Publicado em 4 de dezembro de 2025 às 15:44
A venda de ações do Nubank por parte de David Vélez, um dos fundadores da empresa, tem gerado desinformação nas redes sociais. A maioria dos posts alega que o empresário teria economizado R$ 500 milhões em impostos no Brasil ao se mudar para o Uruguai, o que não é inteiramente verdadeiro. >
A última venda de ações feita por Vélez ocorreu em agosto de 2025, quando o empresário levantou US$ 432 milhões (R$ 2,3 bilhões pela cotação da época), de acordo com documentos enviados à Securities Exchange Commission (SEC), que regula o mercado de ações nos Estados Unidos, onde a fintech é listada.>
Desde então, têm surgido posts nas redes sociais alegando que, como o empresário mora no Uruguai desde 2022, deixou de pagar o equivalente a 22,5% de imposto sobre o ganho de capital no Brasil, uma vez que, no país onde ele vive atualmente, haveria isenção sobre rendas obtidas no exterior.>
A discussão mistura fatos verdadeiros a conclusões incompletas. O ponto central não se limita ao local onde o fundador da fintech mora hoje, mas também abrange a estrutura societária do Nubank e a natureza jurídica da empresa cujas ações foram vendidas.>
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Ao Comprova, o advogado Marco Túlio Ribeiro Fialho, especialista em Direito Público e Tributário, destacou que, de fato, Vélez não pagou imposto no Brasil somente porque mora no Uruguai, mas isso ocorreu porque as ações vendidas não eram de uma empresa brasileira.>
“O fundador vendeu ações da Nu Holdings Ltd., holding do grupo Nubank registrada nas Ilhas Caimã, e não ações de uma S.A. brasileira. Como se trata de uma empresa estrangeira e o vendedor não é residente, essa operação não é tributada pelo Brasil”, explicou.>
Ainda segundo o advogado, se a holding fosse brasileira, mesmo vivendo no Uruguai, o empresário seria tributado no Brasil. “Não foi a mudança para o Uruguai que gerou a economia, mas sim o fato da empresa controladora não estar sediada no Brasil”.>
Ribeiro Fialho afirmou que o valor aplicado à transação realmente é de 22,5%, teto aplicável no Brasil para ganho de alto valor. Nesse caso, se o empresário fosse residente fiscal no Brasil e tivesse vendido ações de uma empresa brasileira, o ganho de capital seria tributado progressivamente, até a alíquota máxima de 22,5%.>
É dessa conta que surge o número citado nas redes:>
Mas, como já dito, como a operação envolveu ações de uma holding estrangeira, a alíquota brasileira não se aplica.>
De acordo com o especialista ouvido pelo Comprova, mudar de país não elimina impostos devidos ao Brasil quando:>
O ponto crucial deste caso não é a mudança de país, e sim o fato da empresa cujas ações foram vendidas ser estrangeira (Cayman) e do Uruguai adotar um sistema de tributação territorial, que normalmente não alcança ganhos de capital obtidos fora do país.>
O Nubank foi procurado por e-mail, mas não respondeu aos questionamentos do Comprova.>
O criador da publicação se apresenta como um empreendedor e investidor e publica posts sobre o mercado financeiro. Em sua conta no X, tem 6,2 mil seguidores. O post sobre a negociação feita por Vélez teve 799,2 mil visualizações, 9 mil curtidas, 506 compartilhamentos e 258 comentários até 3 de dezembro de 2025. >
A publicação usa fatos reais, como a negociação feita pelo empresário e a mudança de endereço dele, mas descontextualiza o motivo real que levou ao não pagamento de R$ 500 milhões em impostos. É uma tática frequentemente usada por desinformadores, que costumam apresentar uma informação, imagem ou vídeo verídico, mas sem o contexto original.>
Os números citados também são impactantes, o que pode levar a conclusões precipitadas no momento em que as pessoas podem acabar ficando indignadas pelo fato do montante tão vultoso não ser arrecadado pelos cofres públicos.>
Fontes que consultamos: Reportagens e vídeos sobre o tema e o advogado Marco Túlio Ribeiro Fialho.>
Por que o Comprova investigou essa publicação: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e em aplicativos de mensagens sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas, eleições e golpes virtuais, e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984.>
Outras checagens sobre o tema: O sistema tributário no Brasil é alvo frequente de desinformação nas redes sociais. O Comprova já mostrou que a norma que obriga fintechs a informar Receita sobre operações acima de R$ 2 mil já existe para bancos e não tributa Pix e explicou a proposta de tributar dividendos feita pelo governo federal.>
Notas da comunidade: Não foram adicionadas notas da comunidade à publicação feita no X.>
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