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Entenda o que muda com as restrições de voos no Santos Dumont

Entenda o que muda com as restrições de voos no Santos Dumont

Prefeito Eduardo Paes quer reduzir fluxo no aeroporto para estimular movimentação no Galeão

Publicado em 15 de junho de 2023 às 13:07

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RIO DE JANEIRO - O debate sobre o futuro dos aeroportos Santos Dumont e Galeão, no Rio de Janeiro, ganhou mais um capítulo nesta quarta-feira (14).

Após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), anunciou que o Santos Dumont terá restrições de voos.

A medida busca direcionar um fluxo maior de aeronaves e passageiros para o Galeão, que amargou processo de esvaziamento.

Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro
Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. (Fernando Frazão/Agência Brasil)

A seguir, entenda o que está em jogo e o que pode mudar para os passageiros caso as restrições entrem em vigor.

QUAIS SÃO AS CARACTERÍSTICAS DE CADA AEROPORTO?

Menos de 20 quilômetros separam o Santos Dumont do Galeão. Voltado para a aviação doméstica, o Santos Dumont fica no centro do Rio.

Está ao lado de negócios instalados na região e mais próximo de pontos turísticos da zona sul, como Pão de Açúcar e praias de Copacabana e Ipanema.

Sua infraestrutura, porém, é menor do que a do Galeão, que recebe voos nacionais e internacionais. O Galeão fica na Ilha do Governador, na zona norte da capital fluminense, e também exerce papel relevante no transporte de cargas do estado.

O Santos Dumont é administrado pela estatal Infraero. O Galeão, por sua vez, está nas mãos da concessionária RIOgaleão, que é controlada pela Changi, de Singapura.

QUAIS RESTRIÇÕES PODEM SER ADOTADAS NO SANTOS DUMONT?

Paes afirmou nesta quarta, que Lula concordou em restringir o tráfego aéreo no Santos Dumont. Segundo o prefeito, o aeroporto central passará a ser usado somente para a ponte aérea com Congonhas, em São Paulo, e para as conexões com Brasília.

Assim, os demais voos domésticos devem ser deslocados para o Galeão. Atualmente, o Santos Dumont conecta o Rio a diferentes regiões do país.

Conforme Paes, Lula também concordou com uma medida para impedir que turistas que vão do Rio para o exterior possam já fazer check-in no Santos Dumont quando o voo para a cidade estrangeira partir de outra cidade, como São Paulo.

Atualmente, turistas realizam o check-in do voo internacional no terminal carioca, mas, na sequência, embarcam para outro destino no Brasil e, só então, viajam para outros países.

Essa mudança teria o objetivo de estimular a operação internacional do Galeão. Com a medida em vigor, se um turista que vai para o exterior quiser sair do Santos Dumont, precisará fazer uma viagem até Congonhas ou Brasília. Em seguida, terá de realizar novo check-in e despachar as bagagens.

QUANDO AS RESTRIÇÕES ENTRAM EM VIGOR?

Ainda não há uma confirmação sobre prazos. Pela projeção de Paes, as restrições poderiam ser adotadas a partir de janeiro.

POR QUE AS RESTRIÇÕES FORAM ANUNCIADAS?

A redução do fluxo de passageiros no Santos Dumont é uma pauta que uniu lideranças políticas e empresariais do Rio.

A avaliação é de que há uma falta de coordenação com o Galeão. Por essa lógica, existiria uma relação predatória entre os terminais.

Após a crise gerada pela pandemia, a retomada da movimentação ocorreu de maneira mais rápida no Santos Dumont do que no Galeão.

Em 2022, o aeroporto doméstico recebeu mais de 10 milhões de passageiros, entre embarques e desembarques, segundo dados da Infraero. O contingente estava próximo de 9 milhões no pré-pandemia.

O Galeão, por sua vez, somou menos de 6 milhões de passageiros pagos em 2022, conforme a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Ao longo da década passada, o terminal chegou a receber mais de 16 milhões de viajantes por ano.

Diante desse contexto, as restrições no Santos Dumont seriam uma tentativa de levar mais voos para o Galeão.

Na visão de lideranças locais, com poucas conexões domésticas, o terminal da Ilha do Governador não consegue atrair voos internacionais.

QUAL É A AVALIAÇÃO DE USUÁRIOS?

Parte dos usuários costuma reclamar de uma dificuldade maior de acesso ao Galeão na comparação com o Santos Dumont.

Essas queixas voltaram a aparecer nas redes sociais nesta quarta, após Paes anunciar as restrições para o aeroporto doméstico.

O acesso ao Galeão é feito por vias como a Linha Vermelha. Usuários reclamam de engarrafamentos e apontam uma sensação de insegurança devido a casos de violência urbana na região.

Para as lideranças do Rio, o esvaziamento do aeroporto internacional não teria sido puxado por esses fatores.

"A gente pode ficar muito tempo falando dos problemas da cidade do Rio de Janeiro, e eles existem, ninguém está contestando, mas não é essa a razão do que acontece com o Galeão", afirmou Paes em um evento em abril.

"O que acontece com o Galeão é desrespeito do ente nacional, do governo federal, que regula esse sistema", completou na ocasião.

O QUE ANALISTAS DIZEM SOBRE O ASSUNTO?

Como mostrou reportagem da Folha de S.Paulo em fevereiro, o assunto gera opiniões diversas entre analistas.

Parte concorda com os argumentos da prefeitura e do governo estadual, mas há quem considere que o esvaziamento do Galeão esteja mais associado a problemas estruturais do Rio, como as turbulências econômicas e a violência urbana.

O QUE FALTA SER RESOLVIDO NO GALEÃO?

O futuro do aeroporto internacional ainda depende de novas definições. Em fevereiro de 2022, a RIOgaleão anunciou um pedido de devolução da concessão do terminal. A empresa associou a medida a dificuldades econômicas agravadas pela pandemia.

Com isso, o governo Jair Bolsonaro (PL) passou a projetar um leilão em conjunto do Galeão e do Santos Dumont. Por essa lógica, um mesmo grupo investidor poderia ficar com a administração dos dois terminais.

Em novembro do ano passado, a RIOgaleão assinou com ressalvas um termo aditivo para dar andamento à devolução. À época, a Anac indicou que, ao assinar o documento, a concessionária declararia "adesão irrevogável e irretratável à relicitação".

Com a troca de governo, o debate ganhou novos contornos. Segundo o ministro Márcio França (Portos e Aeroportos), a companhia sinalizou interesse em costurar um acordo para a permanência no aeroporto.

A viabilidade jurídica do acerto, contudo, é incerta. O governo federal resolveu consultar o TCU (Tribunal de Contas da União) sobre o assunto. É esperada uma posição do órgão para que a discussão avance.

QUEM VAI ADMINISTRAR O SANTOS DUMONT?

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), afirmou na segunda (12) que estuda junto ao governo federal a criação de uma gestão compartilhada para o Santos Dumont.

A ideia é que a capital fluminense também participe dessa gestão. A afirmação de Castro foi dada após reunião com Lula.

Segundo o governador, a gestão compartilhada seria formalizad a por meio de uma SPE (Sociedade de Propósito Específico), que poderia também contratar a Changi, empresa que administra o Galeão, para ter o controle do fluxo nos dois aeroportos.

Paes, por sua vez, afirmou na quarta que não abordou com Lula a questão da concessão do terminal internacional.

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