Publicado em 19 de março de 2019 às 13:37
Milhares de investidores e usuários de redes sociais passaram os últimos dias ouvindo a história de Bettina, 22, que, em três anos, transformou R$ 1.520 em R$ 1,042 milhão.>
Ela aparece em um anúncio virtual da Empiricus, casa de análise que se apresenta como site de conteúdo financeiro.>
Bettina existe. Trata-se de Bettina Rudolph. Ela trabalha há um ano na Empiricus Research como "copywritter", é redatora de campanhas de venda dos relatórios da empresa.>
A mais recente - e que a transformou em uma celebridade da internet - foi feita com base na carteira de investimentos dela.>
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Mas Bettina não sabe quanto efetivamente investiu para chegar ao seu primeiro milhão - não foram só os R$ 1.520 anunciados, é claro.>
"Não sei, porque foi mês a mês. Nunca parei para fazer essa conta", diz em sua primeira entrevista sobre a polêmica "de R$ 1 mil a R$ 1 milhão em três anos".>
Antes, falou a outros sites vinculados ao grupo que controla a Empiricus.>
Quando investe, uma pessoa tende a querer saber qual foi o lucro obtido com a aplicação. No caso Bettina, não se sabe qual foi o retorno dos investimentos.>
Ela conta que poupa cerca de metade do salário todos os meses. Bônus, quase 100%. Após os R$ 1.520, aplicou os R$ 35 mil que o pai poupou para ela desde que nasceu.>
Desde março de 2018, quando foi contratada pela Empiricus e se mudou de Blumenau de volta a São Paulo, paga todas as suas despesas. A exceção é a conta de celular, que ainda é de Santa Catarina.>
Bettina diz que começou a trabalhar aos 15 anos, dando aulas de dança. Fez bicos como modelo.>
A entrada no mundo dos investimentos veio justamente por meio dos relatórios da Empiricus, conhecida pelo seu marketing agressivo.>
Alguns desses anúncios renderam punições de órgãos reguladores, como "A estratégia capaz de transformar R$ 1.500 em mais de R$ 227 mil em apenas um mês".>
RELATÓRIOS DO PAI>
O pai era cliente da Empiricus e enviava os relatórios para a Bettina e o irmão. Um dia ela começou a ler e a se interessar pelo tema.>
Chegou a ter 98% do patrimônio em ações - a exceção era uma debênture e um título público. Diz que talvez isso tenha sido irresponsável, mas não se arrepende.>
"Eu entrei numa época muito boa. Se você pegar o gráfico de micro caps [empresas de pequeno porte listadas na Bolsa] em 2016, estava a preço de banana. Aí eu comecei a ganhar dinheiro rápido e comecei a me apaixonar", afirma.>
Segundo ela, essas ações triplicaram de valor no período. Como comparação, entre junho de 2016, quando Bettina começou, e esta segunda-feira (18), o Ibovespa, o principal índice do mercado acionário, subiu 104%.>
Já a debênture ela carrega até hoje - com decepção, afirma.>
"Eu fiz o erro de comprar uma debênture que eu só vou poder resgatar neste ano. Quando eu fui colocar esse dinheiro, meu pai falou 'vai nessa que é uma boa'. Eu não sabia que ia ficar preso esse dinheiro", diz.>
Atualmente, a carteira de Bettina é bem mais diversificada.>
Metade do milhão está aplicada em títulos públicos, sendo o valor dividido de forma mais ou menos equivalente entre Tesouro Selic e Tesouro IPCA+. A carteira tem ainda as ações compradas no passado, quatro fundos de ação, três ETFs (fundos que seguem índice, como o Ibovespa). Ela tem também dinheiro em fundos multimercado e imobiliários.>
Em criptomoedas, investiu US$ 1.000 em março do ano passado: perdeu 60% do valor, mas não vai se desfazer do investimento.>
A mudança feita no portfólio fará com que o patrimônio cresça em uma velocidade mais devagar daqui para frente, admite.>
Ela reclama que atualmente não pode comprar ações individualmente, apenas por meio de fundos. Uma imposição por trabalhar na Empiricus, o que evita conflitos de interesse. Parte do investimento passado ela mantém.>
"De uma carteira de 30 e poucas ações, eu perdi dinheiro com uma só. Foi a Technos." Comprou a pouco mais de R$ 4, vendeu por R$ 3. Atualmente o papel é negociado a R$ 2,38.>
PRIVILÉGIOS>
Bettina contou a história da família, queria reconhecer que, sim, tem privilégios, mas não na dimensão que as redes sociais fizeram parecer.>
Cresceu em São Paulo, morando em uma casa grande em Alphaville. Quando o pai perdeu o emprego em uma multinacional, percebeu o problema de não fazer investimentos.>
Em 2012, sem conseguir um novo emprego, a família se mudou para Blumenau. Ele passou a trabalhar na empresa fundada pelo avô de Bettina, que era tocada pelo tio. É outro tema amplamente explorado pelas redes sociais.>
"Meu pai tem menos de 10% empresa", diz.>
A radiografia foi levantada e ela explica: cerca de R$ 500 mil é a fatia que o pai tem na companhia, o patrimônio total dele em empresas é de R$ 600 mil - uma delas é uma holding da família usada para planejamento tributário.>
"Nem meu pai é milionário no Google", diz.>
BETTINA GRAVOU VÍDEO EM RESPOSTA A COMENTÁRIOS FEITOS NAS REDES SOCIAIS>
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