> >
Dólar sobe 0,45% e fecha a R$ 5,5242 com cautela fiscal

Dólar sobe 0,45% e fecha a R$ 5,5242 com cautela fiscal

Após oscilar entre os terrenos positivos e negativos pela manhã, o dólar não apenas se firmou em alta ao longo da tarde, operando acima dos R$ 5,50, como chegou até o patamar de R$ 5,53

Publicado em 17 de novembro de 2021 às 19:04

Ícone - Tempo de Leitura min de leitura
Pelo acordo, os dólares comprados pela consumidora deveriam ser entregues na véspera da viagem
Pelo acordo, os dólares comprados pela consumidora deveriam ser entregues na véspera da viagem. (Agência Brasil)

A cautela com o cenário fiscal, em meio às negociações da PEC dos Precatórios no Senado e à possibilidade de reajuste salarial para servidores públicos, voltou a dar as cartas no mercado de câmbio doméstico. Após oscilar entre os terrenos positivos e negativos pela manhã, influenciado muito pelo comportamento da moeda americana no exterior, o dólar à vista não apenas se firmou em alta ao longo da tarde, operando acima dos R$ 5,50, como chegou a correr até o patamar de R$ 5,53.

A deterioração mais aguda veio após declarações do líder do governo e relator da PEC no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), dando conta de que o texto pode sofrer alterações na Casa para angariar mais apoio, o que faria a proposta retornar à Câmara dos Deputados para nova votação. Isso atrasa uma definição para o Orçamento de 2022, o que aumenta a percepção de risco e abala a confiança dos investidores. Rumores de que o governo poderia aproveitar brecha na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) para reajustar salário de servidores sem estabelecer a fonte de financiamento ajudaram a azedar ainda mais o humor do mercado.

Com mínima de R$ 5,4661, registrada pela manhã, e máxima a R$ 5,5332 (+0,61%), o dólar à vista encerrou a sessão cotado a R$ 5,5242, alta de 0,45% - o que reduziu a queda acumulada no mês para 2,16%. O giro com o contrato futuro de dólar para dezembro foi bem reduzido, refletindo pouco apetite para formação de posições.

Embora o dia lá fora tenha sido misto para divisas emergentes e de países exportadores de commodities, como destaque negativo para o peso chileno e a lira turca, não dá para atribuir a depreciação do real hoje apenas ao ambiente externo. Entre os principais pares do real, o peso mexicano ganhou força e o rand sul-africano trabalhou perto da estabilidade.

"Embora câmbio tenha melhorado ligeiramente hoje pela manhã, acompanhando o bom humor do cenário externo, as incertezas com a PEC dos Precatórios continuam pesando sobre o mercado local, com o real com performance pior", afirma a economista do Banco Ourinvest Cristiane Quartaroli. "A percepção é de cautela por parte dos investidores com relação ao Brasil. O câmbio segue em nível elevado e com tendência de alta".

Após reunião com líderes partidários, Bezerra afirmou, hoje à tarde, que existem negociações para que o Auxílio Brasil seja permanente e para que haja "outras formas" de pagamentos de precatórios. Contrariando desejo expresso pelo presidente Jair Bolsonaro de conceder reajuste ao funcionalismo público, o senador disse que o espaço adicional no Orçamento de 2022 "não é para reajuste de servidor". Ontem, Bolsonaro afirmou já ter conversado com o ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre o tema, citando eventual folga fiscal aberta pela PEC.

Fontes ouvidas pelo Broadcast afirmaram que eventual reajuste a servidores precisaria ser incluída pelo governo na mensagem modificativa do Orçamento de 2022. Essa inclusão depende de existência de espaço dentro do teto de gastos, mas não está sujeita a obrigatoriedade de compensação, como exigido pela LRF. O entendimento é o de que o reajuste, se apenas repuser a inflação, não precisa de compensação.

O líder do governo calcula que a PEC tenha hoje de 51 a 52 votos favoráveis no Senado, pouco acima do mínimo necessário (49) votos. Se mudanças no texto trouxerem mais votos, o risco de que a PEC acabe rejeitada por traições ao governo diminui. A previsão é que o parecer de Bezerra seja apreciado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) na próxima quarta-feira (24) e que a votação no plenário ocorra no dia 30 de novembro.

O economista Bruno Mori, planejador financeiro CFP pela Planejar, observa que as declarações de Bolsonaro sobre possível ajustes dos servidores públicos aumentaram a percepção de risco fiscal no mercado justamente no momento de definição para a PEC dos Precatórios. "Existe muita insegurança com essa questão eleitoreira. O dólar abriu para baixo, mas não se sustentou porque os ruídos político continuam dominando o cenário", afirma

Com os níveis atuais do dólar, Mori não vê disposição dos agentes para formação de grandes posições tanto na ponta da compra quanto na da venda. De um lado, o real já parece bastante depreciado, o que abriria espaço para uma queda do dólar. Por outro lado, a taxa de câmbio ainda se mostra muito sensível ao quadro fiscal e político, o que inibe apostas a favor do real.

"Além da pressão interna, existe a possibilidade de o Federal Reserve subir os juros já no próximo ano. Isso aumenta a busca pela moeda americana", diz Mori, acrescentando que, do lado do fluxo, parece haver apetite do estrangeiro para a renda fixa local, mas em nível insuficiente para contrabalançar a piora da balança comercial e a baixa atratividade da Bolsa.

Pela tarde, o BC informou que o fluxo cambial está negativo em R$ 3,659 bilhões em novembro (até o dia 12), com entrada líquida de US$ 380 milhões pelo canal financeiro e saídas de US$ 4,039 bilhões via comércio exterior. No acumulado do ano, também até o dia 12 deste mês, o fluxo cambial total é positivo em US$ 16,671 bilhões.

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais