a partir da 3ª fase da Carne Fraca, em março do ano passado, quando o ex-presidente da empresa, Pedro de Andrade Faria, foi um dos alvos de prisão. O grupo teria interrompido os pagamentos já em 2017, quando passou por uma reestruturação interna.>
Uma das investigadas é a União Avícola, ligada ao ex-senador Cidinho Santos (PR-MT). "A gente precisava confrontar as provas, procurar saber se essa empresa toma ainda esse tipo de postura. É possível que isso venha a acontecer", afirmou o delegado.>
Em troca da propina, os fiscais teriam facilitado ou "deixado de atrapalhar" a atividade das empresas. "[A intenção era] conseguir operar com agilidade no sistema em razão do lucro, sem ser atrapalhado pelo grupo de fiscais que atuavam na empresa", disse Boscardi.>
Além de confirmar as provas apresentadas pela BRF, a intenção dos policiais é investigar se os auditores continuam recebendo propina de outras empresas.>
Ao todo, são 68 mandados de busca e apreensão em nove estados: Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Goiás, Mato Grosso, Pará, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Os mandados foram expedidos pela 1ª Vara Federal de Ponta Grossa, no interior do Paraná.>
O nome da operação, Romanos, faz referência a passagens bíblicas que tratam de confissão e justiça.>
O Ministério da Agricultura diz, em nota, que "a Operação Romanos diz respeito a desdobramentos de investigações relativas a fatos ocorridos até 2017" e que "as informações sobre os servidores alvos dessa etapa da operação foram enviadas hoje ao Mapa, que já tomou e continuará tomando todas as providências e sanções legais cabíveis".>
A pasta afirma ter confiança "em sua área de fiscalização agropecuária, já reestruturada, e entende que essa situação é uma exceção à regra e não compromete a efetiva atuação de seus 2.500 fiscais".>
Em nota, a União Avícola afirmou que o fiscal citado na investigação nunca trabalhou ou foi responsável pela inspeção na empresa. Diz também que tomará as medidas cabíveis quando os fatos forem esclarecidos.>
Procurada pela reportagem, a BRF confirmou que tem colaborado com as autoridades para esclarecer os fatos apurados e afirmou que está atuando em conformidade com as regras vigentes. A empresa não foi alvo de buscas nesta fase da operação.>
Ações de algumas empresas do setor iniciaram o dia em queda na B3, a Bolsa brasileira. Por volta das 10h30, a BRF registrava queda de cerca de 1,3%. Os papeis da JBS caíam por volta de 0,5%.>
A última fase da Carne Fraca foi deflagrada em março do ano passado, mirando a BRF. Na ocasião, o ex-presidente da empresa, Pedro de Andrade Faria, foi um dos dez alvos de prisão.>
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