Publicado em 16 de março de 2018 às 14:57
O anúncio da fusão da Fibria com a Suzano, em operação que cria uma gigante global de celulose, foi recebido com otimismo por analistas e empresários capixabas parceiros da empresa que tem unidade em Aracruz, na região Norte do Espírito Santo. A aprovação da fusão pelo BNDES foi anunciada no fim da noite desta quinta-feira (15).>
A expectativa é de que a união gere novos negócios e mais investimentos no Estado. Para o analista Pedro Lang, chefe da mesa de renda variável da Valor Investimentos, a formação de uma gigante mundial com forte presença no Espírito Santo pode movimentar a economia local. No setor de celulose a fusão Suzano-Fibria vai corresponder a 50% do mercado global.>
"Se a fusão for aprovada, a nova empresa estaria muito à frente da segunda empresa, com uma produção de celulose quase duas vezes maior. Para o Estado, é pouco provável que haja uma revisão de estratégia, com mudança de investimentos já programados. O Espírito Santo, além disso, está em um lugar estratégico, bem servido de portos e na região da Sudene. Quem irá ver com maus olhos essa venda é a Fibria, que ficou com um preço inferior no mercado após a transação. Antes, suas ações eram negociadas a R$ 71 e agora estão entre R$ 61 e R$ 62", afirma Lang.>
Empresários capixabas também veem com otimismo a transação, mas adotam uma certa cautela. Para alguns, a possibilidade de revisão de investimentos, principalmente acerca da instalação da fábrica de bio-óleo em Aracruz anunciada pelo presidente da Fibria, Marcelo Castelli, no final de fevereiro , pode acender um sinal amarelo. Só para essa fábrica, por exemplo, o investimento anunciado pela empresa foi de meio bilhão de reais.>
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É uma chance remota, já que existe um projeto pronto da fábrica e há incentivos fiscais acordados com o governo do Estado, mas é uma possibilidade que existe. Acredito que não vá acontecer. Mas o fator principal é que a empresa continua sendo controlada por brasileiros, já que havia interesse de companhias asiáticas e holandesas em atravessar o negócio. Essa fusão de Suzano e Fibria era esperada há anos pelo mercado, assinala um executivo do setor industrial.>
O presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Léo de Castro, ressaltou que a fusão vai criar uma empresa ainda maior. "A nova empresa que surge desta fusão já nasce como líder mundial do segmento e tem, no Espírito Santo, uma planta com operação otimizada, desde a plantação de florestas, passando pelo beneficiamento e chegando à logística de exportação. Cabe lembrar que a Suzano possui outros produtos além da celulose, como papel de escritório e tissue, o que abre novas possibilidades de agregação de valor no Estado", afirmou.
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EMPRESAS CAPIXABAS COMEMORAM>
Diretor comercial da empresa de refrigeração Frioar, Antônio Falcão tem a Fibria como um de seus principais clientes. Ele diz que o mercado ainda digere a notícia, mas acredita que a sinergia é positiva para o Estado. "A Fibria tem uma presença muito grande aqui. Já a Suzano tem uma participação um pouco menor. Mas são duas empresas que geram muitos empregos no Estado. A tendência é manter os investimentos, avalia.>
Outro ponto destacado é que a união da Fibria com a Suzano pode melhorar a relação de negócios para empreendedores capixabas.>
O diretor do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e Elétricas do Espírito Santo (Sindifer-ES), Fausto Frizzera, diz que muitas prestadoras de serviços têm tanto a Fibria quanto a Suzano como clientes e, caso a fusão seja permitida pelos órgãos reguladores, poderão negociar com uma mesma empresa.>
Mais de 60% dos serviços de metalmecânica da Suzano e da Fibria são feitos por capixabas. Já era uma relação muito boa e vai ficar ainda melhor. Na hora de negociar, a gente conversa com uma empresa só. Vai facilitar os processos e gerar menos desgaste, pondera Frizzera. >
TRABALHADORES PREOCUPADOS>
Já o diretor jurídico do Sindicato dos Trabalhadores Químicos e Papeleiros do Estado (Sinticel), Artur Branco, afirma que os trabalhadores do setor ainda carregam um "trauma" após a compra da Aracruz Celulose pela Votorantim Celulose e Papel, em 2009. Na época, junto à incorporação, os novos acionistas anunciaram um corte de 200 funcionários.>
"Nossa preocupação é que, com a mudança de controlador, a relação com os empregados piore. Foi assim com a venda da Aracruz, que gerou muitas demissões. Quando algum grupo compra uma empresa, a tendência é que o comprador queira compensar o valor investido reduzindo gastos. Espero que isso não aconteça", diz.>
CONTROLE NACIONAL>
A decisão do BNDES mantém o controle da nova gigante global de celulose nas mãos de grupos nacionais. O BNDES se tornou acionista da Fibria em 2009, com um aporte de recursos para criar a empresa, que é resultado da combinação entre Votorantim Celulose e Papel e Aracruz Celulose.>
De acordo com o BNDES, a negociação entre Fibria e Suzano prevê melhorias na governança da nova empresa, que contaria com a indicação de conselheiros independentes. O acordo prevê ainda que os acionistas minoritários recebam dinheiro e ações nas mesmas condições que os controladores.>
NOVA EMPRESA AVALIADA EM R$ 83 BILHÕES>
O negócio fechado entre as duas empresas avaliou a Fibria, maior produtora de celulose de eucalipto do mundo, em R$ 60 bilhões, afirmou a diretora de mercado de capitais do BNDES, Eliane Lustosa, ao jornal "O Globo" nesta sexta-feira (16). Segundo ela, a nova empresa, resultante da fusão, será avaliada em aproximadamente R$ 83 bilhões - com uma dívida em torno de R$ 40 bilhões.>
Lustosa disse que o negócio representa a maior monetização da história do BNDES. A concretização do pagamento, porém, deve levar de um ano a um ano e meio. >
O BNDES terá, por meio de sua subsidiária de participações, BNDESPar, 11% da empresa resultante da aquisição da Fibria pela Suzano, que se tornará uma gigante do setor de celulose concentrando quase 50% do mercado mundial, segundo a diretora do banco de fomento.>
O BNDES, que já detém 29% da Fibria e quase 7% da Suzano, receberá ações da Suzano e cerca de R$ 8,5 bilhões por sua participação na Fibria. O outro sócio majoritário da Fibria, a Votorantim, também receberá em dinheiro pela venda de suas ações, mas permanecerá no negócio com uma participação minoritária de 5%.>
A família Feffer, controladora da Suzano, deverá seguir nessa posição com 45,5% da nova empresa, caso os órgãos de controle antitruste, como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), aprovem a operação.>
"DECISÃO DE MERCADO">
Ao jornal "O Globo", a diretora de mercado de capitais do BNDES, Eliane Lustosa, afirmou ainda que a proposta da Paper Excellence (que ofereceu R$ 40 bilhões pela Fibria) não foi avaliada por sua inconsistência, não por uma preferência do BNDES de manter o controle nacional da Fibria, atualmente a maior produtora de celulose de eucalipto do mundo.>
"A decisão não teve nada de campeão nacional, mas acabou sendo sem ter isso como premissa. Foi uma decisão de mercado, que também será positiva para o Brasil com uma empresa resultante ainda mais forte na competição internacional, com significativos ganhos de sinergia", disse a diretora do BNDES.>
"A proposta da Suzano casou totalmente com o interesse do BNDES. Nós já estávamos há muito tempo na empresa e vimos que cumprimos nosso papel. Em nossa avaliação, olhando o preço de mercado da Fibria hoje, vimos que estava melhor do que a perspectiva de valorização. Era uma janela de oportunidade para a BNDESPar e para a Votorantim que precisávamos aproveitar rápido. Conseguimos montar uma operação de venda com preço acima do de mercado. É o momento certo para desinvestir e garantir o luro do BNDES com esse investimento", explicou.>
Perguntada pelo Globo se houve ingerência do governo federal para que o BNDES decidisse pela Suzano para preservar o capital nacional, Eliane negou. "Não houve qualquer interferência. Toda a decisão foi tomada pela BNDESPar em conjunto com a Votorantim.">
RESPOSTA DA BOLSA>
Como o fusão entre as empresas só foi divulgado no fim da noite desta quinta-feira, após o fechamento dos mercados, esta sexta-feira (16) é o primeiro dia para medir como a Bolsa recebeu a notícia.>
Por volta do meio-dia, as ações da Suzano disparavam e subiam mais de 15%. O desempenho dos papéis da empresa de papel e celulose era um dos destaques do Ibovespa, que operava com ganho de 0,41%, aos 85.273 pontos. Já o dólar comercial estava praticamente estável, com leve variação negativa de 0,03%, cotado a R$ 3,29.>
As ações da Suzano operavam em alta de 18,20%, cotadas a R$ 27,66. Essa é a maior alta entre os papéis que fazem parte do Ibovespa. Já os papéis da Fibria despencavam 9,64%, cotados a R$ 64,66.>
A razão para a queda é que os acionistas da Fibria receberão R$ 63,29, abaixo do que vinha sendo negociado nos últimos dias. A notícia é positiva para as ações da Suzano e da Fibria, porém esperamos queda no preço das ações da Fibria e aumento das ações da Suzano no curto prazo, avaliou o analista Eduardo Guimarães, da Levante. (Com informações da Agência O Globo)>
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