Publicado em 16 de maio de 2025 às 15:44
BRASÍLIA - Integrantes do governo Lula (PT) e parlamentares da base aliada já reconhecem dificuldades para impedir a instalação de uma CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) sobre os descontos ilegais em aposentadorias e pensões no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).>
O cenário levou políticos governistas a traçarem uma estratégia para conter danos, com foco na ampliação da investigação para englobar também o governo Jair Bolsonaro (PL). A movimentação, no entanto, provocou incômodo no Palácio do Planalto, que permanece contrário à instalação.>
De volta ao Brasil após participar da comitiva presidencial que viajou à Rússia e à China, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), avisou a interlocutores nos últimos dias que, caso a comissão seja instalada, ela deverá analisar os fatos ocorridos em todos os governos e não somente na gestão Lula.>
Segundo relatos feitos por políticos, o assunto foi tratado entre Alcolumbre e parlamentares que estavam na comitiva de Lula. Na quinta-feira (15), o senador também se reuniu com a ministra Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais).>
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A CPMI foi protocolada pela oposição na segunda-feira (12) com a assinatura de 36 senadores e 223 deputados federais, mas depende do presidente do Congresso para ser instalada.>
Embora admitam como real a possibilidade de instalação, governistas ainda dizem, sob reserva, que prefeririam que a CPMI não prosperasse, por temerem a condução de uma investigação sob forte influência da oposição.>
No Senado, até as lideranças do governo e do PT deram sinais de capitulação ao cogitar apoio e a indicação de integrantes para a comissão. Na Câmara, petistas ainda tentam deter o avanço.>
Dois políticos afirmaram que Alcolumbre chegou a indicar, durante a viagem, a possibilidade de apresentar um novo requerimento para a CPMI, explicitando um período amplo de investigação, que envolvesse também a gestão de Bolsonaro. Seguindo essa lógica, dizem, até mesmo parlamentares governistas assinariam o pedido.>
Apesar de o requerimento protocolado nesta semana não delimitar o período em sua ementa, a comissão é patrocinada por parlamentares da oposição, que pretendem explorar a CPMI para desgastar a imagem do governo Lula.>
Segundo um aliado do presidente do Senado, a solução aventada por Alcolumbre reduziria a pressão que o parlamentar tem recebido de políticos da oposição para autorizar o trabalho do colegiado, ao mesmo tempo em que acenaria ao governo federal.>
Desde que voltou ao comando do Senado, Alcolumbre tem se aproximado de integrantes do Executivo, sobretudo do próprio presidente Lula.>
O Palácio do Planalto é contra a instalação da CPMI e se vale do argumento de que já há investigações avançadas em curso na Polícia Federal e na CGU (Controladoria-Geral da União), além de uma ação cautelar da AGU (Advocacia-Geral da União) para o bloqueio de bens das associações.>
Auxiliares de Lula dizem ainda que o colegiado pode atrapalhar e comprometer essas investigações policiais – por permitir, entre outras coisas, quebras de sigilo –, além de atrasar o ressarcimento das vítimas.>
Na quinta-feira (15), em depoimento à Comissão de Fiscalização do Senado, o ministro da Previdência, Wolney Queiroz, se disse "pessoalmente" a favor de uma CPMI, mas usou argumentos contra a instalação.>
"Eu também, pessoalmente, sou a favor da CPMI, porque acho que a sociedade merece essa resposta por parte do Parlamento. [...] Eu disse que eu tenho medo de que, instalada uma CPMI, ela possa vir a ser palco político, de que ela possa atrasar o ressarcimento, de que ela possa atrapalhar as investigações", afirmou.>
Desde que a PF e a CGU deflagraram a operação, integrantes do Palácio do Planalto e governistas têm adotado o discurso de que as ilegalidades começaram em gestões anteriores, mas foram expostas e investigadas no governo petista. Este será o tom usado caso a CPMI seja instalada, de acordo com aliados de Lula.>
Como um eventual movimento para retirada de assinaturas para inviabilizar a comissão é considerado impossível, um interlocutor de Lula diz que o governo deve partir para o confronto com a oposição.>
Por esse motivo, apesar dos protestos do Planalto, até integrantes do PT já assinaram o requerimento, como o senador Fabiano Contarato (PT-ES). Em outra frente, a ideia de governistas, caso prospere a comissão, é indicar nomes de perfil considerado mais combativo para participar do colegiado.>
Hoje a oposição quer emplacar a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) no comando da CPMI, enquanto o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), já cita a deputada Tabata Amaral (PSB-SP) como eventual relatora. Essa proposta de Randolfe não tem endosso de outros articuladores do governo.>
A própria parlamentar diz que não foi procurada pelo governo, mas que a prioridade é garantir a instalação da CPMI. "Essa não é uma pauta partidária. É uma iniciativa de combate à corrupção estrutural, que atravessa diferentes governos e partidos políticos", disse.>
Em contraponto ao argumento explorado por governistas de que o escândalo atingiria inclusive o governo Bolsonaro, o próprio ex-presidente defendeu a CPMI, embora tenha admitido a possibilidade de corrupção em sua gestão.>
"Nós da direita assinamos [a CPMI]. PT, PSOL, PDT, ninguém assinou a CPMI. Vamos investigar", afirmou, em entrevista ao UOL. "Possível [ter havido irregularidade]. E vai investigar, se por ventura alguém do meu governo fez algo de errado, pague, ponto final".>
Apesar da pressão de nomes da oposição por celeridade para o início dos trabalhos do colegiado, congressistas dizem que a CPMI, caso levada adiante, corre o risco de sair do papel somente no segundo semestre.>
Isso porque, pelo rito regimental, é preciso fazer a leitura do requerimento em sessão do Congresso. A próxima está prevista para o dia 27 deste mês. Depois dessa leitura, os partidos ainda precisam indicar os respectivos membros, negociar posições chaves como relatoria e presidência do colegiado para, enfim, acordar na data de instalação da comissão.>
Na avaliação de parlamentares, num cenário otimista, todo esse processo levaria ao menos 30 dias.>
Líderes partidários lembram ainda da proximidade das festas juninas, quando boa parte dos deputados e senadores voltam para seus estados, esvaziando as atividades do Congresso. O recesso parlamentar começa pouco depois disso, na metade de julho.>
A oposição ameaça recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal), caso Alcolumbre não faça a leitura do requerimento – repetindo a fórmula que prejudicou o governo Bolsonaro em 2021, quando o Senado foi obrigado pelo Supremo a instalar a CPI da Covid-19.>
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