Publicado em 19 de junho de 2018 às 13:07
O empresário português Emídio Pais, dono de uma tradicional loja de material de construção de Vitória, faleceu na noite desta segunda-feira (19), após sofrer uma parada cardíaca. Emídio, que tinha 88 anos, estava internado há dois meses em um hospital após sofrer uma queda dentro da casa em que morava.>
Natural de Senhorim, a 285 quilômetros de Lisboa, em Portugal, Emídio chegou ao Brasil em 1952. Trabalhou como pedreiro, limpador de fossa e desempenhou diversas atividades até abrir sua loja de material de construção, em 1971, na Avenida Leitão da Silva, em Santa Lúcia. Seu estabelecimento trazia o conceito de showroom, uma inovação para época, já que dispunha de banheiros completamente montados, como mostruário para os clientes.>
A filha de Emídio, a empresária Clara Pais, descreve o patriarca como uma pessoa dedicada à família, sempre muito animado e que gostava de dançar, contar piadas e conversar com as pessoas.>
Ele era uma pessoa muito vibrante. Fez da empresa a nossa família, tanto é que os filhos ainda trabalham todos na loja. Infelizmente ele já enfrentava alguns problemas de saúde por conta da idade. Ele caiu em casa e bateu a cabeça, há dois meses. Ficou internado todo esse tempo e ontem não resistiu. A gente está passando por esse processo de luto, mas conscientes de que ele foi um homem muito bom e honesto, afirma Clara.>
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Emídio será enterrado no cemitério de Santo Antônio, às 16h desta terça-feira (19). O velório será na capela do cemitério, a partir das 11h. Veja abaixo o perfil do empresário publicado no jornal A Gazeta, em maio de 2015.>
EMÍDIO PAIS: UM HOMEM A FRENTE DE SEU TEMPO>
Relembre abaixo a matéria sobre a trajetória de Emídio Pais publicada em A GAZETA no ano de 2015>
Luísa Torre>
Era 1952 quando Emídio decidiu se mudar para o Brasil com a mãe e a irmã. O sonho de viver além-mar já existia desde que ele tinha 15 anos, quando o pai morreu, mas foi adiado por Emídio devido à sua pouca idade.>
Após servir ao Exército, aos 22, Emídio então chegou em Vitória com apenas uma dívida de 10 mil cruzeiros e nada mais. Foi morar com um tio, dono de uma fábrica de ladrilho e de uma loja de ferragens, onde desempenhou diversas funções, de limpeza de fossa a carregador.>
A vida de Emídio, no entanto, não seria fácil. Ele teve de largar a escola ainda aos 9 anos, para trabalhar nas propriedades rurais de sua família. Vim para cá sem saber ler nem escrever e com 10 mil cruzeiros de dívida. Meu tio financiou a nossa viagem e trabalhei com ele até pagar minha dívida. Quando paguei tudo a ele, falei: o mundo é meu, não devo nada a ninguém, e foi isso mesmo, relembra.>
A partir dali, ele conseguiu um emprego como pedreiro em Nova Almeida, na Serra. Eu trabalhava 11, 12 horas por dia, comprei um terreno ali e no meu tempo livre construí uma casinha. Não era para morar, era para ganhar dinheiro. Eu era solteiro e queria fazer uma coisa útil e que fosse rendoso para mim, conta.>
Dali, Emídio foi ser ajudante de caminhão de bebidas, carregando pesados engradados, e depois foi auxiliar de caminhão em um fábrica de biscoitos. Foi quando surgiu a oportunidade de abrir um secos e molhados no novo loteamento do Ibes, em Vila Velha. Como não tinha jeito de aumentar a loja, vendeu ela e veio para a Praia do Suá, onde seu tio tinha uma lojinha de material de construção. Logo depois, comprou outro terreno na Praia do Suá e decidiu fazer ali um prédio.>
Emídio começou, então, a trabalhar de 6h às 23h todos os dias sozinho, e desempenhando todas as funções na loja, de carregador a gerente. Mas, quando ele tinha 33 anos, um olhar iria roubar o coração de Emídio: a irmã de seu alfaiate, Clara, chegava de Portugal. Eu fui na casa deles e a vi pela primeira vez. Não falamos nada, os olhos falaram mais do que nós. Com seis meses de namoro, casamos e logo vieram os filhos, diz Emídio.>
PERCALÇOS>
Mas nem tudo são flores. Em 1971, uma enchente fez Emídio perder parte de seu estoque e ter parte da loja destruída. Ele chegou a pensar em concordata, mas preferiu seguir em frente. Quatro anos depois, o amor de sua vida, Clara, morreria em um acidente de carro.>
Porém, focado no trabalho árduo, a loja prosperava e Emídio comprou então um depósito do material de construção (no local onde é atualmente a loja, na Leitão da Silva), onde abriu também uma lojinha. Começou a vender mais no depósito do que na loja, diz. Foi quando, em 1981, ele inaugurou um showroom, onde exibia banheiros totalmente equipados, uma inovação para a época. Hoje a loja conta com 10 mil metros de área construída e mais de 15 mil itens no mix de produtos, focados em acabamento, além de empregar 80 pessoas.>
Além dos filhos, dois netos trabalham no espaço com Emídio. Agora, o plano é expandir a loja para Laranjeiras, na Serra, onde o empresário estuda comprar um terreno para depósito e, quem sabe, abrir uma filial ali.>
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