Publicado em 8 de outubro de 2019 às 10:31
- Atualizado há 6 anos
AGÊNCIA FOLHAPRESS - O governo negocia com o Senado para que o projeto de lei que modifica as regras da TV paga seja fatiado.>
A ideia é manter na proposta o trecho que abre o caminho para que a compra da Warner Media pela gigante de telefonia americana AT&T seja efetivada no país.>
Já a discussão sobre regras de programação audiovisual transmitida pela internet, que tem dividido o Senado, se daria em um novo projeto. Esse assunto é polêmico e coloca grandes grupos de mídia, como a Netflix e o Google, contra produtores de conteúdo brasileiros.>
O fatiamento da proposta tem sido costurado por interlocutores do Palácio do Planalto. Essa foi a solução encontrada para que o impasse no Congresso Nacional não atrapalhe os planos do presidente Jair Bolsonaro em agradar ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.>
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De autoria do senador Vanderlan Cardoso (PP-GO), a versão original do projeto tinha apenas três artigos, eliminando da lei de TVs por assinatura a norma que restringe a participação acionária cruzada entre operadoras de telefonia (AT&T) e grupos de conteúdo (Time Warner).>
A lei determina que uma tele pode ter até 50% do capital de uma produtora de conteúdo (emissora, estúdio ou produtora), que, por sua vez, só pode deter até 30% de uma tele.>
No passado, essa restrição impôs à Globo sua retirada do controle da Sky. Hoje, ela permanece na empresa como acionista minoritário (cerca de 5% de participação).>
A pedido de Donald Trump, Jair Bolsonaro e um dos filhos, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), têm atuado para destravar o negócio, que envolve 17 países e a União Europeia. A transação, anunciada em 2016, representa negócio de US$ 85 bilhões que só aguarda aval das agências regulatórias brasileiras para ser concretizado.>
No fim de agosto, Bolsonaro recebeu o presidente da AT&T, Randall Stephenson. Na mesma época, o filho dele foi à Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) pressionar pela aprovação da compra da Warner pela gigante de telefonia americana.>
Em defesa do negócio, Eduardo publicou seus argumentos nas redes sociais por meio de um vídeo --com legendas em inglês. O aval à transação foi uma das condições impostas por Trump ao Brasil em troca da parceria estratégica --ele abraçou a causa da AT&T embora, com a operação, a companhia tenha adquirido o canal CNN, crítico ao presidente americano.>
Mas o impasse em relação ao projeto de Cardoso ganhou um novo contorno no fim de setembro quando o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), apresentou um ofício para que a proposta fosse encaminhada à Secretaria-Geral da Mesa da Casa.>
Esse pedido tem potencial de travar o projeto, que ficaria parado até que o governo respondesse a alguns questionamentos. Segundo parlamentares que acompanham as discussões, a decisão de Alcolumbre foi um jeito de atender a líderes partidários contrários à nova versão do texto.>
Na CCT (Comissão de Ciência e Tecnologia) do Senado, foi incorporado ao projeto o debate sobre normas para a programação audiovisual transmitida pela internet.>
O governo, então, passou a negociar com grandes grupos de mídia, como Amazon e Netflix, entre outros que distribuem conteúdo via internet. Essas empresas querem ficar livres de regulação, diferentemente das empresas que distribuem canais por pacotes e são obrigados, por exemplo, a cumprir cota de conteúdo local.>
Emissoras de TV brasileiras também estão investindo na oferta de programas pela internet ou aplicativos e querem que uma lei acabe com a insegurança jurídica nesse mercado. Por isso, algumas defendem um artigo que deixe esse serviço, explicitamente, livre de regulação.>
"O mercado audiovisual pode afundar", diz o presidente da Apaci (Associação Paulista de Cineastas), André Klotzel.>
Ele e outros representantes de produtores locais têm acompanhado as discussões do projeto de lei no Senado para que a regulação do serviço de transmissão de conteúdo via internet não prejudique o mercado nacional.>
Klotzel é contra o fatiamento da proposta que tramita no Senado, pois considera urgente a definição de regras para os serviços que estão crescendo no Brasil. "Queremos aproveitar a questão inicial [restrições a operações como a compra da Warner pela AT&T] e colocar globalmente o problema. Vamos atualizar a legislação de TV por assinatura e vamos colocar a internet dentro [dessas regras].">
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