Publicado em 16 de março de 2018 às 11:12
A OAS enfrenta mais um capítulo da crise em que está mergulhada há quatro anos, desta vez com troca do presidente do grupo e falta de condições de pagar os salários dos funcionários. Em recuperação judicial e com dívida superior a R$ 10 bilhões, a empreiteira foi uma das mais atingidas pela Operação Lava-Jato.>
Em fevereiro, o executivo Elmar Varjão, que estava na presidência da construtora há três anos, saiu do cargo e foi proibido de passar pelas catracas da empresa. Quem assumiu o posto foi Josedir Barreto, que era até então o diretor financeiro. O afastamento de Varjão aconteceu na última reunião entre ele e os acionistas, realizada às vésperas do carnaval. Na ocasião, o então presidente defendeu o afastamento de Antonio Carlos e César Mata Pires Filho da administração da empreiteira. Ambos são filhos do fundador da empresa, Cesar Mata Pires, morto em agosto do ano passado após sofrer um ataque cardíaco.>
TROCA DE ACUSAÇÕES E QUASE AGRESSÃO>
Varjão também disse que necessitava de recursos, cerca de R$ 200 milhões, para garantir mais um ano e meio de sobrevida da empresa. Os pedidos deflagraram trocas de acusações e um debate sobre as metas não atingidas na gestão de Varjão e a transparência da mesma. Segundo testemunhas, Antonio Carlos e o então presidente do grupo quase chegaram a se agredir, mas foram impedidos pelos demais participantes.>
>
Em dezembro de 2015, mesmo ano em que assumiu a presidência, Varjão chegou a ser preso na Operação Vidas Secas. Realizada pela Polícia Federal de Pernambuco, ela apurava desvios de R$ 200 milhões das obras da transposição do Rio São Francisco. O executivo foi solto três dias depois, e a investigação ainda não foi concluída. Além da troca de presidente, a empreiteira também fez outras mudanças, como a criação de três vice-presidências: Engenharia, Investimentos e Corporativa.>
Nesses quase quatro anos de crise, a OAS deixou de pagar pela primeira vez o salário de parte dos funcionários referentes à folha de fevereiro. Em comunicado enviado na quarta-feira da semana passada a mais de 300 empregados, a empreiteira alegou: atrasos inesperados nos recebimentos das obras nos deixaram sem caixa neste início de mês. Na nota, a empresa pediu desculpas pelo constrangimento e disse que manter em dia a folha é um dos principais compromissos.>
INVEPAR PODERIA RENDER R$ 1,2 BILHÃO>
As dívidas da companhia também atingem os prestadores de serviços. Só com advogados, a OAS tem um passivo de mais de R$ 20 milhões e tenta negociar a quitação oferecendo precatórios judiciais.>
Com recuperação judicial aprovada em março de 2016, a OAS conseguiu renegociar uma dívida de R$ 8 bilhões para ser paga em 25 anos. Hoje, o principal ativo do grupo são os 25% de participação que tem na Invepar, grupo que detém a concessão do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo.>
Na avaliação da alta cúpula da OAS, a venda dessa cota pode render aproximadamente R$ 1,2 bilhão à construtora. Desse valor, a ideia é que R$ 250 milhões se convertam em capital de giro da OAS e o restante seja usado para pagar os credores que aprovaram o plano de recuperação. Até o momento, a companhia tem pago suas dívidas com o caixa próprio gerado principalmente por meio de recebimento de obras pendentes, como o Rodoanel Norte, em São Paulo, a Avenida 29 de março, em Salvador, além da venda de equipamentos. No entanto, a venda da Invepar é tida como essencial para a sobrevivência da empresa.>
Para agravar a crise, as delações dos irmãos Antonio Carlos Mata Pires e César Mata Pires Filho e de Aldemário Pinheiro Filho, o Léo Pinheiro, preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, não evoluem. Detido pela segunda vez há dois anos, Léo Pinheiro é um dos executivos que tentam fazer acordo de delação premiada com a força-tarefa de Curitiba e a Procuradoria-Geral da República (PGR), mas sem sucesso. As negociações chegaram a ser interrompidas devido a vazamento de informações envolvendo um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), mas foram retomadas em 2017 a passos lentos.>
SEM DINHEIRO PARA MULTA DE LENIÊNCIA>
Outro impasse é a negativa de um acordo de leniência, espécie de delação premiada da pessoa jurídica que a permite continuar prestando serviço ao poder público. A proposta da empresa foi rechaçada pela força-tarefa de Curitiba. Além dos fatos oferecidos pelo grupo não terem despertado o interesse do Ministério Público Federal para justificar um acordo, a empreiteira não teria dinheiro para pagar a multa de R$ 500 milhões que seria cobrada, conforme relato de procuradores AO GLOBO.>
Além disso, oito delações dos funcionários que integravam a área de pagamento de propina foram devolvidas à PGR para reparos, mas ainda não retornaram ao ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no STF, para serem homologadas. Esses oito ex-funcionários da OAS integravam o setor de repasses ilícitos da construtora, que era inspirado nos moldes da Odebrecht, com a maioria dos pagamentos feitos em espécie por meio de senhas e codinomes. Entre os documentos entregues pelo grupo estão planilhas com valores, datas, locais e senhas da entrega do dinheiro.>
Na empresa, a avaliação é que os acordos têm altas chances de naufragar, pois a maioria desses colaboradores não teria condições de apontar os destinatários finais da propina. Para isso, a OAS argumenta que teria de incluir todos os diretores regionais e os acionistas, o que resultaria em cerca de 25 acordos fechados, alternativa já rechaçada pelos procuradores. Procurada, a empresa não quis se manifestar.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta