Publicado em 10 de fevereiro de 2018 às 01:46
Enquanto o governo de Michel Temer (PMDB) faz suas últimas investidas junto aos deputados federais para conseguir os 308 votos para aprovar a reforma da Previdência, esbarra no receio de alguns em mudar as regras de aposentadoria próximo às eleições de 2018.>
Há 20 anos, em 1998, o cenário também era de preocupação fiscal e de transformações demográficas, e o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) igualmente teve que enfrentar a resistência dos parlamentares no ano eleitoral.>
No entanto, um estudo do economista e consultor do Senado Pedro Fernando Nery apontou que a maneira como os deputados se posicionaram na votação da reforma da Previdência de FHC não impactou de forma direta o desempenho da eleição no mesmo ano.>
Naquele ano, dos 500 deputados que votaram o texto, 434 se candidataram. Desses, 272 se reelegeram. A maior parte dos reeleitos foi de parlamentares que votaram a favor da reforma. Contudo, a metade daqueles que rejeitaram a PEC também saiu vitoriosa nas urnas, o que, para o economista, significa que a votação não foi uma sentença de morte para os deputados.>
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O estudo diz que naquele ano o voto a favor da reforma não afetou. Nem para mais, nem para menos. Tivemos mais reeleitos no grupo que votou a favor, mas uma hipótese é que esses deputados pertenciam à base de um governo que era muito forte, foi reeleito em 1º turno e tinha uma clara perspectiva de poder. É uma situação muito diferente de 2018, em que nem sabemos quem são os candidatos, explicou.>
Assim como agora, em 1998 o governo tentou implementar a idade mínima para trabalhadores do setor privado, que foi votada em separado e derrubada por apenas um voto. Por isso, para Nery, o resultado do estudo pode ser diferente para este ano.>
O ponto principal da proposta não foi aprovado, então aqueles que votaram favoravelmente não sofrem tanta retaliação. Já na atual reforma, esta questão dificilmente será retirada, afirmou.>
Este pode ser considerado novamente o ponto mais sensível da PEC, na opinião do pós-doutor em Ciências Sociais e Ciências Políticas da UNB, Vicente Faleiros.>
O que temos de mais diferente do resto do mundo é não ter idade mínima justamente para os trabalhadores que vivem mais, que são os que conseguem maior tempo de contribuição e são os mais qualificados. E elas afetam mais aqueles que estão no mercado formal, pertencem a alguma carreira e geralmente são sindicalizados, acredita.>
Ele assinala ainda que como esta é a primeira eleição geral com a campanha mais curta, de 45 dias, é outro fator que torna imprevisível o peso que a votação terá para os candidatos.>
A campanha maior servia tanto para debater mais temas, e talvez punir quem votou favorável, como também para esclarecer um tema complexo como esse, inclusive pois boa parte do eleitorado parte de visões equivocadas, afirma Faleiros.>
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SEMELHANÇAS>
O economista Pedro Nery considera que o principal ponto que os dois momentos políticos têm em comum é porque as duas Propostas de Emenda Constitucional (PEC) afetam muito mais os eleitores do Sudeste, Sul e Centro-Oeste do Brasil, visto que focam na previdência urbana.>
Elas mexem com os trabalhadores do serviço público e do INSS que têm carteira assinada há mais tempo. A proposta atual preserva a aposentadoria rural, o benefício de prestação continuada, que são mais pagos no Norte e Nordeste, onde o mercado de trabalho é mais incipiente. Isso também conta para a análise dos reflexos que haverão nas eleições, destaca.>
A REFORMA>
PROPOSTA ATUAL>
Idade mínima: 62 anos para mulheres e 65 anos para homens, com 15 anos de contribuição. Para professores será de 60 anos, e para policiais de 55 anos.>
Benefício integral: 40 anos de contribuição para atingir 100%. O benefício começa em 60%, com 15 anos de contribuição, e sobe até chegar ao valor integral.>
Pensões: vinculação ao salário mínimo, com possibilidade de acumular aposentadoria e pensão deixada por cônjuge, com o limite de até dois salários mínimos e a exceção dos cônjuges de policiais mortos em serviço.>
NÃO MUDA>
Aposentadoria rural: continua com idade mínima de 55 anos para mulheres e 60 anos para homens, e 15 anos de trabalho no campo.>
Benefício da prestação continuada: vinculado ao salário mínimo, com idade mínima de 65 anos para idosos de baixa renda.>
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