Publicado em 27 de dezembro de 2024 às 18:23
SÃO PAULO - O dólar fechou em alta de 0,21% nesta sexta-feira (27), cotado a R$ 6,190, com investidores digerindo uma bateria de dados econômicos do Brasil e ainda cautelosos com a política fiscal do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).>
A moeda atingiu a máxima de R$ 6,213 no início da tarde, mas desacelerou ganhos perto do final da sessão, também afetada pela baixa liquidez comum às últimas negociações do ano.>
Já a Bolsa, às 17h05, tinha queda de 0,51%, aos 120.457 pontos.
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No início da sessão, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) publicou os números do IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15), uma espécie de prévia da inflação oficial do país.>
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O indicador fechou o acumulado de 2024 com alta de 4,71% – acima do teto da meta de inflação do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que é de 4,5% neste ano.>
O resultado, contudo, ficou um pouco abaixo do verificado em 2023, de 4,72%, e é o menor desde 2020 (4,23%).>
Considerando apenas o mês de dezembro, o IPCA-15 desacelerou a 0,34%, após marcar 0,62% em novembro. O resultado veio bem abaixo da mediana das projeções do mercado financeiro, que era de 0,46%, conforme a agência Bloomberg.>
Em outra divulgação do IBGE, a taxa de desemprego atingiu 6,1% no trimestre até novembro. O indicador estava em 6,6% nos três meses até agosto, que servem de base de comparação.>
Ao marcar 6,1%, a taxa renovou a mínima da série histórica da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), iniciada em 2012. Até então, o menor patamar havia sido registrado no trimestre até outubro de 2024, quando a desocupação foi de 6,2%.>
Já o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho e do Emprego, informou que o Brasil abriu 106.625 vagas formais de trabalho em novembro. O resultado ficou abaixo da expectativa de economistas apontada em pesquisa da Reuters, de criação líquida de 129.500 vagas.>
Os dados indicam que a economia brasileira está aquecida, levando o mercado a precificar os efeitos sobre as decisões de juros do BC (Banco Central) no ano que vem. A taxa básica do país, a Selic, deverá ter mais dois aumentos de 1 ponto percentual nas próximas duas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária), conforme anunciado no último encontro do colegiado.>
Nos juros futuros, os prazos mais longos se sustentavam em alta, também acompanhando o rendimento dos treasuries – os títulos ligados ao Tesouro dos EUA – no exterior.>
No fim da tarde, a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2026 estava em 15,33%, em leve queda ante os 15,357% do ajuste anterior. Já a taxa do contrato para janeiro de 2027 marcava 15,745%, ante o ajuste de 15,63%.>
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 15,26%, em comparação aos 14,965% do ajuste anterior, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 15,03%, ante 14,712%.>
Mas, mais do que os novos dados em si, o foco do mercado segue sendo a desconfiança em relação à política fiscal do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).>
"Por óbvio, o que mais tem feito preço e o que mais tem movimentado o mercado nestas semanas tem sido a expectativa do que será a trajetória de política fiscal aqui no Brasil", afirma Matheus Massote, especialista de câmbio da One Investimentos.>
O pacote de corte de gastos do governo, ainda que tenha sido aprovado na semana passada pelo Congresso Nacional, teve a economia reduzida por causa das alterações dos parlamentares.>
O time de análise da XP calcula uma desidratação de R$ 8 bilhões nos próximos dois anos. No longo prazo, o prejuízo das mudanças dos parlamentares é ainda mais preocupante. Com as medidas originais, a XP esperava uma economia de cerca de R$ 294 bilhões até 2030, e agora esse valor teve uma redução de R$ 62 bilhões, para R$ 232 bilhões.>
As mudanças que mais prejudicaram o resultado final, segundo o analista da XP Tiago Sbardelotto foram as reduções nos critérios exigidos para o BPC (Benefício de Prestação Continuada), a desistência de alterar os repasses para o FCDF (Fundo Constitucional do Distrito Federal) e o afrouxamento do comando para um limite aos supersalários na administração pública.>
Outro ponto importante modificado pelo Congresso foi a blindagem feita pelos parlamentares de emendas obrigatórias contra bloqueios no Orçamento federal.>
"Com isso, o resultado apenas reforçou a visão [que já tínhamos] de que se tratava de um tímido pacote de mudanças, que não trata das questões mais importantes do Orçamento federal (como a indexação dos benefícios) e que servirão somente para manter o limite de gastos por mais dois ou três anos", diz o analista no relatório.>
Por isso, a expectativa do mercado é por mais medidas de ajuste fiscal no próximo ano. "Agora os olhos vão se voltar para quais vão ser as medidas de política monetária e econômica do ano que vem", diz Massote.>
Como esta sexta-feira é o penúltimo dia útil para o mercado no Brasil, a expectativa é de que a liquidez também possa ser menor, em especial durante o período da tarde.>
O dólar sobe também após uma nova intervenção do BC no mercado de câmbio, na quinta. A autoridade monetária vendeu US$ 3 bilhões em leilão à vista realizado no começo da sessão. Foram aceitas nove propostas entre 9h15 e 9h20.>
Com a nova intervenção, subiu para US$ 30,77 bilhões o total de leilões realizados desde que a instituição passou a injetar dólares no mercado de câmbio há duas semanas.>
Esta conta inclui tanto as operações à vista quanto os leilões de linha venda de dólares com compromisso de recompra.>
As operações do BC buscam atender à demanda por dólares por parte de empresas e fundos, para remessas ao exterior algo comum nos finais de ano.>
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