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Escalada do dólar: alta ajuda exportação, mas pesa no bolso

Escalada do dólar: alta ajuda exportação, mas pesa no bolso

Economia capixaba ganha com valorização e petróleo mais caro

Publicado em 12 de maio de 2018 às 00:26

Petróleo e dólar valorizaram nesta semana por causa de tensões com o Irã Crédito: Shutterstock

Nem as especulações mais ousadas deram conta de que o dólar subiria tanto nos últimos dias. Na sexta-feira(11), a moeda americana fechou em R$ 3,60, acumulando alta de 8,68% só neste ano, e alcançando a maior cotação em dois anos. Diante desse cenário, enquanto uns lamentam, outros comemoram. A valorização da divisa sobre o real faz o preço de produtos importados subir, o que pressiona a inflação. Por outro lado, o real mais fraco beneficia a indústria que exporta, o que impacta a arrecadação dos governos.

A escalada do dólar tem em boa parte as tensões geopolíticas como fator causador, segundo especialistas. Nesta semana, os Estados Unidos anunciaram a retirada do acordo nuclear com o Irã, impondo sanções econômicas àquele país, o que alimentou temores que a produção e exportação de petróleo iraniano sejam afetadas, o que elevaria o preço da commodity e teria impactos na inflação e na taxa de juros americana.

Para a economia capixaba em específico, essa alta é bem-vinda. Isso porque o Estado é um grande exportador de commodities, como minério de ferro, petróleo, celulose, aço, granito e café, que são as principais mercadorias comercializadas para o exterior, segundo dados do Sindicato do Comércio de Exportação e Importação do Estado (Sindiex). Como a venda dessas commodities é feita em dólar, essas indústrias lucram mais.

“Enquanto outros perdem, nosso Estado ganha com isso, porque setores importantes para a economia capixaba se beneficiam. A gente tem uma vocação para ser um Estado exportador, então é uma ótima oportunidade que temos de acelerar”, afirma o economista Sebastião Demuner, que é conselheiro do Conselho Regional de Economia no Espírito Santo (Corecon-ES).

Para o presidente do Sindicato do Comércio de Exportação e Importação do Espírito Santo (Sindiex), Marcilio Machado, a valorização da moeda já era esperada em função da perspectiva de aumento de juros da economia americana. “Não foi uma surpresa, mas nós aqui temos que acompanhar com muita atenção principalmente porque esse é um ano político no Brasil, que não se sabe quem vai ganhar a eleição nem qual o perfil econômico que terá.”

Apesar de considerar um bom momento para as exportações, Machado pondera que parte dos produtos fabricados no Estado e comercializados para o exterior usam insumos importados, o que com a alta do dólar não é bom, já que importar fica mais caro. “Há esse contra, além da tendência de que a economia brasileira cresça menos pelo dólar forte”, conclui.

PETRÓLEO

Além de provocar a alta da moeda americana, a tensão no Irã também atingiu o preço do barril do petróleo, que nesta semana atingiu o maior preço desde 2014, chegando a US$ 77. O impacto para o Estado, no entanto, é positivo.

“Com o preço desses produtos aumentando, a geração de royalties e de participação especial para os Estados e municípios também cresce. É um preço variável, mas que beneficia neste momento o Estado, além da própria exportação”, explica o economista Orlando Caliman.

Se o preço do petróleo é imprevisível, a alta do dólar por sua vez tende a continuar. “Além desse cenário global ainda nebuloso, no Brasil temos uma variável política com a aproximação da eleição que contribui para que haja uma pressão sobre o dólar, então devemos ter esse cenário por mais tempo”, avalia Caliman.

ENTENDA

POR QUE O DÓLAR ESTÁ EM ALTA NO BRASIL?

Preocupações com o Irã

A retirada dos Estados Unidos do acordo nuclear com o Irã e a imposição de sanções econômicas ao país alimentou temores de que a produção e exportação de petróleo iraniano sejam afetadas, o que elevaria os preços da commodity. Preços mais caros de petróleo impactam a inflação e podem levar o banco central dos EUA a subir mais os juros no país.

Juros no Brasil

O dólar também se valorizou mais em relação ao real do que sobre moedas de países emergentes por conta do diferencial de juros. Enquanto os Estados Unidos devem elevar os juros, no Brasil a expectativa é por uma nova redução. Com a diferença menor entre taxas, os investidores tendem a migrar para os EUA buscando menor risco.

PETRÓLEO E MINÉRIO

Tensões geopolíticas

As sanções ao Irã, um dos maiores produtores de petróleo do mundo, também fizeram o preço do barril disparar, indo de US$ 65 para US$ 77.

Mercado chinês

Já o minério, 2º produto mais exportado pelo Estado, anda valorizado no mercado chinês, o que puxa o preço para cima.

RECEITA DE ROYALTIES DO ESTADO PODE SUBIR EM R$ 400 MILHÔES 

Terceiro maior produtor de petróleo do país, o Espírito Santo deve ganhar com a valorização da commodity além da exportação, mas também na arrecadação do governo estadual e dos municípios produtores.

Enquanto no ano passado o Estado arrecadou

R$ 1,3 bilhão em royalties e participação especial pela produção, a projeção para esse ano, que era de obter uma receita próxima a

R$ 1,4 bilhão, pode chegar a R$ 1,8 bilhão com a alta do preço do barril, pelas contas do secretário estadual da Fazenda, Bruno Funchal.

“O barril vinha em uma tendência de crescimento no ano passado e nos últimos dias acelerou mais. Em um ano, a variação foi de US$ 47 para US$ 77, um aumento de 66%. Se mantiver esse patamar, a receita com isso deve crescer cerca de R$ 400 milhões”.

O secretário lembra que o preço do petróleo é instável, por isso nenhuma projeção é certeira. Mas ele comemora a possibilidade de incremento da receita. “É um recurso que vem numa hora boa para fazermos investimentos”.

Pãozinho francês, por causa do trigo importado, deve sofrer alta nos preços Crédito: Carlos alberto silva

PÃO, VIAGENS E ELETRÔNICOS FICAM MAIS CAROS

O dólar fechou ontem em R$ 3,60 pela primeira vez em dois anos, de acordo com o Banco Central. E a alta da moeda americana nas últimas semanas pode acabar pesando no bolso do capixaba, mesmo aquele que não vai viajar para o exterior. Isso porque produtos importados ou que possuem matéria-prima que vem de fora devem ter aumento no preço. É o caso do pão francês, dos vinhos, eletrônicos e carros.

“Como as operações de importação envolvem o dólar, é praticamente impossível o aumento não ser repassado para o consumidor. O primeiro fator é que o preço dos produtos importados fica maior. O segundo é que muitos produtos fabricados no Brasil possuem componentes importados”, explica o economista Celso Bissoli.

O trigo, por exemplo, é importado pelos moinhos e vendido às padarias. Cerca de 70% da farinha de trigo usada para fazer pão é importada, segundo a Associação da Indústria de Panificação do Estado (Aipães).

Se os importadores repassarem o aumento do preço do produto bruto – causado também por fatores do mercado internacional – e as padarias levarem esse acréscimo ao consumidor, é possível haver um impacto de até 9,6% no preço do pão, calcula o economista Eduardo Araújo.

O quilo do pão francês está entre R$ 14 e R$ 16, o que significa que pode chegar até R$ 17,50. A Aipães, no entanto, ainda não consegue prever o cenário. Segundo o presidente da associação, Ricardo Augusto Pinto, em 2018 já houve uma alteração de 3% a 5% no preço da farinha de trigo comprada pelas padarias, e as empresas não aumentaram o preço do produto.

“Ainda não sabemos o tamanho do impacto, mas pode ser grande. A ideia é segurar o máximo possível, porque estamos em recessão. A gente sabe que se subir o preço, acaba inibindo o consumo”, afirma.

Mesmo que as empresas aceitem diminuir o lucro para se manter no mercado, a previsão é de aumento. “Vai ter um impacto no preço e isso pode até comprometer a inflação nos próximos meses. Se o dólar continuar alto, os produtores não vão conseguir segurar”, avalia Bissoli.

Para quem vai viajar para o exterior, a alta também é motivo de preocupação, uma vez que nas casas de câmbio o dólar turismo já chega a R$ 3,99.

Se as vendas e as importações forem menores, a economia do Estado pode ser afetada. “Os preços dos produtos importados acabam ficando mais caros, havendo então, de certa forma, uma desaceleração da demanda e uma redução do PIB”, explicou o presidente do Sindicato do Comércio de Exportação e Importação do Espírito Santo (Sindiex), Marcilio Machado.

O QUE DEVE SUBIR

PÃO

Cerca de 70% da farinha de trigo usada para fazer pães no Brasil é importada.

ELETRÔNICOS

Aparelhos eletrônicos, como celulares e televisões, são fabricados fora do Brasil ou têm peças importadas.

PERFUMES

Os perfumes internacionais vendidos no Brasil são importados. Com o dólar alto, o preço fica menos competitivo.

CARROS

No Brasil, muitas montadoras ainda trazem modelos produzidos em outros países, o que leva em conta a cotação do dólar. Além disso, muitas peças de carros montados no Brasil são importadas.

VINHOS

O Brasil possui produção nacional, mas vinhos da América do Sul e Europa, muito consumidos, devem ficar mais caros.

COMBUSTÍVEIS

A cotação do barril de petróleo é feita em dólar, até mesmo do produto extraído no Brasil. Ontem, a Petrobras anunciou aumento de 2,23% na gasolina nas refinarias.

VENDAS DE PACOTES PARA O EXTERIOR CAEM 20%

A temporada de férias de meio de ano se aproxima, mas a variação cambial do dólar está desanimando quem quer viajar para o exterior. A compra de pacotes de viagens e passagens aéreas internacionais em agências de turismo, por exemplo, caiu 20% nos últimos 15 dias. Em contrapartida, o preço ofertado nas empresas pode baixar. A venda para destinos nacionais, no entanto, como alternativa aos turistas, aumentou quase 15% no período, com destaque para as praias do Nordeste.

“A tendência é que, com a alta acentuada do dólar, os clientes não cancelem as viagens, mas adiem as compras dos pacotes internacionais. Viajar dentro do Brasil passa a ser uma opção”, explicou o presidente do Sindicato das Empresas de Turismo, Romildo Rodrigues Ruy.

Quem se prepara para viajar para o exterior e vai precisar da moeda americana precisa estar atento ao valor do dólar turismo, que geralmente é mais alto que o dólar comercial. No mercado, o valor já bateu a casa dos R$ 3,80. Outra alternativa muito comum é o uso do cartão pré-pago, mas ele também merece atenção, já que há a incidência do IOF, que é de 6,38%, deixando o valor das compras no cartão mais altas.

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