Publicado em 25 de junho de 2021 às 19:46
Um impasse entre o TCU (Tribunal de Contas da União) e a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) pode levar ao adiamento do leilão do 5G para o início de 2022 ou, na melhor das hipóteses, para novembro deste ano. >
As divergências ficaram expostas durante uma reunião ocorrida na quarta-feira (23), entre o ministro do TCU Raimundo Carrero, relator do processo de avaliação das regras do leilão, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, e conselheiros da Anatel. >
Faria cobrou o tribunal, que tinha se comprometido a analisar o edital em, no máximo, 50 dias. Ele explicou que, por isso, tinha anunciado a data do leilão para meados de junho. >
Depois, diante das incertezas e questionamentos do tribunal enviados ao ministério e à agência, o ministro mudou a data para meados de julho a tempo de que as teles cumpram a exigência da Anatel de que o novo serviço comece ainda em 2022 pelas capitais. >
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O 5G é uma das entregas mais esperadas por Jair Bolsonaro para enfrentar a campanha pela reeleição. O presidente vem enfrentando queda de popularidade por causa da gestão da crise causada pela pandemia. >
Na reunião, Faria pediu que o tribunal desse, ao menos, uma estimativa do novo cronograma. Ele se tornou um dos maiores defensores do presidente Bolsonaro. >
No entanto, os auditores envolvidos na análise das regras do certame disseram ser difícil fazer uma projeção diante da "incompletude" dos documentos. >
Sem o recebimento de todo o material, disseram eles, não é possível dar início à contagem do prazo regulamentar de até 75 dias para a análise e devolução do processo ao plenário do TCU. >
Os conselheiros da Anatel afirmaram que entregaram todo o material necessário. Para eles, somente havia pendência das respostas a um questionário de 150 perguntas dos auditores. >
Pessoas que participaram das discussões afirmam que a agência informou ter concluído esse trabalho e que o documento seria enviado nesta sexta-feira (25). >
Os auditores do TCU também reclamaram da ausência de informações sobre o modelo de precificação das faixas de frequência - espécies de avenidas no ar por onde as operadoras farão trafegar seus sinais de 5G. >
A agência irá leiloar 3.710 MHz em frequência, o maior leilão do gênero no mundo, segundo o presidente da Anatel, Leonardo de Moraes. >
Diferentemente dos leilões de tecnologias passadas -2G, 3G e 4G- para o 5G a Anatel desenvolveu um programa de computador capaz de calcular automaticamente o preço das licenças. Chamado de Pyton, esse programa trabalha com códigos atrelados a uma informação. >
Diante dos questionamentos feitos pelos auditores sobre a metodologia de cálculo do preço, a Anatel preferiu esperar os ajustes que serão propostos pelo TCU para atualizar esses códigos antes do envio definitivo. >
Técnicos envolvidos no processo afirmam que os auditores sabiam disso desde o início e, em nenhum momento, apresentaram obstáculos para que a possível atualização dessa base de dados após a análise pelo TCU pudesse paralisar o andamento do processo- e o início da contagem do prazo para a conclusão da auditoria. >
Diante da recusa dos auditores, a Anatel decidiu enviar esses códigos da forma como se encontram neste momento. >
Caso o material seja enviado, os auditores poderão concluir o trabalho até meados de setembro. O plenário poderia, na melhor das hipóteses, julgar em uma semana, e devolver o processo para a Anatel no início de outubro. >
Nos bastidores, o conselho de diretores da agência avalia que, nesse cenário, conseguiriam refazer o edital dentro de um mês o que jogaria o leilão para o final de novembro, na melhor das hipóteses. >
No entanto, eles detectam problemas em torno de duas propostas contestadas pelos auditores: a criação de uma rede privativa para a administração pública federal e o Pais (Programa Amazônia Integrada Sustentável). Juntos, esses projetos deverão consumir ao menos R$ 2,5 bilhões. >
Pelas regras do edital, os investimentos obrigatórios serão calculados pela Anatel e abatidos do preço das licenças. A expectativa é que sejam praticamente equivalentes. >
Os auditores do TCU consideram que pode haver ilegalidades e irregularidades em ambos os projetos. Avaliam que, ao delegar à iniciativa privada a construção da rede privativa, o governo pode estar tentando escapar de um processo licitatório. >
Também questionam se essa rede encontra respaldo nos preceitos definidos pela Lei Geral de Telecomunicações. Para eles, o projeto não contribui com o desenvolvimento das telecomunicações e, assim, prejudica o interesse público. >
No caso do plano de conectividade na Amazônia, as teles afirmam que será uma perda de recursos porque os rios da região têm muitos sedimentos e as fibras ópticas, que serão depositadas nos leitos, poderão ser facilmente danificadas. >
Para as operadoras, o melhor seria delegar a obrigação de conexão por meio da melhor tecnologia em cada região satélites ou rádios. O projeto do edital, no entanto, é defendido pelo Exército. >
Os auditores do TCU avaliam que, neste caso, pode haver mau uso do dinheiro público. >
Existem diversos outros investimentos sob auditoria e que ainda aguardam esclarecimentos da Anatel. >
Embora ainda exista espírito de cooperação", o ministro Fábio Faria também reclamou ao TCU que o atraso pudesse ter sido resultado de lobby das operadoras junto ao tribunal. >
O ministro Raimundo Carrero confirmou que recebeu representantes das empresas para tratar das regras do edital e Faria disse que isso não parecia correto, porque o TCU estaria atuando como regulador, esvaziando o papel da Anatel como se fosse uma "terceira instância" em favor das operadoras. >
De fato, as teles não querem que o leilão ocorra antes do desfecho em torno da recuperação judicial da Oi. As três empresas se juntaram para comprar o braço de celular da quarta maior operadora do país, em número de clientes móveis. >
O negócio, de cerca de R$ 16,5 bilhões, aguarda análise da Anatel e do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). >
As empresas querem resolver essa situação antes de se lançarem para o 5G. Com a consolidação, as empresas avaliam que não haveria um quarto interessado em operar no país e a Anatel seria levada a rever a quantidade de frequências ampliando os lotes existentes (com a frequência que seria destinada a um quarto concorrente) ou reduzindo a quantidade de lotes. >
A expectativa, segundo conselheiros do Cade, é que o caso seja apreciado em novembro. A agência espera esse julgamento para decidir a divisão de frequências hoje em posse da Oi entre os três compradores (Claro, Vivo e Tim). >
Por meio de sua assessoria, o TCU confirmou ter feito alertas à Anatel "apontando incompletudes relevantes na documentação entregue pela Anatel". >
Os auditores informam que isso impede que "seja feita análise e emitida opinião acerca da precificação, da legalidade de parte das previsões editalícias e da compatibilidade entre os documentos jurídicos e o estudo de precificação das faixas de radiofrequência a serem licitadas", disseram por meio da assessoria do tribunal. >
"Até o momento, a agência não encaminhou a documentação completa. Os elementos faltantes são indispensáveis para a realização da fiscalização a cargo do TCU." >
O Ministério das Comunicações e Anatel não responderam até a publicação desta reportagem. >
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