Publicado em 28 de outubro de 2021 às 11:24
SÃO PAULO - O aumento da taxa Selic pelo Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) nesta quarta-feira (27) em 1,5 ponto percentual, para 7,75% ao ano, colocou a renda fixa, em especial as debêntures incentivadas, em larga vantagem em relação aos demais investimentos, segundo levantamento do buscador de aplicações financeiras Yubb. >
Diante do cenário de incertezas, porém, analistas reforçam recomendações por investimentos em renda fixa de perfil conservador, com destaque para os títulos públicos indexados à inflação. >
Com a Selic em 7,75%, as debêntures incentivadas têm um ganho anual real estimado em 2,38%, segundo o Yubb. >
Os demais investimentos avaliados estão com retorno real estimado negativo: poupança (-3,24%), Tesouro Selic (-2,61%), CDB de banco médio (-0,92%), CDB de banco grande (-3,73%), Letra de Câmbio (-0,36%), Letra de Crédito do Agronegócio (-1,34%), Letra de Crédito Imobiliário (-1,06%) e Recibo de Depósito Bancário (-0,58%). >
>
Criados em 2011 para atrair investidores privados (pessoas jurídicas ou físicas) para colocar dinheiro em projetos de infraestrutura do país, os títulos de debêntures incentivadas têm como diferencial a isenção de Imposto de Renda sobre os retornos auferidos. >
Esses papéis costumam pagar uma taxa prefixada mais a variação da inflação, o que vem dando vantagem a eles nesse período de alta de preços. >
Bernardo Pascowitch, fundador do Yubb, explica que o levantamento retrata o momento em que os principais títulos de renda fixa do país perdem para a inflação, uma vez que a Selic ainda não está acima do aumento no custo de vida. >
A análise considera a inflação acumulada em 8,96% em 2021, e a possibilidade de que o índice termine o ano acima ou muito próximo dos 10%. >
Pascowitch alerta, porém, que as debêntures são ativos de riscos mais elevados dentro da renda fixa, pois são títulos de dívida corporativa sem garantia do FGC (Fundo Garantidor de Créditos). >
"A gente está olhando justamente para o risco de crédito, a qualidade do crédito da empresa emissora. Então, são ativos muito mais arriscados, sem nenhum tipo de garantia no comparativo com os outros títulos", diz. >
"Mas como tudo em investimentos, existe a relação entre risco e retorno: quanto maior o risco, maior o potencial de retorno", acrescenta. >
Diretora de investimentos da gestora de patrimônio Sonata, Patrícia Palomo diz que tem recomendado aos clientes que reduzam a alocação em fundos multimercados, que de modo geral têm maior dificuldade de entregar resultados destacados em cenários de alta dos juros. >
Na outra ponta, a especialista afirma que o dinheiro sacado dos fundos do tipo multiestratégia deve ser destinado neste momento principalmente para as oportunidades na renda fixa, que, na avaliação da diretora da Sonata, mostram-se cada vez mais atraentes. >
"Os investidores deveriam aproveitar a janela que a renda fixa está oferecendo", diz a especialista. >
Frente a um risco crescente de desancoragem das expectativas de inflação para 2022, a diretora de investimentos indica opções de títulos públicos que têm oferecido uma taxa preestabelecida, além da variação do IPCA (índice oficial de inflação do país), de modo a garantir o poder de compra do investidor. >
No Tesouro Direto, programa digital de compra e venda de títulos públicos, papéis como o Tesouro IPCA para 2026 ofereciam nesta quarta-feira (27) juro real de 5,4% ao ano. >
Palomo afirma também que os níveis de dois dígitos em taxas prefixadas no Tesouro Direto chamam atenção, mas que é preciso ter uma dose maior de cautela nesse caso, frente ao risco de a inflação seguir pressionada por mais um bom tempo. >
Ela diz ainda que, frente aos prêmios oferecidos na renda fixa de baixo risco nos títulos públicos, é preciso avaliar com cuidado alternativas no crédito privado a diretora afirma que a taxa de rentabilidade excedente em relação aos papéis do governo giram hoje ao redor de 1 ponto percentual, o que não é considerado um patamar suficientemente atrativo pela especialista. >
Na mesma linha, Carlos Belchior, estrategista-chefe da G5 Partners, diz que, a despeito da especialidade da casa no segmento de crédito privado, tem privilegiado para a carteira dos investidores os títulos públicos indexados à inflação de médio prazo, com vencimentos entre 2028 e 2030, de menor volatilidade em comparação aos vértices mais longos. >
"O investimento mais inteligente no momento são os títulos públicos indexados à inflação", diz Belchior. >
O estrategista-chefe da G5 cita uma oferta de CRA (Certificados de Recebíveis do Agronegócio) da empresa J Macêdo nesta semana realizada no mercado, em que a demanda superou em cerca de quatro vezes o tamanho da oferta de cerca de R$ 200 milhões. >
A procura foi tanta que achatou o prêmio do ativo de uma proposta inicial ao redor de 3 pontos percentuais, ante os juros dos títulos públicos indexados à inflação, para algo perto de 1,25 p.p., diz Belchior. >
"Diante das taxas nas NTN-Bs [títulos indexados à inflação], temos trocado o risco de crédito privado pelo público", afirma o especialista. "O Brasil é um lugar de juro, não é um lugar de Bolsa." >
Ele acrescenta ainda que o nível de taxas se relaciona diretamente com o aumento das incertezas no cenário político e econômico do Brasil em 2022, cenário esse que deve prosseguir por mais um bom tempo, e tende a dificultar um desempenho mais destacado da Bolsa. >
Paloma Brum, analista da Toro Investimentos, destaca que a alta da Selic beneficiará o investidor com maior exposição a títulos pós-fixados, que acompanham a taxa básica de juros. >
"Para quem tem títulos prefixados ou atrelados à inflação, a Selic mais alta prejudica somente o valor atual destes títulos", diz Brum. "Quem tem o objetivo de levar esses tipos de aplicação até o vencimento não precisa se preocupar, pois terá a rentabilidade acordada no momento em que foi realizado o investimento." >
Apesar da necessidade de uma seletividade maior, Fernando Ring, diretor da Suno Wealth, diz que tem encontrado boas oportunidades no mercado de emissões privadas, em CDBs pós-fixados com rendimento entre 130% e 150% do CDI, com prazos de dois a três anos. >
"Esses títulos conseguem capturar imediatamente a elevação da Selic", diz Ring. O diretor da Suno Wealth diz ainda que, entre os indexados à inflação, é possível encontrar emissões bancárias pagando até cerca de 6,5% de juro real ao ano. >
Já para a Bolsa de Valores, a expectativa não é das melhores. Vitor Duarte, diretor de investimentos da Suno Asset, lembra que o aumento dos juros, além de reduzir o número de investidores interessados na classe de renda variável, reduz o valor presente das ações, frente à projeção de uma taxa de desconto mais elevada no longo prazo. >
"A média da Bolsa é para baixo, mas dentro dessa média existem oportunidades", afirma Duarte, que enxerga o setor financeiro, como bancos e seguradoras, em preços bastante descontados e com perspectivas positivas frente ao cenário de juros mais altos. >
"Os preços de ativos mais correlacionados com o desempenho da atividade econômica doméstica devem sofrer mais, como é o caso de empresas do setor de varejo, shopping centers, educação, transporte com foco no mercado interno e consumo discricionário, como turismo, lazer, vestuário e entretenimento", diz Brum, da Toro. >
Ronaldo Patah, estrategista de investimentos do UBS, diz que, após os eventos políticos recentes no país, promoveu algumas mudanças importantes na alocação tática da carteira investimentos em ações e em fundos imobiliários, que até então eram as categorias preferidas dentro do portfólio, foram rebaixadas para uma recomendação neutra. >
"Segundo o ministro da Economia, Paulo Guedes, [o desrespeito ao teto de gastos] foi uma decisão política, e o governo está compensando famílias que mais sofreram com as consequências da pandemia. Não há nada errado com essa lógica. Mas os agentes de mercado avaliam que o governo deveria cortar despesas a fim de criar espaço para este aumento de benefício, em vez de romper o teto de gastos", aponta Patah, em relatório. >
O especialista diz ainda que medidas parecidas já foram tentadas no passado no Brasil e em outros países da América Latina, e nunca funcionaram. "A tentação de seguir novamente por esse caminho, no entanto, continua, especialmente com as eleições à frente", diz o estrategista do UBS. >
Patah diz que o time econômico do banco revisou recentemente de 3,5% para 4% sua previsão para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) em 2022, e a taxa Selic, de 9,25% para 10,25%, no fim do ciclo. >
Já a previsão para o câmbio, que era de R$ 5,00 no primeiro trimestre de 2022, passou para R$ 5,50, patamar que os especialistas acreditam que deve persistir ao longo de todo o ano que vem. >
O estrategista do UBS diz ainda que a única notícia positiva no Brasil recentemente diz respeito ao sucesso no avanço da vacinação. "Isso, contudo, não é suficiente para melhorar o sentimento do mercado, até porque é um evento que já foi precificado pelos agentes", diz Patah, acrescentando que não vê nenhum fator que possa fazer a Bolsa brasileira ter um bom desempenho no curto prazo. >
Frente ao aumento esperado da volatilidade no mercado local em 2022 por conta das eleições, Patah diz que vê no cenário global as melhores oportunidades para o investidor nos próximos meses. >
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta